quinta-feira, 30 de outubro de 2008

• Sim, doutor*

Tem coisa mais intrigante
que diálogo com médico?


(Tem, mas vamos fazer de conta
que não, pra não estragar
meu recurso narrativo):


_"Não há nada nos exames. Seu problema é tensão".
_"Que bom! Pelo menos não é virose!"
_"Como?"
_"Nada, só tô pensando que 'não tenho nada', mas 'tenho de'..."
_"Você tem de evitar o stress".
_"Ó aí, num falei?"
_"Não fique nervoso ou tenso. Seja sereno".
_"Tô quase lá! Vivo caindo de madrugada."
_"O stress prejudica o organismo, fuja disso".
_"Sério, doutor? E o convênio cobre a passagem pra Júpiter?"
_"Você tem de buscar qualidade de vida".
_"Quanto ela custa? Posso usar o dinheiro que só ganho com stress?"
-"Você tem de adotar uma postura saudável, evite industrializados
e conservantes".
_"Ah sim, vou ali na minha fazenda bucólica e já volto. Posso te pagar com alface orgânica?"
_"Uma vida saudável envolve evitar também o cigarro, o álcool, drogas, gordura animal, gordura vegetal, massas, açúcar e condimentos".

_"Faz sentido! Evitar viver evita morrer!"
_"Evite também o sedentarismo".
_"Qual a sua ópera preferida?"
_"Evita. Por que?"
_"Nada não.
Água pode?"
_"Mineral, de boa procedência".
_"Torneira da Deca serve?"
_"Bem... cuide-se, pois o stress pode matar".

_"Boa! Vou pedir pra ele dar cabo do meu financiamento do apê".
_"Veja bem, a medicina está aí para apontar caminhos. Você tem de fazer por onde".
_"Estressaaaante, né doutor?"
_"Nosso papel é ajudar a humanidade em sua busca pelo saudável".
_"Ajuda bem vinda, doutor. Pode receitar estricnina pro meu chefe?"
_"Olha... vou receitar-lhe um calmante suave".
_"...ele cura a fatura do cartão?"
_"Tome. Isso é tudo o que a medicina pode fazer".
_"...O que me faz perguntar por que vim aqui, afinal! Ah sim, pra tomar."
_"Bom, seu tempo acabou, a consulta é R$ 200".
_"Cobra 400 que de ouvir o preço tô infartando..."


*Homenagem à Karin (bem vinda ao clube!)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

• 31 aninhos - parte 2

Vejam só, senhores e cenouras...
Eu o encontrei. Treze milímetros de pura e alarmante palidez.
70 micra de inexorável realidade, dura, crua e alva. E pichaím.
Isso mesmo: pichaím, pichincheba, carapinha. Lá estava ele, em sua arrogante crueldade, a destacar-se dos demais, cheio de empáfia, em riste, a dizer-me impropérios em seu silêncio.
O pequeno canalha fez-me curvar. Algo tão pequeno fez-me tombar a cabeça, franzir a testa, olhar de baixo para cima para fitá-lo. Tivesse ele uma boca, sorriria seu sarcasmo de mil dentes, brilhantes como a prata.
Era ele, o Velho. Tal qual lança de Chronos, cravado no doze das horas, bradava sua soberba sobre minha cabeça. Algo tinha de ser feito.
Acompanhei mentalmente a trajetória de longos segundos do meu antebraço. Trazia minha mão à linha de frente, onde encontraria seu dever patriótico. Sincronizado, meu exército de dois guerreiros cercou o inimigo. Polegar e indicador, tenazes na batalha, envolveram o meliante.
Um momento, um silencioso e hesitante momento. A trêmula expectativa que precede o crime de guerra. Agora ou nunca. Dia D. O primeiro 'tunc', um soquinho, uma estiradinha. Treino. Vamos lá.

O criminoso lançou-me um olhar frio por entre meus dedos.
Foi então que, cinicamente compadecido, sussurrou:
"Se preferir, eu caio...".
Perdi a batalha. Desisti de arrancar meu primeiro cabelo branco.
Convenhamos, foi um puta bom argumento.

