terça-feira, 29 de abril de 2008

• Tótens

O Touro, o Leão, a Águia e o Homem. A roda travou no último aro.


Símbolos, creio não ser novidade, dependem integralmente de quem os lê. Alguns são praticamente universais e falam ao humano que há em todos nós; outros dependem de contexto histórico e cultural. Claro que não atribuo valores humanos aos animais. Estes permanecem equilibrados em seu jogo de morte e vida, onde não cabe moral. Mas símbolos, sempre antropomorfos, devem ser avaliados segundo o único animal que os cria.

Alguém aí já questionou o porquê dos impérios adotarem águias e leões como tótens nacionais?

Não sei. Talvez porque sejam... impérios, oras!
Segundo a leitura ocidental, um império que se preze faz seu papel: mutila, domina, subjulga e, claro, limita. Nada melhor do que calçar o lúdico em seres cruéis, violentos, espreitadores, individualistas e ceifadores, cujo único valor moral é o orgulho - o topo da cadeia.

Pergunto-me como pôde existir (mas não como pôde extinguir-se) uma Mohenjo Daro, berço de um Shiva montado sobre seu fértil e viril Nandi. Uma cidade ornada com bois em cada pilar, em cada utensílio, em cada trono. Touros, animais pacíficos (jamais passivos), herbívoros, naturalmente poderosos, doadores, grandiosos, criativos, numerosos, gregários e nutridores. Ainda assim capazes de pisotear, a sós ou em grupo, gatos atrevidos que ameacem sua paz.

Inconsciente ou deliberadamente, os símbolos estão aí, prostituidos, profanados e banalizados pela mente mundana através fraqueza que é ao mesmo tempo mérito de toda poesia: sua abrangência permite, sem defesas nem fronteiras, que se coloque sob seu território qualquer reino devidamente imposto, pela módica quantia de alguma distorção. Romanos, ingleses, nazistas, norte-americanos... não importa: o mundo É de Direita e os únicos lugares que sobraram aos bois são os currais do terceiro mundo*.



*(enquanto não surge um 4º, claro. Aguardamos ansiosos por uma rapineira importada pra chamar de nossa).

segunda-feira, 28 de abril de 2008

• Kaghanda Yan Dandha vos diz:

"Quem tem fome não pede cardápio"
São Paulo5 : Corínthios 1 (aos 45 do 2º tempo)
Sri Swami Kaghanda
Yan Dandha ॐ
em "O Diário de um Parvo"
Volume I

Editora "Para Gostar de L.E.R."

- 1250 páginas -
ISBN 0394583904-301





Kaghanda vos diz nº1

sábado, 26 de abril de 2008

• O revés da Liberdade

"Falo, falo sim!" - diria Zé Bétio, grande radialista dos tempos do rádio a carvão que sempre despertava minha finada vovó (só não sei se pelos zurros ou por ofertar tanto falo...).
Falar o quê? Já comentei sobre isso aqui no Uaderrel. Incomoda-me notar, no exercício diário de voyeur dessa peça enfadonha, que os mesmos problemas mudam de roupa sem jamais sair do palco: você pagou por um épico e recebeu um monólogo. Não é só a falta de conteúdo; é o pode-não-pode sem acordo do dia a dia.
Ontem, em virtude da charge do Padre 'Djavan' ("também quero viajar nesse Balaaaão"), comentaram que era politicamente incorreto 'brincar' com isso. Se por um lado fiquei lisongeado (ufa!), por outro fiquei curioso com o fato do país inteiro fazer piadas antes mesmo dos defuntos esfriarem, enquanto publicamente impera a lei do "fiz que não vi". Jesus, Senna, Ulisses, Mamonas... até gente mais importante, como o Mussum, não escapou. Em cada boteco, em cada ônibus, em cada sala, lá estava a piada, a maior das homenagens.
Não é só o fato de ignorarem o poder transformador do humor; o que irrita é a onipresente hipocrisia do fri uôrld - "pode-se falar, mas não pode. Sacou?".

É, nem eu.

***

Liberdade de expressão. Não deixa de ser encantadora essa democracia atual, que funciona tão bem tanto aqui quanto na China. O maior conforto desse jogo do "fala que eu te estupro" é poder sentar sobre o próprio rabo. Fale do Tibet e esqueça o Crato, Fale do Morro do Alemão e esqueça New Orleans, fale dos Curdos e esqueça o a África, fale do Haiti e esqueça o Tibet.

Fale e esqueça.
Assim até eu, né mailóvi.

***

Pesos e medidas
Confesso que ainda não entendo essa dinâmica do que atualmente entende-se por liberdade democrática. Fala sem limites, fala-se com limites idiotas, fala-se sem responsabilidade alguma? A confusão instalada alimenta-se dos variados, personalíssimos e mui flexíveis conceitos do que é livre expressão, respeito, responsabilidade e correlatos. Seu marido larga a toalha molhada no seu lado da cama; sua vizinha lava a calçada durante o racionamento de água; o fumante ao lado da janela do restaurante não se importa se a direção do vento leva a fumaça na cara de quem come ("processe o vento; cumpro a lei ao não fumar lá dentro"); um perfil fake na internet ofende alguém (e contraria a Constituição, que veda o anonimato aos pretensiosos tagarelas); fulano discute com você e não escuta o que você diz (Reparou? Enquanto você fala, quando não interrompido, é meramente um tempo a ser usado por ele para pensar na continuação do próprio discurso). E por aí vai.

Veja que não falei das negligências do Estado, da leviandade da mídia, da monstruosidade do capital, do bestial em toda guerra, comercial ou armada. Falo do seu microcosmo, do meu dia a dia, entre nossos pares de privilégio, do grupinho bem nutrido a quem não falta internet, carro flex, celular com mp3 e outros itens indispensáveis à sobrevivência. Nem aí funciona. E Chico diz ao pai pra afastar um cálice que bem pertence à adega da casa, veja só. Pra piorar, o mundo é de Direita (obviamente, mas fica pra outro post) e onde há quem diga, há sempre quem mande calar.


Falo, falo sim.
Assim que puder. Assim que houver respeito.
Até lá, não mais que piadas e algum desabafo.

