domingo, 20 de dezembro de 2009

Uaderrel vos diz:


by De Marchi

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mensagem do dia:

Sorria!
Você está lendo um gerúndio.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Download de músicas X desproporção de mercado

Pirataria. Taí um assunto legal. Pintou outro dia num forum do qual participo e achei interessante o rumo que tomou. Eis a minha opinião (que ninguém perguntou).

Dizem que a 'pirataria', termo abrangente demais para situações bem distintas, desestimula a indústria nacional.
Olha... não sei vocês, mas eu não vejo porque ter dó de empresa alguma. Primeiro, porque é impessoal. Segundo, ninguém nunca teve dó dos meus negócios (e não reclamo); nem clientes nem o Imposto de Renda, nem as Leis de Incentivo ao Microempresário que nunca chegaram. Dó não cabe onde vale a máxima de "quem não pode não se estabelece". Se é assim com as empresas que geram emprego no meu país, que dirá com aquelas que repassam os lucros para fora.
Pois... cá entre nós... quero mais é que a indústria nacional(multi?) se exploda por achar decente cobrar 1/5 de salário mínimo numa porra dum disco de plástico perecível (ao contrário do alegado). Esse grau de ganância desestimula é o meu país - a única corporação que de fato me interessa - como o fazem também outras empresas, que acham coerente indexar preços de produtos nacionais em dólar.
E mais: no meu entender, isso estimula a pirataria ao invés de coibir. Não interessa que música seja item supérfluo e não de primeira necessidade, baseado naquele papo de "quem não pode, não compre"; não se justifica e o impacto de seguir essa linha de raciocínio seria comprovadamente pior, pela redução da abrangência e exposição do artista. Por isso - tcharaaam! - as gravadoras não vão pra cima pra valer. São tudo, menos burras.

Dizem que o Brasil é um dos países onde rola mais pirataria. Sem dúvida há muito malandro que pode pagar fácil, mas pirateia até CD do Tchan. É a tal Lei de Gerson e não vou me estender sobre esse tipo de parasita, que vê grandes lucros em piratear um CD de 5 Reais com uma mídia de 2,50.
Mas, pensa comigo... quantos % do orçamento de um norte-americano e quantos de um brasileiro um DVD compromete?
Se um DVD custasse US$ 300 (1/5 do salário mínimo de US$ 1.500), será que um americano médio não piratearia? Fica a pergunta.
Numa situação ideal, equiparar preços (numas, porque aqui não raro são mais caros) só se justificaria de fato se houvesse equiparação de poder de compra (claro que em economia não é bem assim, o processo é mais complexo e amoral - uma dada fruta não é mais cara em Portugal apenas porque é cotada em Euros e sim pela facilidade de aquisição, por ex). Mas não dá pra meramente converter o câmbio e dane-se. Usa-se a desculpa de concorrência internacional - como a Petrobras, empresa estatal que explora NOSSO território e extrai NOSSO Petróleo, mas cobra-nos o combustível pela faixa internacional, quase como se estivéssemos importando. É claro que não justifica, tanto que alguns países têm o bom senso de cobrar mais barato de seus cidadãos pelos produtos internos. Além do mais... a Zona Franca exporta Ivetes Sangalos pra quantos países?
Cúti de bulchiti, maifrém.

No caso das gravadoras, estava claro que isso incentivaria o mercado negro tão logo houvesse chance (e, veja só, apesar disso ninguém fechou com o preju, apenas diminuiu a margem - absurda - de lucro). A Internet, e de modo mais amplo a informática, foi um dos meios encontrados para uma demanda latente.

***

Download grátis de mídia VERSUS compra de camelôs

A reação patética das gravadoras, de oprimir um ou outro consumidor como forma de 'exemplo' (método que não funciona nem com bandidos), beirou o ridículo quando chegou ao ponto de botar "seus" artistas para falar. Ora, o artista ganha o grosso de seu dinheiro com shows; o CD funciona principalmente como divulgação. Aquele que tiver a maior participação nas vendas de disco no Brasil mal deve passar de 8%, 10% - e estou falando de um Roberto Carlos, por exemplo.