Bem vindo, Cid Moreira. Antes tu do que o Esperidião Amin.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

• 31 aninhos

"Bela @!"
...como diria minha avó.
Eu sempre fico azedo em aniversário. Ah sim, claro, muito bom estar vivo, ser jovem ainda e todas aquelas frases que se espera do aniversariante como manifestação de gratidão a Deus, etecétera et all. Mas confesso que, como um bom cavalo em parada militar... caguei e andei.
Eu estava azedo antes do dia 27 e neste dia nenhum milagre, nenhuma revoada de pirilampos, nenhuma aurora boreal ou holofote divino alumiou-me a fronte e a tudo mudou. Acordei, levantei, dei uma boa mijadinha e lá estava eu num dia comum. Só.

Às vezes a gente diz que não se importa com uma data, mas fica só esperando se alguém vai lembrar - se até tal hora ninguém disser nada, as sobrancelhas envergam-se e a coluna também. Mas hoje, quem não lembrou fui eu mesmo; no domingão, não tinha parado pra pensar se cairia na segunda ou na terça.

Não me interprete mal, nada de ingratidão nestas linhas. É cálido, reconfortante e valioso receber tanto carinho verdadeiro entre os costumeiros parabéns pro-forma e demais azeites sociais. Só pela web, recebi mais de 200 votos de paz, sucesso, amor e luz (mas só aceito se não tiver de pagar os Kilowatts), todos muito bem vindos e pelos quais sou grato, de coração.
Eu sei e sinto que há gente que simpatiza comigo (pretensioso, atrevo-me a dizer que até gostam mesmo de mim) e isso sem dúvida tem muito valor para mim. Ocorre que tem todos os dias, não só no aniversário.
Com o passar dos anos, a importância das datas comemorativas simplesmente foi perdendo seu valor intrínseco. Por si, nada mais dizem - são quase um espasmo social, que aparece como obrigação e desaparece com a naturalidade. Por exemplo...

Quer coisa mais mala do que o Natal?
Putaquilosparóla, mai frénds. Comer calorias de inverno em pleno calor de dezembro e botar algodão no enfeite da porta ("olha a neve, maínha!") pra pagar pau de europeu. Gastar o dinheiro que vai faltar no IPVA (que vem na sequência em janeiro), entulhar o duodeno e 'fazer o esquenta' para a mesmíssima comilânça no almoço seguinte (e no Ano Novo). Chester, rabanada, amigo secreto e abraços à meia-noite (talvez com aquele pulha que não olha na sua cara nos demais 364 dias do ano, mas que supostamente 'regozija-se' com a sua presença - pode crer, ele preferia abraçar a mulher-melancia). Ah não, né.
Não há nada mais artificial entre os feriados (talvez as Eleições, mas nessa não se comemora nada). Óbvio que nem sempre foi assim. Aliás, esse fato é parte do que acredito no momento - que certas festas só têm sentido se você for criança ou tiver alguma por perto. Sem balelas como 'criança interior' - a menos que você seja um pepino-do-mar mongolóide, não deve crer mais no Papai Noel e nem vai esperar pelo ferrorama embaixo da cama. Falo das crianças reais, aquelas que enchem a casa com risos - a festa é delas. Seja em qual festa do tipo for, é sua a alegria com o bolinho, com os amiguinhos, as bexigas, as cantigas, o enfeite, os brigadeiros e o CD do Cocoricó que os adultos, pelo exclusivo prazer em vê-las felizes, toleram com um sorriso nos lábios (se for do RDB, aí é pré-adolescente e você pode mandá-lo à merda).
Dá gosto ver criança em festa familiar, é pra ela o Papai Noel e o crediário do Playstation.
Nada mais.



"...Mas Denis, o Natal é a comemoração pelo nascimento de Cristo, quando celebra-se o amor transpessoal daquele que morreu por nós. Eu sei que você é ateu, mas pelo menos deves ver algum valor em estar junto dos parentes, não é?"