• Pérolas do marketing oportunista - nº 1


Te dá Aaaaaasas...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

• DepoiMenthos ecumênico do dia:


 É o que digo: reconhece-se um padre pelo colarinho.

 Prestigie você também!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

• Pequenos desafios...

...como o de fazer funcionar um blog cada vez mais calçado no cômico, quando meu espírito na verdade alterna-se numa escala de tons, de sons, de cinzas e de cor.
Sem essa de bipolaridade: esqueça por um minuto os rótulos e as novas doenças da moda sem as quais seus avós bem viveram sem. Desde que o mundo é mundo a alma oscila num pêndulo desatinado, Roda da Fortuna de emoções e contradições. Mas se você se esquece do eixo... aí qualquer carapuça bem serve; tanto faz. Quero falar da alma.
Nunca tive a intenção de fazer um blog até umas poucas semanas atrás e, por começar como uma brincadeira, uma experimentação, só a piada parecia justificar-se. De repente noto nas páginas de amigos um brilho especial de intimidade partilhada, para além do voyeurismo habitual, e sinto o apelo bater à porta. O que dizem, o que sente, me move e me comove.
***
Confessio
No mais sincero de mim há também o silêncio, a melancolia que crê-se sem rosto e por isso subverte-se em máscaras: das mais dóceis às mais divertidas, todas máscaras. São feitas sob medida, silicones de humores moldados com meus relevos e pintados com cores minhas, mas num tom fixo que oculta quando enrubesço, quando brota a palidez, quando domina o sépia, o cinza e o negro.
Bem... há uma certa pretensão, um desejo de segurança em crer nessa espessura. As máscaras não escondem nada; no máximo escamoteiam, transformam em nuance o que de contorno há em mim. Esse translúcido nem sempre é bem vindo, mas nem por isso dispo-me de seus ditos encantos. Por apego, por nele reconhecer-me, posto que obra. Por dedicação ao que a alma deseja, esta que sempre acreditei menos eficiente que o lúdico no ato de encantar e fazer sorrir. Meu desejo de gente alimenta este Eros, ávido pelo olhar proibido de uma Psyché diária que lhe desvele o rosto, fome antagônica de fim e de perene.
Ela pulsa pelas varizes em meu rosto.
***
Recortes
Um dia frustrei-me em tentar um esboço de explicação a uma amiga.
A dinâmica dos que fazem rir ainda que tristes é tino de clown, é espasmo de arte. Não se explica.
Os comediantes e os cínicos, cada um em sua medida, são românticos desiludidos. Se entornam em risos o fel de suas gargantas, se estravazam o desassossego com euforias, se claudicam entre o escárnio e a sabedoria, fazem e não o sabem. Neles há apenas o impulso de transcender um 'Que' maior, que não conhecem e apenas intuem, o sublimar de um jogo perigoso de mariposas, luas e lamparinas.
O palhaço é triste, mas alegra-se no riso alheio, que sabe ser mais do que seu. Busca aquela centelha de entendimento nos olhos alheios, para além da compreensão, para além do riso que manifestam.
Quanto a mim, imerso na filosofia dos inaptos, queria rir através de suas bocas, pois da minha não controlo nem a chuva nem o fogo. E como desejei controle! Nele depositei toda a fé na magia de querer e, pele tecnikos, alcançar. Aprendi: o erro estava em pensar que todo e qualquer controle poderia substituir o enlevo da integridade pega de surpresa. Sem dívidas aos deuses nem preparo nem taumaturgias. Não se pode viver de forjar atos espontâneos, não se pode apreender o feliz que jaz no instantâneo. Vive-se no momento onde se vive e só.
Hoje, todos os pontos sem nó dou ao vento porque, sinto, não há vivência concreta para além desse hálito luciferiano, lascivo, tumoroso, rejuvenescedor e terrível. E rio, e faço rir, pelo prazer da troca. Mesmo quando choro.
É como a Iluminação: dá na mesma, mas não dá.
***

Rir é zombar dos deuses que zombam de nós.
Ri comigo?

quarta-feira, 23 de abril de 2008

• EXCLUSIVO: Furo de reportagem!

A Redação de Uaderrel traz com exclusividade informações súperes supímpares sobre o tremor de terra que ocorreu ontem (22), próximo às 21 horas (horário de Brasília), na costa brasileira. E para analizar as costas, nada melhor do que os nossos colunistas.
Confira abaixo a elucidante matéria especialmente produzida para você, leitor de Uaderrel!

TREMOR DE TERRA ABALA GERAL E BOTA PRA QUEBRAR
Abalo sísmico agita o Sudeste brasileiro

Paulo Francis - Especial para o U.I.
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Psicografado por Mother Dinah


Um tremor foi sentido na região Sudeste às 21 horas desta quarta (22). As cidades superpovoadas da região puderam notar claramente o abalo, de 5,2 graus Celsius na Escala Hitler, durante o início da noite. Alarmada, a população manifestou-se rapidamente e tomou a mais sensata das medidas em caso de terremoto: congestionou os ramais telefônicos das redações. A imprensa local, triste por ter de abandonar o caso Menina Voadora, logo respondeu aos apelos: criou infográficos súperes supímpares e entrevistou especialistas.
Erasmo Carlos (75), o Tremendão, foi um dos primeiros a se manifestar após o evento:
"Bicho, eu tava (sic) lá e pá, começou aquele lance, coisa e tal. Caiu meu cigarro da boca, me queimou a calça. Sabe como é... era uma brasa, mora?" - disse, enfático.

Outras celebridades mostraram sua insatisfação com o ocorrido. Compromissos cancelados, panes na rede elétrica, plantão da Globo no meio da novela, enfim, um caos. O prefeito Nunssab, de San Pablo, no Mérrico, discursou de pijama pelo telefone à redação de Uaderrel: "Ufa, benhê! Pensei que fosse a queda de outro Fura-fila". O governador egípcio Josés Erra procurou minimizar a questão: "Não tremendo meu Rodoanel, beleza". Procurado pela equipe de Uaderrel, o presidente Luiz Inocêncio da Silva afirmou não saber de nada e não quis gravar entrevista. A palavra final de Brasília veio através do novo assessor de imprensa do Planalta, o locutor da Sessão da Tarde: "Esse tremor armou altos agitos e as mais incríveis confusões!" - emendou.
Mohamed Ali (65), ainda trêmulo, afirmou: "Tá tudo tremendo até agora". Abalado, o saudoso Cassius Clay, de passagem pelo Brasil, onde veio ministrar sua palestra Batendo clara em neve em 35 segundos, emenda: "Foram horas de pavor. Nunca mais volto pra Argentina". O público anônimo, apesar de não ser gente, manifestou-se: "Pra mim foi normal" - disse um morador do Edifício São Vito, o Treme-treme, em São Paulo, que ninguém quis identificar.