Eu quero incentivar meu artista preferido a continuar produzindo, não o intermediário. Quero pagar diretamente pra ele, quando gosto. E há como: tanto é que o RadioHead, só pra citar um exemplo, lançou num site um pacote independente de músicas onde você pagava o quanto quisesse - e encheu o rabo de grana. No Brasil, Nasi e Lobão vão muito bem, obrigado.
Portanto, sem esse papo de "se fosse aqui, não iam levar doirreá" - a gringaiada pagava em centavos e mesmo assim funcionou - porque de fato é exatamente isso o que os artistas ganham por música. A diferença é que a maior parte do dinheiro foi pra eles.
Ou seja: foi-se o tempo onde, para conhecer um artista, você teria de arriscar-se comprando um CD onde, em geral, viria a gostar de uma ou outra música. Ou pior, teria de conhecer apenas via Rádio ou Faustão (o Chacrinha do Apocalipse), num sistema de mídia onde só toca aquilo que os cartéis decidem. Traduzindo, o que as gravadoras querem é manter um sistema ridículo onde a mocinha da amostra grátis, no supermercado, cobra pelo cafezinho provado. Só não entenderam o recado: não precisamos mais delas. Nem nós, nem os artistas.

Para mim, o que há é uma mudança de paradigma na forma como se consome entretenimento audiovisual e, como sempre, as corporações são as últimas a se adaptar.
Nesse sentido, o que chamam pirataria eu vejo como novo fluxo.

O ridículo, creio, é comprar CD pirata que vai financiar arma pro tráfico, mas aí já é outra história.

Pode ter certeza: se você assiste um ou outro filminho no computador mas vai no cinema se gostou, ou se você escuta uma ou outra musiquinha na internet mas vai no show do seu artista, não só está incentivando que mais daquilo que você gosta continue sendo produzido, como evita que gravadoras decidam o que você deve ouvir.


P.S.: que ninguém venha dizer que esse post é uma apologia à pirataria - até porque os Selos já fazem isso muito bem sem mim.

Complexo de Hermitão

Vocês por acaso sentem-se (ou já sentiram-se) cansados de gente?

Olha, eu sei que soa antipático pra chuchu dizer isso justamente num blog onde os chegados leem, mas... por favor, não entendam mal. É que ando um tanto de facová cheio dessa coisa de 'jogo social': apresentação/forma-se um grupo/grupo cresce/membros brigam/sub-grupos separam/sobram um ou outro no final.
As intrigas, as fofocas, as redundâncias humanas, a falta de honestidade consigo próprio, que faz com que peneiras intermináveis fiquem cortando um e rompendo com outro sem saber bem o motivo. Até de polêmica ando correndo, coisa que eu achava totalmente fora da minha natureza. Baita sensação de Dejavu.
Não consigo mais ver meus velhos grupos como se a eles pertencesse, e ao ver novos com as mesmas sementes de sempre, o cheiro de desarmonia iminente me coloca pra correr. Algumas palavras perdem cada vez mais peso na boca dos outros, e crescem em valor lá dentro da alma, como o daquelas pessoas de olhar franco pra dentro do seu; como "Amizade", essa palavrinha prostituida por demais. "Amor", então... ô palavra mais Bruna Surfistinha, meu Deus.
Troca de quantidade por qualidade? Sei não.
Dá vontade de ficar quietinho, no canto, uma cerveja na mão e não mais que um sorriso. De lábios selados.

Vocês já tiveram isso e passou ou esse troço é permanente? [:o]

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Uma (nova) rasteira da informática

Quase um mês sem postar, perdido em desafios tecnológicos.
Essas semanas de trabalho intenso levaram-me ao velho pensamento (hoje, clichê - como tudo nessa Era, que envelhece em poucos meses): a informática veio para facilitar a vida. Só não escolheu ainda a de quem.
Não me entenda mal. Adoro um gadget novo, não sinto saudade do arado e acho ótimo poder falar com gente a 12 mil quilômetros de mim como se estivesse ao meu lado. Vivo de informática, essa ferramenta que muitas vezes foi uma mão na roda (ou cursor?) pra minha criatividade.
Mas... não te parece estranho que, cada dia mais, somos nós que temos de nos adaptar às ferramentas, e não o contrário?