Claro que sim, Tinky Winky. De alguns, pelo menos. Mas... você precisa mesmo do dia 25 pra isso? Se qualquer pretexto é pretexto, devo esperar o ano inteiro? Por que não no Halloween? Ontem mesmo disse ao meu irmão que o amo. Souáti?
Sejamos francos: religioso de verdade o é todos os dias do ano, não só em domingo e natal - e a religiosidade não está entre os primeiros itens que vêm à mente quando se pensa nessas festinhas. Na Páscoa, ovo de chocolate; em São João, quadrilha e quermesse, pipoca e pé de moleque; no Natal, Tender e Panetone, presente e árvore de natal.
O presépio?
Uadefóqui isdét?
É isso aí. Todos dizemos dane-se à manjedoura (que eu nunca tive a curiosidade de saber se é o berço ou a casinha de palha), bem como fodam-se aqueles que não têm pai no dia dos pais, nem mãe no dia das mães, e que nesse dia vão se chatear em dobro. Foda-se quem vai comer sopão de evangélico com crise de consciência nesse dia (se cagasse aos pouquinhos, teria sopa pro resto do ano!). Foda-se quem vai ganhar meia ao invés do I-phone (até porque há quem não ganhe nem meia).
Taí! Natal é a festa do Foda-se!
Mais um pouco e começarei a gostar!

Tradições são confirmações de uma realidade que, se não me pertence, nada confirmam. E a cristandade do povo não anda lá essas coisas para afirmar que o Natal tem alguma profundidade além do que está na mesa e no pé da árvore de vinil.
Ultimamente, a festa nem pode ser muito diferente disso - se assim, com toda a firula habitual, já é a data com o maior número de suicídios no planeta, imagine se fosse levada a sério... dói menos quando se pensa que é apenas o dia de gastar dinheiro e encher a pança.
Este esvaziamento de sentido, que pode ser do mundo como pode ser só meu, sinto-o como real. E, curiosamente, não sinto falta de sua contraparte. Me faz bem dar flores e presentes fora de data, telefonar por saudades e comemorar sem motivo algum. Gosto de evocar os símbolos no momento em que se fazem necessários e não o contrário - esse marcar datas para recomeçar a vida, para renascer ou valorizar alguém, a mim, é o mesmo que o regime dos eternos gordos profissionais, que sempre começam na segunda-feira, depois do churras do domingo (e olha que decidem isso na terça-feira!).

Eu agradeço pelo carinho nesse dia. De verdade. Mas agradeço muito mais pelo carinho que, no resto do ano, sem precisar de lembretes no orkut e no Outlook, vem íntegro, terno e vivo como o nosso amor, que teima em brotar no asfalto do mundo e... vejam só! Não é que dá frutos?


Beijocas Lemon (pero nada Ice).

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

• Notícias do Front - nº2

Eu de novo...
(jura, Denis? Você, no seu blog?).
Pois é. Quase senti saudades!
Ando um tanto acabrunhado, num misto de tédio e esgotamento pelo turbilhão dos últimos dias. Acrescenta-se aí mais uma evidência da estupidez do blogueiro: o mundo tá desabando e você se pergunta se não deveria escrever sobre isso no brógui. Pois eu me perguntei, perguntei e a resposta foi um "nhaaaaaw...". Mas não se engane, leitor! Não foi bom senso, foi desânimo mesmo.
Desânimo porque, muitas vezes,
dizer é não mais que chover no molhado.

"A polícia errou no caso Eloá" (e não, eu não a conhecia só porque moro na mesma cidade - juntamente de outras 800 mil pessoas), "a TV tem tanta ética quanto a Gretchen tem hímem", "o capitalismo está em falência", "o nível das Eleições está mais baixo do que nunca", entre outros clichês...
Ah não, né? Se não ando no melhor momento pra brincar com meus Exus pelo reino da Bloguelândia, ao menos vou poupá-los (ou poupar-nos?) desses dissabores midiáticos.

Não seria mais divertido discutir se o Nostradamus foi racista quando "citou" o Obama nas Centúrias? Ou cronicar e poetar aquelas pequenas agruras do cotidiano que nos aproximam? Expor pequenas intimidades, sonhos, medos e pensamentos?
A gente sente falta dos mitos, das cantigas, das almas das filosofias. Talvez queiramos uma folga do secular e do pontual, mais do que apenas alternar entre o banal e os sensacionalismos premoldados da rotina monotônica. Não ao ópio, sim ao açúcar. Ao sabor que encorpa o meramente nutritivo. Não à alienação, sim à miscigenação da cultura e da informação. Que ninguém, no entanto, inicie uma passeata ou campanha em prol do Entusiasmo. Que surja automático, espontâneo, pelo tesão e pela verve de ver-se vivo, como tudo o que é natural e, por isso, funciona.
Procurarei evitar essa coqueluche virtual de tentar transformar, tão a sério quanto em vão, um blog num veículo de mídia e informação; também não ceder à vaidade, invariavelmente sem senso crítico algum, de achar que importam ou fazem diferença as minhas opiniões, quase sempre pouquíssimo embasadas, sobre situações pontuais.
Mas... não prometo! :^D