Apesar do susto, o incidente não provocou maiores danos materiais, exceto pelo Congresso Nacional, que aproveitou para aprovar mais um imposto em edição extraordinária, e Fafá de Belém que, alarmada, viu milkshake brotar de seus úberes. Recuperada do choque, Fafá disse que não purgava tantos fluidos corporais desde o velório comemorativo do assassinato de Tancredo Neves por Glória Maria.
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U.I.





PESADELO NO MAR
Especialistas analizam o caso e concluem: "Sei lá"

U.I. - Especialistas de todo o Brasil investigam exaustivamente o tremor de terra ocorrido nessa quarta-feira (22), na região Sudeste (ou seja, para a Globo = no Brasil todo), às 21 horas do horário de Brasília e tudo aquilo que já dissemos antes na mesmíssima página, mas temos de repetir pra encher lingüiça e completar a centimetragem que o diagramador riscou porque entrou um anúncio de 3 colunas e o Abre de página que levou 12 dias pra ser apurado foi pro espaço e eu não vou botar vírgula só pro revisor ter o que fazer.

O Presidente da Câmara dos deputados, o senador Oscar Kamano (PPSMDBTSol), sugere a criação de um imposto para ajudar os desabrigados no litoral do Acre. "É uma gentalha triste; o populacho chulo precisa de nossa ajuda" - proclamou. Um grupo de meteorologistas convocado pelo Ministério das Minas Pum e os Caras Pá declarou, durante a madrugada de hoje (23), que as causas do tremor ainda são desconhecidas. "Não acertamos nem se vai sair sol no Saara, quanto mais tremores" - afirmam, em nota oficial divulgada no site www.seraquevaidarpraia.gov.br. As autoridades afirmam que medidas de emergência já estão sendo tomadas. "Estamos averigüando e breve estaremos lhe retornando. Por favor, aguarde, sua ligação é muito importante para nós" - disse a opção estrela-nove do 0800 do Ministério das Comunicações. Procurado pela redação, um político honesto não foi encontrado até o fechamento desta edição.

Geólogos e Geofísicos reunem-se nesta quinta-feira (24 - tinha de ser) com uma equipe de engenheiros, físicos e químicos. O chefe da equipe, Ivan Ruivanovich, divulgou sucinta e claramente o cronograma dos trabalhos: "esperamos compreender o conceito subjacente do movimento tectônico segundo o referencial adotado onde há uma conjunção de fatores que não pode ser ignorada, assim que os físicos e químicos pararem de discutir quem faz ciência pura e os engenheiros pararem de comparar quem tem a calculadora científica mais transada. Ou não." - afirmou. Pouco antes de ser chamada para limpar a latrina do 6º andar, Dona Odete (86), a faxineira do saguão, sugeriu: "acho que o epicentro ocorreu na fenda das placas tectônicas do Atlântico, a 270 km do litoral". Os especialistas esperam encontrar uma resposta satisfatória até agosto, logo após as Olimpíadas de Pequim, em Tóquio.
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U.I.




▼ Confira na próxima edição:
• As tendências da moda para o terremoto 2008
• Dicas para aproveitar o mercado imobiliário pós-tremor
• O impacto do terremoto na Bovespa e sua influência na Selic
• Como o cartão corporativo interfere na sismologia nacional
• Hugo Chavez pretende atacar terremoto com discurso inflamado
• CPI do Tremidão convoca Delfim Neto para depor sopre peido devastador
• Bono Vox canta "Isto é Tremendo" no Tibet para arrecadar fundos
• Abalado, Corinthians treme na base e movimenta a Segundona

terça-feira, 22 de abril de 2008

• Intensidade & Intenções

Saudades de escrever aqui. Proporcionais ao esgotamento que rouba as palavras das pontas dos meus dedos. Ainda assim, saudades. Estou cansado, física e mentalmente. Abril nem terminou e já posso tratá-lo como um mês difícil.

Não me entenda mal: é bom lembrar o óbvio de que "difícil" não significa "ruim", apesar da acomodação mundana que nos faz esquecer disso. Enfrentei perdas e intuo outras para breve, mas isso não implica em frustrações típicas. Primeiro porque consegui não idealizar (e sempre que consigo o resultado é melhor do que o sonhado); segundo, porque a ambiguidade dos elementos só desvela sua objetividade quando encarada como um todo. É aquela coisa de não tentar entender o elefante pela ruga no fiofó: ali também há elefante mas elefante não é só aquilo.

***

Abril também foi muito gostoso. Curti a presença de pessoas que não fazem idéia da própria importância nem do poder que possuem sobre meu humor, minha alegria. Fui recebido por anfitriões que fariam o Bush sentir-se bem vindo (não, minto - parte do valor desses anfitriões está na honestidade de não fazer sala por mera etiqueta); estive com os olhos em olhos transparentes e tagarelas, que não cansavam de repetir que satisfaziam-se em ver os meus. Vi sorrisos que as fotos posadas nunca conseguem capturar, ombros relaxados e guardas baixas, evidências dos raros momentos onde podemos simplesmente relaxar e deixar ser. Esses detalhes, essas notinhas de rodapé da minha vida (com mil e quinhentas páginas, capa dura, edição de luxo), permanecem mal guardados na memória, posto que transbordam para o rosto em expressões e sorrisos incontidos. É um fenômeno tão bom que me pego metido numa confusão cronológica: já sinto saudades antes mesmo de vivenciá-lo. Certezas nada hedonistas pero todo-prazeirosas num mundo tão incerto.