Na faculdade, me lembro bem, havia uma tal de ergonomia, o estudo da perfeição com que um dado objeto se ajusta ao usuário. Taí, seja lá o que aconteceu a ela, sinto por ter sido esquecida nessa equação invertida do novo milênio.
Me pergunto se falta muito pro dia em que as pessoas terão de fazer pós-graduação pra mexer numa calculadora. Deve ser divertido pros desenvolvedores (aqueles nerds vingativos) mudar de lugar os comandos e inventar novas modas, cheias de salamaleques, para fazer algo que você, em sua modéstia pragmática, gostaria que fosse feito ao simples toque de um botão.
Não era esse o sonho, afinal? Esses moleques com sobrepeso do passado, ávidos espectadores de Jornada nas Estrelas, não desejavam também aquelas quinquilharias exóticas, cheias de blips, blaps e nenhuma complicação?

Na informática de hoje, basicamente queremos uma pizza, mas teremos de nos adaptar ao fato de ser feita com areia porque o desenvolvedor achou que não-perecível é mais viável.
E a alternativa é comer o pastel de cimento do concorrente.

***

Não sei vocês, mas não quero ter de pensar (ou pior, fazer malabarismos) pra convencer a chave-de-fenda a fechar o parafuso. Quero apertá-lo e pronto. Não sou micreiro, sou um usuário comum.
Será pedir muito aos especialistas, tão encantados com suas complexas caixinha mágicas de L.E.R. e desgosto?

Na boa: se eu perder mais um centavo (ou minuto) com computadores, volto à caneta.
(E à fila do seguro-desemprego, claro!)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Toda desgraça, pra trouxa, é pouca

Às vezes eu chego a pensar que estou cercado de bundas-moles. Bunda mole mesmo, daquela que não encara nada mais firme que sorrisos gelatinosos.
Mas aí eu percebo que o problema é meu mesmo. Meu e de minhas ilusões.
Sempre senti, desde pivete, que um relacionamento ideal e franco envolvia despir-se dos joguinhos e estratagemas sociais. Por que? Porque é cansativo, oras. Uma perda de tempo. Não tenho fôlego pra cortar todas as toras que a fogueira das vaidades demanda - achei que tinha, mas não tenho. É fogo rápido, consome tudo, não aguento o tranco.
Por mim, tirando aquelas situações sem escapatória (e mesmo isso é relativo), onde você tem de sorrir amarelo enquanto te enrabam porque disso depende sua sobrevivência, o resto é sentir, pensar, ponderar e dizer.
Pois não é que, pela milionésima vez, eu desobedeci a regra máxima da vida coletiva?
O negócio é calar mesmo. Como todos os outros, aqueles, os ditos bunda-moles, na verdade muito espertos. Eles vieram, disseram, replicaram e treplicaram - mas só na surdina. Na frente, ah, na frente... é boquinha de siri. Entrar por um ouvido sem jamais sair pelo outro (e nem pela boca). É isso: o trouxa aqui não entende que ser aquele que vai e diz de frente o que todos estão dizendo por trás é serviço sujo a ser evitado.
Eu agradeço pela lição. Não posso dizer que seja um aprendizado, porque não é - o burro aqui demora pra entender, e demorar é pecado capital nessa época. Mas vocês estão certos. Certíssimos.
O negócio é falar, falar... e negar quando confrontado. Guardar aquele "eu? Maginaa" na manga, pronto pro saque, e deixar algum trouxa (que, em geral, tem blogue e se arrepende de dizer coisas) diga por você. Deixe que ele defenda seus interesses por tabela, e então se queime e se desgaste.
É pra isso que os ponta-de-lança foram feitos: pra quebrar no couro. Deus, em Seu tabuleiro, precisa de um tantão de idiotas pra armar a greve e ser demitidos enquanto você espera seu aumento em casa. É exatamente isso que esse povinho patético precisa: de porrada na orêia pra ver se aprende que, ao invés de chorar as pitangas em momentos tardios de auto-piedade, deveria é ter o mesmo senso de autopreservação que os espertos esbanjam.
Com sorrisos gelatinosos.

sábado, 5 de setembro de 2009

Férias!