***

Enquanto isso, vamos às vacas gordas, como diria Ivo Pitanguy.
Pra não dizer que não falei de flores, tô contente com o retorno que vocês deram aos últimos posts. Obrigado! Alguns, confesso, não eram o que eu previa (o que é ótimo). Por exemplo, o do Dia do Caviar. Nos próximos posts pretendo comentar algumas mensagens bem interessantes que recebi em função desse post (aproveito desde já pra agradecer ao(à)* anônimo(a) pela mensagem de carinho - o problema é que, ao me estimular a escrever mais, você castiga os leitores por tabela... :D). Estou também em dívida com a Jana, que pediu por um texto que publiquei e recolhi para reeditar. Nas próximas semanas ele retorna, assim como (espero!) meu bom humor.
Mas só depois do Inferno Astral.


* (o/a) = magnífica técnica para dar uma de Migué, confessem. ;^D


Fiquem agora com a nossa...

INCOMENSURÁVEL PESQUISA DA SEMANA!

"Na sua opinião, quem foi o culpado pela tragédia?"


a) a Polícia


b) o Pai foragido

c) Lindenberg

d) Spielberg

e) Iceberg

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

• Dia do Caviar com Champagne

Esta lata de Caviar custa aproximadamente US$ 2.000,
eu não posso comprar mas queria comê-lo.

Isso explica tudo.
Voltemos agora com a nossa programação normal
e foda-se a hipocrisia, amiguinhos!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

• Onegai, Nihon! - nº 1

Japão. Ainda não sei porque esse pequeno arquipélago tão distante da minha rotina foi tão simbólico e presente na minha história. Já passei pela fase de pensar tratar-se de influência televisiva, do Ultraman, dos ninjas, samurais e demais clichês saltitantes. Já deixei de lado a crença de meu apego numa tal admiração idealizada por seus valores. Já esbarrei até mesmo na idéia de que um país tão exótico como este não poderia faltar na listinha dourada do meu espírito xenófilo.
O fato é que não sei. O que me atrai no Japão, o que atiça minha curiosidade?
Que desejo é esse de participar dessa inocência, dessa neurose e dessa beleza obscura?

Tenho algumas pistas, todas frágeis. Cresci com descendentes, estudei com eles naquela fase tão emblemática dos 7 anos em diante. Consumi (e consumo) sua cultura pop tipo-export, em fases que iam e vinham. Namorei mestiças (odeio esse termo). Identifiquei-me com alguns valores e sentimentos que, erroneamente (típico de toda generalização), acreditei que fossem de seu povo como um todo. Alternei rejeições e esquecimentos com aquela velha e teimosa "fase nipo" citada acima. Hoje, com 31 anos, sinto a danada de volta, a me dizer coisas numa língua estranha, mágica e incognoscível.

Como eu disse, pistas frágeis.

Qual será a mágica no Japão? Esbarrei com outros que sentem ou já sentiram esse apelo, assim descobri que não sou o único e que, como eu, também não sabem explicar.
Passei às pesquisas para enxergar um pouquinho além dos clichês e encontrei muita coisa. Nas próximas postagens pretendo falar um pouquinho mais dessas impressões.

***

Confesso: há uma grande contradição aí. Primeiro porque estes valores não me pertencem, segundo que não raro ferem minhas crenças. É o famoso choque cultural, que mesmo vivido à distância, provoca em mim uma tremenda repulsa pelo Japão. Vai entender...

***

Cultura é algo mágico em si. É a parte que eu adoro na Globalização. Sonho com orishás, samurais e swamis que não me pertencem, como se meus. É o extremo do cosmopolitismo: a alma expatriada que olha pra si e vê-se em retalhos, costurados pelo apelo mágico de ser um humano tão igual e tão diferente.