***

Quanto mais cedo você abre a torneira, tão mais rápido corre água nova. Então, que seja: já que a forma que a Vida encontrou para perdurar é renascer sob novas sementes, retiremos a casca velha sobre a ferida para que a pele nova respire. Pessoas, hábitos, situações: não há nada que dispense, ignore, passe imune ou mesmo impune à transformação, ou mesmo que não a deseje.

***

Breve, novíssimas e incomensuráveis piadinha infames de dar ódio, assim que eu descansar e/ou enquanto durarem os estoques.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

• Leila Diniz (☆1945 - † 1972)

"Cafuné eu quero até de macaco, malandro!"



N. do B.: Catar piolho nunca foi tão poético.

• Novas evidências da estupidez do blogueiro:

Blogs podem podem ser mortais. Verdadeiras armas de destruição em massa (não confundir com a minha patroa - arma de destruição de massas). Senão, vejamos:

• Um blog pode usar como elemento radiativo o Ácido Sali-cínico, enriquecido com Metaforato de Carapuçamina, ambos aparentemente inócuos mas altamente reativos em contato com Egocentroglicerina instável (de efeito devastador sobre construções vulneráveis, tais como telhados de vidro e correlatos);

• A reação é acionada por um complexo sistema de alfinetes, que utiliza uma terrível engrenagem de omissão de nomes para aumentar seu potencial de propagação;

• O uso combinado de "dizem que", "alguns" e demais indeterminados pode ampliar o alcance do blog, dependendo apenas das condições do território no alvo;

• Seu caráter furtivo torna-o perfeito para terroristas, jornalistas, orkutistas e bundamolistas em geral;

• Não há, até o presente momento, regulamentação nacional ou internacional para controle dos blogs enquanto instrumentos bélicos de baixo nível;

• Não há recomendação da ONU sobre procedimentos a serem adotados em caso de ataque. O G8, no entanto, sugere a técnica do batismo pecuário (também chamado "dar nome aos bois") combinada ao método avestruz (jamais caiba em carapuça alguma ou então enfie a cabeça no buraco - mas cuidado com o popozão de fora, afinal quem tem blog tem medo).

• Evite o Antraz: se a mensagem na carta for ruim, não adianta bater no carteiro.

Em caso de fracasso das abordagem supracitadas, recorrer à fé: evoque Kaghanda Yan Dandha.


Como diria el Rei Robiérto Carlos:
"Por que no te callas, puêrra?"

OBS: Não. Este post não é específico pra você, senão seu nome estaria nele.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

• DepoiMenthos VIP do dia:






Prestigie você também!

★ 04/1998 - † 04/2008

terça-feira, 15 de abril de 2008

• Texto Bonzo para um mundo-cão

E a mídia continua sem assunto. Correm laudas e mais laudas sobre laudos e mais laudos. Seguem-se os infinitos infográficos assertivos com mil e uma demonstrações sobre como a menina explodiu na calçada. Confira, veja, saiba mais. Nem C.S.I. é tão detalhista.
Essas coisas geram novos filões: os hospitais, por exemplo, já pensam em substituir os doadores pela coleta seletiva de papel jornal - é muito mais sangue por centímetro cúbico e não precisa dar lanchinho no final.

***

É preciso muito esforço de semântica pra dizer, com a mais perobística das faces, que falta assunto num mundo com 6 bilhões de pessoas e uma urgência por tudo, que ninguém sabe como começou. Tudo acontece a toda hora. O problema é que o que importa não cabe nos drops, nas notas mentex, dez-por-um-Real; o que importa é indigesto quando cozido junto às matérias-miojo. Qual frase pronta caberia, digamos, numa pesquisa sobre o real funcionamento da Câmara dos Deputados? "Sem propa, nada se aprova - Veja a planta da Casa da Mãe Joana"? Talvez um "confira a via de regra do propinoduto no mapa hidráulico abaixo"?
É. Pesquisar dá trabalho. Tem de apurar, botar frente a frente as versões antagônicas (recuso-me a tucanizar - nesses dias nem rinha de galo existe mais, só galinácios em 'acareação'). Telefone batido na cara, seguranças truculentos (pleonasmo vicioso), amigos e inimigos do patrão, você sabe com quem está falando?, você nunca mais vai conseguir emprego, enfim, um baita esforço. E se você vai ganhar o mesmo piso salarial de sempre pra amanhã forrar a gaiola, então quem sabe o periquito não se importe com o sangue importado da Agência Estado, com o monge queimado da France Presse, com o cheiro de Notícias Populares - sem humor, pra não abrir o apetite.

Ê saudade do tempo em que o Clark Kent saía em pauta com o Peter Parker...

segunda-feira, 14 de abril de 2008

• UP, faiz favoire

Creindeuspai! Este blog anda muito borocoxô, quiçá sinceramente desmotivancte, como diria a Maria.
E por falar em Maria, continuo encantado em revê-la após alguns anos. É sempre um plus saber que aquela sua amiga, que por si já é capaz de fazê-lo realmente mais alegre, cruzou o Atlântico só para vê-lo. Veio cheia de presentes que, não bastasse, demonstram sua atenção com pequenos detalhes surgidos em bate-papos.
É sempre a mesma coisa, graças a Kaghanda. Nos vemos, ela me abraça, chora até o fiofó cair da bunda e dispara a falar e rir ao mesmo tempo. Considere que o sotaque por si já basta para que eu não entenda 50% do que diz e some a isso o embolado de choro e riso que manda pras cucuias os outros 50. Tudo bem; o que vale a pena raramente se traduz em palavras.
Maria é sui generis. Tomar todo um povo por um indivíduo seria uma estupidez, ainda maior quando se trata dela. Maria é européia de araque, a mais brasileira das portugas, sempre prontas para as piadas e provocações que recebe, responde e propaga com humor.
"Ei Maria, trouxe seu gambá na calcinha?"
"Pois sim, ó pa!"
"E o cheiro não incomoda?"
"Ah azar do gambá, ó gajo!"


Pois é, e a Maria trouxe uns dez quilos de bacalhau, pra aguçar nosso apetite por rango e piadas prontas. Quinze minutos e eu já entendia 60% do que dizia, quase mimetizava um 'tu estavas' aos trinta. Aos quarenta, já pensava seriamente em asfaltar a ponte-aérea SP-Lisboa, ou seja, aos cinquenta já era praticamente um alentejano. Só faltava tomar uma tijolada no peito e olhar pra trás pra ver quem foi.