Fáinali!
O quê? Eu mereço, porra. Adoro o que faço, amo meu trabalho, mas vagabundar tem um certo séquizapiu que não posso negar. "Vagabundar", numas, que não consigo ficar parado. Vou começar um montão de coisas que deixarei incompletas!
Férias é aquela coisa estranha, como a vida: você leva tempo pra se ligar e se acostumar, e quando finalmente tá pegando o jeito, ela acaba. Na hora de aproveitar pra valer, você tem de abrir mão.
Férias é coerente com um mundo onde você passa a broxar justamente quando tem o quinourráu pra trepar.
Férias é mesmo tão estranha que você fica na dúvida se ela é ou elas são, até que elas passam ou acaba.
Férias, amiguinhos, é basicamente tempo ocioso e mal aproveitado com sofismas sobre as férias.
Ou não.
Então deixo aí pra vocês, meus milhares de leitores apreensivos com meu sumiço, dois súperes posts supímpares, que eu tenho mais o que fazer.

Abraço e não chorem (de rir), pois eu volto!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Caí duas vezes

Peguei um gripão lascado e caí de cama. Quase entrei na paranoia da gripe suína e caí na onda de achar que estava com isso. E ninguém aguenta mais esse assunto. Fui parar no hospital com febrão, tossão, dor nas juntas e mais alguma merda que eu não estava em condições de avaliar. Fiquei no Pronto-Atendimento das 4h da tarde até a meia-noite, o que dá um novo paladar a esse nome.
O que nos mostra que:

a) os fatos tornaram-se assuntos e, independentemente do curso de sua existência, tornam-se "cansáveis" como uma história repetida à exaustão, com prazo de validade baseado em seu Ibope e não em sua relevância. Acabe ou não, num dado ponto ninguém mais quer saber dele. A gripe A, como a AIDS, deixará milagrosamente de existir à medida em que sumir dos jornais.

b) Pude notar que a comunidade médica regozija-se em finalmente ter outra possibilidade de diagnóstico que não seja "virose". Agora seu bico-de-papagaio pode ser culpa do H1N1.

c) Os hospitais estão cheios, entre outros, de gente em busca de atestado médico. Nunca um atchim fez tanto pelo corpo-mole de alguns.

d) a única coisa relevante na Gripe A foi mostrar que, se um dia rolar algo realmente sério, como uma pandemia do capeta, o bicho vai pegar. Não há estrutura alguma - nem pra barrar doenças desse porte, nem para tratá-las em escala.

e) Ah você tem convênio caro? Má notícia: não adianta ter American Xpress no Xingu. Os hospitais particulares também estão cheios e estouraram suas cotas com uma doencinha com 0,5% de mortalidade. O lado bom é que você vai agonizar por horas numa sala de espera com piso de mármore.

f) Donald Rumsfeld, dono do Tamiflu (a 'vacina'), agradece pelos meses de paranoia. Se você não lembra quem ele é, tem mais é que ter medo de espirro mesmo.

g) Mais uma vez demonstro minha falta de empreendedorismo em não ter aberto uma vendinha de máscaras e álcool em gel. Droga.

domingo, 23 de agosto de 2009

KAGHANDA RESPONDE - Nº1

Anseios da Mulher Moderna - parte 1


Caro Kaghanda,

relacionamento vai, relacionamento vem, o mundo gira e eu nunca consigo pegar um Brad Pitt. O que faço?"
Balzaquian@ carente



Cara hermanita Balzaquiana,
Transfuêrme-ze en ESTA mujer" = >


Esta e outras palavras de Iluminação súperes supímpares você só encontra com o Divino e Amado Mestre Sri Swami
Kaghanda Yan Dandha


Dúvidas existenciais? Questões universais? Resultado do Enem?
Cobreiro, maloiado, tirícia e bucho virado?
Envie sua cartinha para o Kaghand@ Online!

Escreva djá!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Esta nação venera sociopatas - pte 1

Dê a mão e vão querer o braço;

Dê seu coração e vão querer casar;

Dê sua opinião e vão querer convencê-lo;


Dê uma olhada e vão querer seu dinheiro;

Dê um golpe em todos e vão querer um autógrafo.





Em terra de Sarneys, quem tem um olho, fecha-o.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

• :: EM PASSOS DE JÂNIO ::

Precisando de aventuras que a vida não comporta?
Vive a sofrer por um ligeiro e teimoso inconformismo adolescente, bem tardio?
Parabéns! Bem vindo ao clube dos idiotas.

Os hindus chamavam de Nirvana.
Os moderninhos chamam de "despertar da Matrix".

Eu chamo de cansaço.