***

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

• Ministério Público ameaça fechar o orkut

Deu na Folha:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20501.shtml

Provavelmente o burburinho já chegou até você.
A impressão que fica é a de que o Estado optou pela coação com essa chantagem de tirar o orkut do ar, baseado em brechas (e ausência) de leis de regulamentação da internet. A idéia do MP, vejam só, é a de quebrar o sigilo das pessoas no orkut. Como o Google não o faz, está obstruindo a Lei.
UADERREL?
Sigilo?? No orkut???
Só eu não tenho privacidade naquela porcaria?

"Ah! Quebrarão apenas os dos perfis falsos" - replicaria Pollyana.
Sei. Como a Inteligência da PF, capaz de proezas mil com seus supergrampos, não consegue identificar um IP que qualquer nerd mongolóide com um programinha faz?
Outra boa pergunta. Quer dizer que, nessa lógica de evitar espaços onde possa haver conteúdo impróprio, vão bloquear todos e qualquer serviço de rede de contatos?
Adeus, Myspace! Afinal, por princípio, bloquearão a internet.

***
De um lado falam que negar-se a quebrar o sigilo é obstrução da lei, e por outro não consideram que ninguém é obrigado a denunciar coisa alguma, quanto mais o que não sabe. (Bom... aí peço ajuda pros advogados de plantão: se é obrigação, então fomos todos criminosos algum dia, porque já vimos calados muitas das merdas que o Estado não resolveu). Um órgão que sequer é capaz de nos dar o básico de proteção - seu dever - não deveria cobrar tanto quando pouco oferece pela troca de informações. Gostaria também de saber quantos bancos recusaram-se a quebrar o sigilo de alguns dos nossos políticos, por exemplo, mas isso eu vou morrer querendo, em vão.

De qualquer modo, não faz muito sentido que o Governo exija que um grupo ou empresa faça o trabalho que é inerentemente seu, que passe sua existência caçando bandidos e entregue de bandeja seus nomes. Simplesmente não é seu dever.
Isso me lembra as blitz da polícia nas ruas, que param Corsinha mil com uma família dentro pra ver documento e procurar "tóchico", que invadem barraquinho de favela quando os cabeças do tráfico estão na Barra da Tijuca, em Alphaville (ou Brasília.. ops). Por que não se divertem com outra coisa enquanto caçam bandidos? Eles sabem onde estão. Pra piorar, não se define as bases do que se considera "controle" num sistema onde o controle de conteúdo é absurdamente difícil de ser realizado e, acima de tudo, feito com base no conceito de livre expressão como a internet.

***

Conteúdo impróprio.
Taí um tema interessante. Ilegal é impróprio. Maconha, por exemplo, é ilegal. Uma comunidade que discuta democraticamente sua legalização, portanto, pode ser considerada imprópria por dar margem ao entendimento de que trata-se de apologia.
Pronto: pro xilindró, meliantes!

"Quem não deve, não teme!" - diria o Telettubie.
Não interessa. Apesar dos tempos de grampo, de "calaboca" da imprensa e afins, este ainda é um país livre e eu não quero ninguém fuçando nas minhas intimidades, quanto mais impedindo-me de debater os temas que me interessam. Eu, cidadão, que voto e boto essa gente pra trabalhar lá por e para mim, não quero esse cerceamento cheirando a saudades de Ditadura.

O interessante é que o Ministério Público desconsidera não apenas a questão da privacidade (direito) como não sugere medidas verdadeiramente eficientes; apenas cobra-as como se qualquer grupo ou empresa tivesse de prever absolutamente todas as possibilidade de crime e evitá-los (coisa que o próprio Estado não faz em relação à política nacional e à Segurança Pública). Medidas generalistas como essa são tão ilógicas quanto proibir igrejas porque há padres pedófilos, ou nos proibir de andar à noite nas rua porque nela pode haver ladrões.
Criminosos têm seus próprios códigos e abreviaturas (e podem reinventá-los a qualquer instante), como já é de conhecimento público. Sistemas de busca ao estilo palavras-chave simplesmente não resolvem. É possível criar um site obscuro ".ru" num servidor estranho qualquer via cartão de crédito, sem necessidade de CPF ou porra que o valha. Por isso nem a interpol nem ninguém consegue ir muito além do que já fazem. Pedófilos e nazistas propagam seus lixos desde os tempos de IRC e ICQ e o Estado culpar o orkut pela própria incompetência é risível, dá até margem pra pensar em retaliação por alguma propina mal-sucedida, mas eu é que não vou pensar nisso... porque pensar, amiguinhos, é perigoso (vai que tiram meus dedos do ar - e das mãos...).