A Maria não é portuga: falta-lhe o bigodão, o lápis atrás da orelha, as tolices das anedotas, os clichês xenófobos das velhas e novas modas. Sobram-lhe amores, vivências, sinceridade e desejo de vida. E ela esbanja, sem medo de parecer ostensiva, toda aquela razão sem razão que a própria razão desconhece. Espalhar doçura sem miguxagem, jorrar ternura sem pieguice é coisa pra poucos. Maria sempre trava o capslock quando o assunto é emoção.
Uma pequena epifania brotou de um sonho lúcido: olhei pra piscina e vi um duende loiro cercado de gente por todos os lados. Era a Maria, mais brasileira que nós mesmos, a cagar sobre as fronteiras e a sublinhar o que interessa.
Que faço eu com tudo isso?
Aproveito até o final do mês, quando teremos de devolvê-la (não sem antes cogitar o rapto).

sexta-feira, 11 de abril de 2008

• Tá quase

Mais um pouco e perderei um grande amigo.
Vai fazer uma falta impensável. Eu tento me acostumar com a idéia da finitude das coisas, mas é difícil. Mesmo a aceitação da minha própria, fácil de ser dita quando se é jovem e presunçosamente conta-se com a distância do tempo, é irrisória perto desse aprendizado forçado de enterrar entes queridos.
Acostumar-se sem endurecer o coração? Sei não. De qualquer modo, quero continuar meu apego apesar das perdas, pagar o preço por falta de opção melhor e porque viver envolve seu fim.
Só perde quem teve. Dói pra cacete, mas é melhor que o vazio.
De qualquer forma ele chega; vem quando eles se vão.
Mas Amar é mais que prorrogá-lo. Vai além do interlúdio entre o pó e o pó.

***

Pra onde vai aquela altivez toda às nove da manhã? Sua simpatia para com as dores do caminhão de gás?
Cara simpático, é inegável. Bonachão. Farrista, botava panos quentes nas brigas ciumentas. Ariano orgulhoso, pacífico. Também, não tinha porque estressar: harém exclusivo, comilança, privilégios. Puta vidão. Não sei como vai ficar aquela escada-pedestal, sem ele, que espasma lá fora e quis recolher-se.
É. Vou enterrar muita gente, meus mais velhos, meu pai, minha mãe. Muitos amigos, real e simbolicamente. Vi e verei mais mortes, até virar eu mesmo uma lenda sobre mim e um testemunho fóssil para gerações que mal me saberão Eu - talvez pelo prisma de uma profissão antiga, como ser avô num quarto ao lado que bem daria uma ótima sala de video se eu não estivesse lá. Terei tempo para adivinhar o que meus anciãos passam e passaram. Mas hoje meu olhar vai pra ele, só pra ele e pra saudade dele que já flui em gemido, marcada e fina como sua respiração frágil.

***

Já dei meu beijo. Já dei meu tchau. Esses tchaus podem durar horas, mas não adianta: são desejos de reencontro da minha mente arredia que sabe-se fútil.
Provavelmente vou matá-lo em nome de sua paz. É um crime que cometerei sem medo se significar descanso. Há alguém que não merece desandar sobre as próprias fezes e por ele eu me nego a qualquer egoísmo. Porque foi o máximo. Porque foi O Cara. Porque me deu, nesses poucos anos, a mais íntegra pureza que jamais terei, posto que gente. Ele me olhou nos olhos e eu entendi. Ele disse:
"Guarda a sinfonia de uivos na memória e ri quando o caminhão do gás passar".
Guardo sim, amigo. Guardo também nossas lutas de sumô, tu com meio quilo nas minhas mãos, enfrentando bravamente meu polegar-leviatã. Guardo e corro o salgado no rosto que eu, macaco latino e chucro, só deixo rolar a quem muito merece.
Amanhã decidiremos tua hora. A hora em que eu, nesse momento de tantas perdas paralelas, só terei peito pra chorar a sua.
Queria que mais me fizessem tão piegas quanto você acaba de fazer.
Vou uivar pra você esta noite e junto da nossa alcatéia, lamentar.
Obrigado por adotar-me, Amigo.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

• Reverberações

Adoro lê-los.
Houve uma época da minha vida, aquela onde nos encantamos com a nossa própria voz, em que incomodava-me encontrar nas bocas alheias os sons 'tão meus'. Chavões, pensamentos, não importava: o senso de posse só não era maior do que a ilusão de importância. A 'apreensão indevida' atrapalhava minha busca por identidade e ofuscava as recém-descobertas nuances, assim cria. Era natural (não que isso justifique qualquer estupidez) a preocupação com originalidade numa idade e numa Era onde ser toma ares de exigência, quase um cruel pré-requisito social. Redescobri Américas tão virgens quanto Mata Rari e contei vantagens.

O tempo passa, graças a Kaghanda.
Um dos meus prazeres íntimos tem sido encontrar, nos ditos de queridos ou nem tanto, reflexos e reverberações das ondas que já passaram pelos meus dedos e cordas. E que, compreendo, vieram de outros lugares, retransmitidos pelo mar sem orla dos relacionamentos. Repassei; se o fiz com acréscimos, participei com algum tempero, boa fé e nada mais.
As minhas palavras suas. Nada é integralmente meu nesse jogo de compartilhar e isso provoca justamente o mais paradoxal dos efeitos, onde tudo parece recipiente e conteúdo. A consciência, seja o que for, é global como tudo no mundo das idéias. E eu, neurônio de emoções, encantado com todas essas fagulhas elétricas que dão sentido ao que não tem, gosto da sensação tátil de pertencer.
Pensando bem, nesse tempero depositei a mim mesmo ou não seria capaz de reconhecer, nas reverberações, os aromas únicos dos novos 'donos' tagarelas. Então evito a falsa humildade de dizê-lo pouco e nada mais, posto que reagem ao seu gosto aqueles a mim mais preciosos. É assim com os reflexos: a gente quase acredita que há muitos sóis na superfície da água, quando agitada.
O que digo hoje, o que regurgito, segue com minha saliva para outras bocas e orelhas, interfere em destinos os quais não vislumbro e volta a mim em garrafas de náufrago.
Essas garrafas também encantam-me a ponto de não sabê-las brincadeira na piscina ou S.O.S. no oceano. Talvez ambos, não sei e não importa. O prazer está em respondê-las, o enlevo está no tráfego de mensagens em casulos de vidro que boiam pelas ondas de idéias, sonhos e emoções, todas nossas e de ninguém.
Narciso sempre foi Rio.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

• Tiro Al-Qaeda

Como diria o plantador de maconha, "vale a pena verde novo":

Após tantas receitas "tiro e queda", começo a crer que ocêis querem mais é que eu morra baleado. Não que eu não adore uma automedicação mui salutar, afinal sou brasileiro e não insisto nunca, mas...