E não importa.

sábado, 15 de agosto de 2009

Fumation or not fumation, détis de question

...O fato é que tá todo mundo de olho no cigarro.
Não sei porque tanto bafafá sobre a Lei anti-fumo em lugares públicos da trupe do humanista e filantropo José Serra.
Primeiro que esse tipo de lei no Brasil não significa muito nem sobrevive por longo tempo. Lembra da Lei seca? Poizintão! Poderíamos desfilar uma série de tópicos proibidos que ocorrem livremente (até porquê, ia faltar fiscal pra tudo isso).
Segundo que, reparando bem, a proposta não é tão ruim assim.

Acho que a lei é justa.

Talvez fosse ainda mais se liberassem aqueles donos de bares que quisessem ter só fumantes nos seus estabelecimentos, mas não teve jeito - local fechado onde serve comida não entra cigarro.
No começo fiquei bolado com essa lei, mas agora sosseguei.

Vejamos algumas vantagens para os fumantes:
quando você está num espaço onde fumar é restrito (casa de alérgico, consultório médico etc), tende a demorar mais pra fumar outro. E goró chama cigarro - todo fumante sabe que exagera quando tá num bar ou num lugar onde pode fumar à vontade (um maço que você consumiria o dia inteiro vai fácil-fácil numa noite). Assim, se tiver que levantar e sair, vai espaçar mais o tempo entre um e outro, vai avaliar se compensa fumar outro e não apenas acender por impulso. Como minha preguiça é quase tão grande quanto meu vício, já estou fumando menos (isso, claro, só é vantagem para quem tem essa intenção ou a de parar).

No bar, outro efeito interessante: os miguxos estão saindo conosco pra conversar lá fora enquanto fumamos, deixando na mesa apenas os malas mais preguiçosos que a gente. Isso nos leva à próxima vantagem.

Mais importante:
A questão do fumante atrapalhar a vida do não-fumante chega ao fim.

A lei faz mais do que apenas oficializar o que todo fumante educado (educado - 'consciente' não existe) e com algum semancol já tentava fazer; ela cria um efeito colateral interessante.
Com o appartheid, teoricamente, um não pode mais incomodar o outro, certo? É fumante de um lado e não-fumante do outro.
Pois agora os não-fumantes xiitas perderam seu argumento fundamental pra justificar a perseguição contra nós. Os malas terão de arranjar outro meio de nos atrapalhar (talvez entrando numa tabacaria pra reclamar - algo como um crente que vai catequizar no baile-funk).
Ou seja: daí pra frente, estaremos dentro da Lei e se continuarem a vir encher o saco, podemos mandá-los tomar no glorioso olho do cu com toda a propriedade!

***

Uma historinha*
Tive o prazer de passar por isso semanas atrás. Estava na calçada, ao lado de um cesto de lixo, quase na guia e sem atrapalhar a circulação. Um certo velho conhecido na região, caminhando até seu carrão a gasolina de alto consumo, resolveu passar grudado em mim (apesar da calçada, de uns 2,5 metros de largura, estar livre) e reclamar do meu cigarro na hora do rush.

"Um dia vão proibir de fumar na rua e aí eu quero ver!"

Baforei e fiquei quieto - ele provavelmente vai morrer bem antes desse dia chegar.
Fiquei curioso e pensativo quanto ao que leva as pessoas a definir prioridades sobre o que é nocivo num mundo de nocividades, quais escalas utilizam e que tipo de sortilégio faz com que aquele fulano que nunca ligou para cigarro de repente se invoque com o assunto. Já viu isso? Claro que já, tá lá no álbum de foto da família, 1975, a mulher com cara de massa de pão no quarto do hospital, o filho recém-nascido no colo, cercada daqueles parentes que vieram visitá-la, entre os quais aquela tia com o cigarrão aceso, fumando mais que puta presa. Isso: dentro do quarto da maternidade. Essa tia, se pudesse, cederia à sanha mortal de apagar o passado, tal e qual uma Xuxa a recolher VHS de Amor, Estranho Amor.
Pensei muito. Nisso e no quão é assustador notar que o puto do Brecht não morreu - o povo não deixa. Levaram professores, comunistas, operários. Hoje levaram os fumantes, mas quem não fuma não liga. E amanhã... não importa.

Uatéver. Pensa-se muita besteira quando fumamos.