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

• Crazy crisis - parte A

Tá difícil pra você entender a mais recente crise econômica?
Não se preocupe, amiguinho! Ninguém entendeu.

Mas, pensando no seu bem-estar, deixo aqui algumas dicas inúteis (lembre-se, se conselho fosse bom, vendia-se como ativo da Bolsa que vale mais do que dinheiro):

a) Os bancos falem. Os banqueiros, não.

b) Lembra do Y2K, quando o mundo implodiria em bytes no bug do milênio? Lembra da Bolsa da China, que derrubou a Bovespa? Da crise do petróleo, que secaria os automóveis? Pois é, se você lembra é porque sobreviveu. Se não lembra, também.

c) Muito vem sendo feito. A quantidade de jornais e horários nobres que se vendem na mídia em função desse assunto talvez não cubra o rombo financeiro, mas deve amenizar.

d) O cara que planta seu feijão continua vendendo pra você, pra poder comprar a geladeira que você fabrica. Não houve geadas nem problemas com matéria-prima, mas os financiamentos imobiliários-fantasmas americanos vão abalar essa relação porque estão intimamente ligados a nós, conforme se vê.

e) Você aluga seu cortador de grama pro vizinho porque você tem dois (e se só emprestar, o puto não devolve). O vizinho é um burro pobre que come capim pra poder pagar esse aluguel. Aí seu filho perde o reserva porque é estúpido e comprou a dívida de um vizinho que tinha ficado sem regador. Eis uma crise. Pra cobrir, você vai no seu vizinho e toma o aparelho de volta. Sem ele, o vizinho se desespera porque terá de cortar o capim com os dentes. Você, sem o dinheiro do aluguel, tira do bolso pra cobrir o déficit. Eis uma crise. Pra repor o buraco nos lucros, você tem a idéia de emprestar seu aspirador pra um vizinho. Ele comerá capim pra poder te pagar. Eis uma crise.

f) Capitalismo envolve risco. Quanto maior o risco, maior o lucro, caso dê certo. Se não der, alguém terá de pagar. Nesse caso, você, que não investe na Bolsa.

h) Reclamam da postura dos Governos, mas nada melhor pra uma crise artificial do que um paliativo artificial. Com dinheiro real. O nosso.

g) A ser pago para quem? Ora, você quer saber demais!

>> Não encha o saco, Denis!

Às vezes eu me sinto assim, como agora. Com essa fome de num-sei-quê, com um quê de urgência, de "preciso mudar as coisas!", sentindo falta do que não tive e que nem sei nome, velando na madrugada por algo que não sei o que é nem quando vem. Uns ligeiros sonhos mal sonhados aqui, uns devaneios infantis acolá, distrações fúteis, pouca disposição pra diálogos e aquela insatisfação rançosa de uma alma que quer, mas não sabe o quê.
Nessas horas, por pragmatismo conformado, escuto o diz-que-diz da minha alma insatisfeita, que choraminga por não estar fazendo o que gostaria e eu, cruel, pergunto de modo implacável:
"O que quer então, ó minh'alma?"

...

Nada.
É. Eu já imaginava...




P.S.: Sim, eu sei que tenho demorado a postar. Ando sem tesão pra escrever o que ferve na cuca, mas isso é fase. Aproveite pra ler os antigos, tenho certeza de que provavelmente você só lê os que ficam no topo (como quase todo mundo, aliás :D).

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

• Pergunta periquitante do mês


favelado
é POVO

?


>> Cartas à redação!

• Geografia determinista?

Será que a geografia de um lugar molda o caráter das pessoas?
Um clima árido torna as pessoas duras? Londrinos são frios e nebulosos como os fogs ingleses? Gregos são ríspidos como suas terras pedregosas do mesmo modo que os caribenhos possuem a displicência úmida do clima quente?

Este recurso passou de literário a literal, nas bocas e mentes xenófobas do mundo, ou é impressão minha?
Cá entre nós, sempre achei que caráter não escolhe nacionalidade, a despeito da política fascista insistentemente afirmar o contrário.

Qual a sua opinião?