Aproveito e pergunto:


O que você diria no velório do Bush?

a) era tão bão pas pessoa
b) parece até que está sorrindo
c) é, pra morrer basta estar vivo
d) tá morrendo gente que nunca morreu antes
e) era um grande homem
f) agora descansou


Confira o resultado da enquete logo após a novela Calabocla!

***

Para (dis)pensar:

"Tem gente com síndrome
de tatuador de presídio:
Vive de fazer caveira"

terça-feira, 8 de abril de 2008

• Pautas

Nem sempre é fácil escolher qual assunto merece a capa.

Definir prioridades é talento sutil, que envolve encontrar, entre a enxurradas de notinhas e o barulho das frases feitas, quais são aquelas dignas de menção, quais explodirão no futuro e quais mal servem para separar o horóscopo do Sodoku.

Ou não. :)


Dito a alguém por quem meu grande carinho só não é maior do que minha indignação e impertinência, e repetido aqui porque eu também preciso me lembrar do que digo, já que me atrevo a ser tão palpiteiro.

• Para evitar Elegias

Se você for ocidental, de origem cristã e filho de imigrantes, há grandes chances de já ter presenciado o milagre da beatificação post-mortem. "Ele era tão bão pas pessoa" sempre acompanha o "ele parece estar sorrindo" entre um e outro cafezinho com piada de papagaio tomado sobre o defunto. Segundo minha tia, até o Pinochet ficou mais angelical com aquele cravo branco na lapela, combinando com o algodão na fuça.
Pois bem, entre tantas pérolas da sabedoria popular a ribombar pelos velórios brasucas, sinto-me no preguiçoso dever de economizar meu tempo e homenagear quem amo ainda em vida. E, se possível, mentir bastante ao dizer que esses mequetrefes traquitanas que não valem um vintém são a última bolacha do pacote. Até porque, do meu são sim.

***

Começo pelo Vini, um suposto amigo que usou de chantagem emocional para comigo, com o único objetivo de fazer-me parar com os trotes na Redação. De modo calculista planejou desviar-me a atenção com assuntos menores tais como amizade, amor, filosofia e botecagem.
Ele, que incitou-me a realizar maldades que dariam justa-causa, que tornou-me comparsa de crimes hediondos (tais como encher de sal na pasta de dente do Agostinho ou anunciar o Voyage do Fabiano a preço de banana - o celular do cara tocou por três dias), que já inverteu e desplugou TODOS os cabos do meu computador, que passou creme de mão no gancho do meu telefone pra melar minha orelha, que perdeu as contas das tantas montagens com fotos minhas no Photoshop (em corpos de anão, em potes de Yakult e demais situações deploráveis proibidas para o horário), que já colou quilômetros de papel com recados nas minhas costas, que já jogou sal no meu suco e azeite no meu pudim no refeitório, que já encheu os bolsos da minha blusa com clipes, que já entupiu o sensor ótico do meu mouse com papel carbono, que talhou alcunhas depreciativas tais como "pequinês do diabo" e "pão de queijo - redondo e azedo", entre outras demoniagens. Ele, senhoras e cenoures, não me deixa mais zoar com a devida proporção e, desgraça das desgraças, não revida nem responde ao desafio. Virou miguxo.
Como posso eu, ávido em minha honra, ser ignorado na minha tentativa de fazer justiça?
Acompanhe comigo no tira-teima:



Este é o alho que o Vini deixou em cima do micro para afastar mandinga. Ou era.
Sabem o que ele fez? Riu, se riu. Enverguei seis, SEIS, minhas senhoras, grampos de grampeador, sob risco de ferir meus dedos, para receber não mais que uma risadinha ou, quiçá, um comentário do tipo "ficou da hoga". Minha obra, um masterpíce da malignidade em nome da justiça, praticamente um atentado à crença e um crime constitucional, ficou lá decorando sua mesa ao lado da sua violeta na qual já mijei (mentirinha hehehehe*).
Tudo bem. Blogs são vinitres do ego onde falamos de nós mesmos e isso tudo foi só pra dizer o quanto EU sou amigo desse fascínoga, desse ingagato, desse mequeteguéfe lazaguento, tagatante e demais ofensas que só não digo porque jamais desceria ao nível de zoar em público sua língua peguesa.

Vini, seu emo, te zoei por uma década e espero poder colar silvertape no teu braço peludo pelas próximas. Torço avidamente (e não aviadadamente, não se empolgue) para que um de meus últimos atos seja botar minha dentadura na água da sua caneca profissional.
Abagaço desse amigo que te ama e na verdade só está no mundo pra compensar sua maldade.


* amanhã ele vai cheirar pra conferir, anotem aí.

Espaço publicitário:
Para evitar Elegias, diga hoje mesmo.
Para evitar alergias, use Minâncora.



• O bom da enfermidade é o mimo - parte III

Alguns continuam a estimar minha melhora. Outros querem que eu morra em pústulas, mas não vem ao caso. A maioria não está nem aí. Nove os fora, o fato é que estou melhor apesar da insistência bacteriana (não é minha culpa se atraio todo tipo de fãs).
Tive também alguns insáitis supímpares.
O primeiro deles:
"jamais confie em promessa de doente"
É tudo da boca pra fora. Sabe aquele cardíaco moribundo na U.T.I.? Esqueça, ele comeria sim todos os torresmos contra os quais blasfemou se houvesse segunda chance. Se até o Pedrão negou Jesus antes do galo cantar, que direi eu quando a jurupóca pia? Tô fumando quase na mesma quantidade de sempre, logo se eu aparecer aqui um dia chorando meu câncer no pulmão, mandem-me tomar na boca por onde não fumo.