Pois não foi sem algum prazer que sorri ao vê-lo, então, dar uns três passos e disparar a tossir com a fumaça que um veículo parado no trânsito vomitou na sua cara.
O mais interessante é que a uma lata velha sem manutenção é da empresa DESSE CARA, que é anti-tabagista convicto 'porque faz mal à saúde'.
Essa categoria vale um compêndio por si. Vocês sabem, é típico: aquele cara que te recrimina enquanto olha ávido pra sua tragada - daí ele respira fundo e na sequência discursa. Sua verve vem de ser ex-fumante, ou seja, de precisar caçar-nos pra se convencer a não ter recaída.
Caçar e sentar no rabo. Como quem faz cooper na hora do rush depois de 60 anos comendo torresmo. Ou como aquele pinguço mui ético, de discurso e fígado inflamado, que arrisca a vida dos outros no trânsito mas sempre fala do seu tabaquinho; nem aquele que 5 anos atrás não reclamava porque ainda não estava na moda caçar fumante, e por aí vai.
Pois graças a Deus e ao Serra, seu primeiro-ministro, tudo mudou. Só falta uma lei para que os proprietários de veículo poluente só possam ligá-los em garagem fechada. Mas, um passo por vez. O que importa é que como eles há muitos e, finalmente, caladinhos: cigarro agora é problema só nosso.

Quem diria, liberdade na limitação! Fumemos um Marlborão pra comemorar!

Portanto regozijem-se, fumantes: esse tipo de hipócrita que vocês bem conhecem também foi limitado pela situação. Imaginem sua tristeza sem um fumante por perto, sem o prazer de anti-tabagizar na nossa orelha; terão de abandonar o discurso furado 'daquele que só pensa no bem-estar do coletivo' e assumir que cagam e andam pros outros quando se trata do que OS PRÓPRIOS fazem de errado.

Será um prazer não dividir a mesma mesa com eles!

* (Ligeiramente modificada para preservar o blogueiro)


Nota pessoal: Boa notícia! O médico me mandou diminuir o cigarro (o que é ótimo porque, se eu não fumar, o cigarro vai continuar do mesmo tamanho!).

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

• Sociedade Viva Curintcha

Breinstórmi
Não sou dado a expor pessoalidades na web, mas creio que já sugeri isso nesse espaço amplamente visualizado por milhões de leitores
aróndi de uórdi. Então, é hora de assumir posturas.

***

Meu avô paterno fugiu com a minha avó para se casar (ele era filho do dono da fazenda onde ela era colona e por isso foi deserdado pelo 'culto' porém ignorante pai dele, meu bisavô). Meu véio era um tourão; só força física, mas tosco. Ficou cuidando da fazenda até os 18, antes de fugir com a minha avó, e mal estudou.
Teve 12 filhos, chegou a morar em igreja abandonada e cortiço. Calçava-se na noção de que, aos filhos, teto e comida garantida eram o que bastava da função de pai (diz a lenda que meu abastado bisavô era extremamente sovina e agressivo, mas não vem ao caso - ou vem?). Ou seja, cria que dava o que seu pai não deu.
Severíssimo, descia o braço nos filhos, chegando a cometer os mesmos erros paternos contra os quais blasfemou. Um dia achou que meu pai havia roubado uma gaiola de passarinho (havia ganhado do vizinho); o menino apanhou tanto, mas tanto, até mal conseguir levantar (mas teve de conseguir mesmo assim, pois era engraxate na época).

***

Há uma foto do meu pai, a única de sua infância, com uns 12 anos, descalço, shortinho surrado e camisetinha rasgada, jogando bola num terreno baldio da Petroquímica, no ABC Paulista. "Balé", assim apelidado pelos camaradas do futebol, era chamado para fazer gols e esquecido na hora do lanche. Pela janela, olhinhos vidrados na TV do bar (onde não podia entrar 'porque não consumia'), sonhava com a carreira de jogador e com o guaraná das mãos dos clientes. É, eu sou filho do Chaves brasileiro.
Esse homem abriu mão de muita, muita coisa. Estudou, ralou pra chuchu, dedicou 35 anos da sua vida ao trabalho, fazendo hora extra aos sábados (desde quando eu não entendia porque ele ficava com aqueles papéis ao invés de brincar comigo). Esse cara pagou o melhor colégio da região para que eu pudesse estudar em pé de igualdade. Chegou a dar 1/3 do seu salário investindo nos meus estudos. Queria que eu fosse arquiteto (ele trabalhava com engenharia civil), mas nunca negou dinheiro para materiais ou livros quando parti pra Comunicação e Artes (você tinha razão, velho!).
Ele só me dizia uma coisa: "você vai lá pra estudar, pra ter sua chance. Não se iluda com os colegas de escola, eles têm uma vida que jamais poderei te dar; vão falar de viajar pra Disney como quem fala em ir à padaria e terão coisas que não podemos comprar. Não se iluda, revolte ou inveje: aproveite a chance".

***

Esse cara, sem apoio, sem protecionismo de Estado, sem estrutura familiar, sem porra nenhuma, foi lá e fez. Era o 11º filho de uma mãe com 40 anos, mais uma boca para dar de comer, mais um pra trabalhar (e, se fosse pelo meu avô, eternamente na roça).
Mas ele teve interesse. Ralou pra burro enquanto os camaradas do bairro faziam filho atrás de filho (quando qualquer imbecil sabe que trepar faz nenê).
Arranjou finalmente um bom emprego (nem de perto o ideal, muito menos o mais digno para sua capacidade, mas agarrou-se à oportunidade). Casou-se e criou seus filhos com um carinho e dedicação ímpares. Pagou seus preços na vida (caros, muito caros). Aquele menino de origem humilde fez de tudo para nós e ainda se cobra de que foi pouco, chegando a chorar porque gostaria de dar uma casa para cada filho pra começarmos nossas vidas, pagar mais cursos etc.
Porra... Me deu tudo o que eu precisava e muito mais - o Balezinho engraxate, jornaleiro, ajudante de mecânico entregou-me tudo aquilo que não teve.

Se houvesse Enem no tempo dele, onde não estaria este grande cara?

***

Acredito em mérito - aquilo que você faz com o que tem. Comove-me quem não tem oportunidade. Revolta-me quem não tem chance de mostrar a que veio.
Mas, para vagabundo que tem e esnoba, eu não estou nem aí.
Seja de qual classe for.

***

S.V.C. (Sociedade Viva Curintcha)
As hienas são animais que comem carniça, trepam uma vez por ano e às vezes enganam-se pensando sobre si mesmos como reis da selva. Andam curvadas demais para mostrar os dentes aos leões, senão aos moribundos entregues como esmolas pelo Acaso.
Reproduzem-se como ratos e estão por todos os lados, do shopping à favela. E mesmo assim vivem rindo.
***
EMPREENDEDORISMO
Todos sabem reclamar daquele mega-empresário que tem a cara de pau de dizer na entrevista que o segredo do seu sucesso foi 'ralar muito' (o couro alheio). Mas... reclamam por senso de justiça ou inveja? Você acha errado ou queria fazer o mesmo?
De um lado há os que falam em empreendedorismo como se fosse simples e dependesse tão somente de vontade (e não de dinheiro para investir, conhecimento a ser adquirido nem sempre disponível, justiça social, sorte etc).
Por outro, o assistencialismo mão-beijada dos politicamente corretos chega a provocar vômitos enquanto ignora que não se ajuda quem não quer ser ajudado.
Recursos. De onde vêm e para onde vão?

***
NA SAVANA
Toda noite na savana, um leão sai para caçar. Ele tem de correr ou vai morrer.
Toda noite na savana, um búfalo é caçado. Ele tem de correr ou vai morrer.
Gnus pastam por todos os lados sem propósito além de alimentar jacaré, leão, leopardo. Um oceano de chifres e cascos. Milhares de gnus incapazes de dar um coice ou pisotear dois guepardos a comer-lhes a cria.
Gnus compensam fazendo filhos, muitos filhos, os quais Deus há de cuidar. Na savana, onde comem seis, comem sete e tudo bem: filho vai, filho vem. Sua vantagem numérica serve ao princípio de repor o estoque.
Na Natureza, o único critério para sobrevivência é sorte e força para viver. Quem corre mais, escapa ou janta. Isso porque 'ela' precisa de algum critério seletivo, algum meio de fazer seus recursos limitados não serem desperdiçados com má semente. Seria lindo se ela, segundo nossos mais humanitários princípios, promovesse meios de todas as sementes vingarem. Só tem um porém: mais sábia e mais velha que nós, 'sabe' que também somos limitados e este é só mais um sonho infantil, motivado por quem acha injusto haver justas medidas.
Como aos búfalos e aos gnus.