O segundo insáiti mefistofílico e não menos escalafobético:
"'Virose' é o nome que os médicos dão ao 'não sei, mas toma isso que tá joínha'"
Isso abrange, claro, todos os demais casos onde o remédio ministrado também (e principalmente) não faz efeito, o que a torna uma virose rara, ainda que bacteriana ou auto-imune. Melhor que isso, só pagar pra ouvir dessas.

O terceiro e último, até o momento:
"Não importa o grau da doença: teus inimigos (e o patrão - pleonasmo) dirão que é frescura; teus amigos (que bebem e fumam contigo) dirão que você não se cuida; e sua mãe nunca, JAMAIS acreditará que você já melhorou e não precisa da maldita canja com chá de boldo"
Em maior ou menor grau, oscilam entre tais patamares todos aqueles que invariavelmente amo, ou porque se preocupam comigo (e é sempre bom saber que nesse mundo cru há de fato quem se importe) ou porque, no mínimo, deram-me receitas caseiras em quantidade suficiente pra escrever um livro de fitoterapia psicohomeopática superalternativa que me deixaria multimilionário, quiçá um bestseller no segmento.

Espero terminar aqui meu último relatório enfermo do ano (preferencialmente da década, se não for muito otimismo) e partir apenas para comunicados com oito vitaminas e ferro e muito ômega-3, uatéver it bí.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

• Comitê Avaliativo dos Grupos Ativistas Da América

Em virtude da breve chegada do Amado Mestre Kaghanda Yan Dandha no Brasil (vide infra), que retorna de sua World Tour pelo Mundo, um comitê foi preparado por membros da mais alta estirpe psicosociocultural planetária para avaliar o potencial de recepção do Evangelho do Novo Aeon por parte da população brasileira. Tal medida visa ajustar, em ritmo e métrica, a Mensagem do Mestre aos ouvidos nacionais. Para tal, o Comitê Avaliativo dos Grupos Ativistas Da América (a.k.a. C.A.G.A.D.A.) elaborou um portentoso tratado científico que pretende compilar, em formato documental, informações de inegável importância às futuras gerações.

O dossiê, apresentado à ONU em powepoint com ícones fofuxos e muitos gráficos de excell, classifica e determina os tipos e subtipos nos quais a fauna humana se reune, comunga e evolui.

É com um incomensurável enlevo e estrogonófico prazer que apresentarei aqui, com exclusividade e durante as próximas edições, fragmentos e excertos (ó que chique, maínha!) desta magnífica obra jamais realizada por qualquer Ibope ou IBGE.


Contenham vossa ansiedade e Aguardem!

sábado, 5 de abril de 2008

• NEWS! Lançamento do Site Kaghanda Online!

É com um incomensurável e recalcinofolejante prazer que anunciamos: o website oficial do Amado, Idolatrado, Salve, Salve Mestre Kaghanda Yan Dandha já está no ar, trazendo novidades e dicas transcendentais súperes supímpares para você evoluir o espírito e arrasar no Verão!


Saramaléin!

quinta-feira, 3 de abril de 2008

• Gota d'água

A gente tem medo demais de algo que, se por um lado é bom que se evite, por outro não devia ser ignorado quando mostra-se evidente. O destempero, a cólera, o grito... incomodam muito, mas não mais do que a pressão vivida pelo seu balde antes de transbordar.
Há finais de estágio de todos os tipos e esse é tão válido quanto.
Não segurar o vômito é pensar no próprio estômago. Não precisa ser na cara de ninguém (bom... talvez se esse alguém meter-lhe o dedo na garganta, mas esse é risco assumido ao fazer). Ainda que você sinta que só está alimentando um jogo que te enoja, ao reagir com algo mais que o desprezo, isso é mais honesto e saudável do que tentar ser tolerante sem sê-lo. Creio que os limites do meu estágio atual devem incluir todas as suas fronteiras no cardápio; mostrar-me "superior" seria desfilar com a bandeira de outra nação. O dia em que eu for de fato, pode ser.

É. Fugir da briga, como tudo, depende de contexto.
E hoje o meu é a fúria.
Purgada seja para que não dure, até que eu aprenda a viver sem ela.

E piririm, e pororom.

terça-feira, 1 de abril de 2008

• O bom da enfermidade é o mimo - parte II

E os votos de melhoras e rápida recuperação, pelos quais agradeço, não param de chegar de todos os Rincões do Brasil. Reproduzo aqui mais alguns*, sempre devidamente acompanhados das mais recalcinofolejantes recomendações:

"Ô seu bosta, doente de novo? Onde cê comprô o pulmão tinha pra homem? huahuahuahuahua"
Anômimo

R: Por quê? Seu namorado precisa de transplante?

***

"Ó gajo, metes uma panela de água com folhas de eucalipto a ferver, uma toalha entre a cabeça e a panela, inala profundamente os vapores, depois chá de gengibre muito forte e uma colher de mel com própolis. Tiro e queda... agora não te metas ao computador que isso desvitaliza. o teU CAMPO ELECTROMAGNÉTICO PRECISA É DE VITALIZAR."
Anónima

R: Agradeço pelo carinho! Não entendi lhufas mas nossos tradutores estão decodificando a mensagem e em breve estarão respondendo.

***

"Experimente o supositório Chulanta. Pode não melhorar da virose, mas você vai voltar a sorrir."
Antônimo


R: Ah emoção! São essas manifestações de apreço que fazem-me desejar pra vocês em Euros o que desejam pra mim em Cruzeiros! Cada um recomenda o que prova e aprova ou, em outras palavras, urubu quando quer bem oferece carniça. :D


***

Beijos, abraços e sopapos nos testículos.


P.S.: Aguardem! Em breve mais mensagens diretamente do velório!

* Os nomes, CICs, cartões corporativos e diâmetros foraminais foram mantidos no anonimato para preservar os depoentes.

• Sorte de Hoje:


Sorte de Hoje:

"Divida sua
felicidade com
os outros
hoje mesmo"




Pronto. Reclamem com o orkut!


• Propósito

Esse tópico sem dúvida vai distoar dos demais. Além disso tá cheio de "eus" e "mins", purgação e refluxo. Se você está sem pique pra papo brabo, pule pros anteriores ou aguarde os próximos.

Dei sorte. Trombei com o fantasma da morte no Dia da Mentira, veja só.
Hoje finalmente caiu minha ficha. Encontrei o final de um conto que um dia parei de escrever. Quero entrar no mérito da questão e não ater-me ao fato isolado (até porque mal consegui aceitá-lo).

Esta existência é uma completa, total e irrestrita merda sem companhia. Fala-se de solidão, de estar só, disso, daquilo. Mas não falo de um mero idiota coisificado a pasmar do seu lado enquanto o tempo passa. Falo de viver para o outro, de fato, com a devida medida. Falo do Papel integral.
Não se trata de sacrifício da individualidade, isso é mero romantismo estúpido. A medida com o qual reflete é única como uma fase lunar sem a qual não há outra. Muito menos falo da 'toda-abnegada' caridade ocidental para inglês ver. Pra entender, repito uma pergunta:
"Tente contar sua história pessoal sem citar uma única pessoa além de si.
Conseguiu?"


Eu nunca consegui. E nunca fui tão plenamente feliz por ser incapaz de algo como nesse caso. Eu não imagino a mim mesmo sem cada uma das grandes presenças que formaram meu dia-a-dia, meus pensamentos, meu caráter, minha emoção. Nunca pensei que tocaria a felicidade ao descobrir-me tão dependente, nem em encontrá-la na dor.
Penso nos meus amores. No ódio aos seus defeitos, às qualidades que me ferem, às repulsas que provocam. Na fome que provocam-me, um a um. No quanto nutrem a mim. É uma simbiose tão magnífica que, nessa teia de esmeraldas que refletem-se entre si, fica impossível dizer onde começo e onde termino, o que em mim é luz original e o que retribuí em lampejos.
Claro, a luz pessoal existe. E?
Existe para Lucifer também, e no entanto sua caça bilenar envolve a fugacidade de Outra. A Sua nunca lhe pertence, não nasceu para si. A questão é que não importa o que você é (e principalmente o que você acha que é), e sim o quanto brilha e rebrilha. O quanto troca.
Perfumarias. Dissolver o ego, sublimar a existência, bla bla blás esotéricos, psicologias de buteco, doutrinas quânticas e muita filosofia sobre o Nada jamais serão minimamente coerentes com o foco. Às mesmas recorremos sempre que nos perdemos. E só.
Viver é recompensa e fardo em si. É o Paraíso do Inferno. Você está aqui, fruto simultâneo de acaso e destino, pra viver, pra se foder de verdade, pra amar com o desespero de um Deus, posto que homem. Pra perder tudo e, ainda assim, reafirmar a vida. Pra ser amarrado na árvore por sete dias. Pra fermentar no sepulcro por três. E para amar em todos.
Faça-me o favor de perdoar minha ignorância, tolere esse momento. Não me venha com chorumelas sobre fugir do amor. Não tenha a pretensão autopiedosa de poupar os outros de sua presença, nefasta ou não. Não tenha o atrevimento, a displicência, jamais, de vir na minha orelha vomitar sua pretensa fome de libertação.
Cansaço é a puta que pariu. Só o mais estúpido dos estúpidos (e todos disputamos essa função frequentemente) permite-se abrir mão antes do tempo. E esse tempo quem decide é Além. Sua alma, como a minha, quer a perdição do desespero, do sofrer a perda (exclusiva dos que tiveram), da vida no talo, até a última gota. O espírito procura o paraíso da Alma e nada mais. Amamos essa escravidão, é para isso que fomos feitos, do primeiro anjo ao último homem.
E não só homens. Todos aqueles que travaram o Verdadeiro Contato, o olho no olho que supera toda a dicotomia entre interesse pessoal e ética coletiva, sabem, sentem e precisam do outro como de si próprios. Para além da razão, instrumental prolixo a que se atribui função para a qual jaz incapaz.
Eu não quero fugir de Maya. Eu sou Maya. Cada parte de mim passível de chamar-se EU está diluída, formulada e nutrida na Mãe. Se eu quisesse continuar imerso no Todo, não tinha saído de lá, não tinha iniciado o processo do querer inerente ao que É. O Desejo, o primeiro Verbo, ecoa pelo universo e em mim. Dispenso todos os atalhos, toda a esterilidade quântica, todos os favores do oculto, todos os
magus e seus devaneios: minha terra é a devastada, onde sangro e misturo-me. E frutifico.
Não há lugar a chegar senão Aqui, Agora. Quero Estar onde estou.
Não serei eu o ator vagabundo a estragar a Peça pelo qual existo. Nela, até o fim, com os meus. As coxias jamais importaram, encaro após os aplausos. O Melhor de mim flui sem controle nem lapidação.
Pueril manifesto automático e vociferado: foda-se o Absoluto.

Apegado, febril, colérico. Vivo. Como os que amo, pelos quais sangrarei os litros que não tenho. Porque nada tenho senão o desejo de posse dos meus para comigo. De ser pertencido.
É com profundo orgulho que me entrego aos meus donos, cada um deles. Dói. E é pra ser assim.
Que eu corresponda e que jamais me furte a viver. Que a coragem jamais ceda ao cansaço e ao medo. São minhas únicas evocações. Auto-evocações. Eu, quasar de mim mesmo, quero os brilhos que me ofuscam. Para todo o Sempre a que têm direito os abençoados com a finitude. Honrarei a horança de Dionisio, meu único Deus, que abençoou-me com seu nome. Amarei novamente a cada morto que me escapa, arraigado, profundo e vivido. Porque o todo do Absoluto que me interessa são as partes que decidimos ser. Esta é a nova forma de sermos Um e esta, sob nenhuma a outra, é a que vivo.
Enterro cada um dos que amo com a certeza de fazer tudo novamente, aqui, no mundo onde estar juntos é mais do que semântica.
É fato.

Felicidade é ter propósito.



Pronto. Voltemos à bipolaridade de costume: tópico up na sequência. Létis plêi aguéin.