***
O Governo não quer tirar ninguém da merda?
Fato. Mas tem uma malacada aí que não tá a fim de fazer força pra sair.
Sem essa de relativizar. Chega um ponto onde sublima-se tanto que um quadrado vira círculo em meia dúzia de volteios dialéticos. "Ah, fulano é lerdinho" ou "não teve boa criação" ou "tem miolo fraco". Tadinhos. Uma nação de tadinhos.
E? Que fazemos num sistema fechado de recursos limitados como a vida, onde nem todos podem passar ao próximo estágio? Não basta apontar para os dominantes que impedem o crescimento de quem merece.
Nos bons tempos cabia à natureza definir, mas não estamos mais guiados apenas por ela, para bem e para mal. Que fazemos nós, num mundo escasso?
Tenho um palpite. Investir em quem tem mais fome de vida. Até que se descubra um meio de fazer toda e qualquer semente vingar (coisa que nem a velha e sábia, a mais interessada nisso, conseguiu), o jeito é não desperdiçar recursos com quem não quer.

***

Quer dizer que malandrage não tem grana pra comprar um livro, mas gasta 200 mangos por mês pra ver jogo em estádio de futebol? Pois que morra antes que assalte alguém, não tô nem aí. Se não liga que seu 'estilo de vida' não dê futuro, que não reclame do futuro de sua vida.
Rapêize posando com pistola e falando prástico, todo meninão... Vai ver estão felizes com tão pouco (e nisso até os invejo). Que seja, façam suas escolhas e arquem com elas.
Só não me peçam importância. O meu, não roubei de ninguém.

Às favas com o discursinho generalizado de 'vítimas e coitadinhos'.
Coitado é quem acorda às 5 da manhã pra trabalhar e estudar à noite. Vítima é quem nem isso pode fazer porque está entregue à fome.

E viva o Curintcha.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

• Homenagem ao astronauta Michael Collins

Neste dia 20, em comemoração aos 40 anos da descida de Armstrong e 'Buzz' Aldrin em solo lunar, a Redação de UADERREL tem o incomensurável e recalcinofolejante prazer de parabenizar o astronauta norte-americano e terceiro tripulante da Apolo 11, Michael Collins - também conhecido como Testículo (aquele que é importante pra aventura, mas não entra na parada).
Nós, sempre solidários para com os retardatários, sem os quais nenhuma competição faria sentido, regozijamo-nos pelo feito de Collins e, em sua homenagem, recolhemos alguns depoimentos emocionantes de anônimos e celebridades:


"Foda é sentir
o cheiro e não
poder comer!"

Agenor - Garçom




"Concordo
(às vezes)"

Dr. Durval - Ginecologista





"De boa...
Ninguém lembra
do meu nome
também"

299º de Esparta



"Micheel...
brilha mutcho
nu Coríntcha"

Zina





"Sem ele
eu jamais diria
'I see skies so blue'
(a Terra é azul)!"

Armstrong




"Foi U Cóli
quem butô
panói bebê!"

Jeremia





"Se servir
de consolo,
eu ja fumei
sem tragar...
"
Bill Clitoris

sexta-feira, 17 de julho de 2009

• Falando de boca fechada

Você fala e se arrepende? Muito, pouco?
Escrevo mais do que falo, mas também sinto falta de um ctrl+Z na boca e na vida. E a falta do que não existe é um desses mirácolos do novo milênio (e tanta demanda fará com que um dia esteja à venda, pode anotar).

Há tempos apontaram-me um comportamento cada vez mais rotineiro: posto e apago muito no orkut (entre outros canais de comunicação mais relevantes). E isso é cada vez mais frequente.
Não me importo, por exemplo, de ser flagrado com a mão na massa (ou melhor, no mouse) 'deletando' o que escrevo. Incomodame-me muito mais reler o que eu disse e pensar "pra que dizer, afinal?".
Talvez seja mais um sintoma da síndrome de velhice, não sei. Mas cada vez menos tenho pique e fôlego para entrar em discussões, das mais banais às mais graúdas, que ao final das contas sempre trazem a sensação de que não levarão a nada - ou talvez a alguma discussão fútil onde ninguém mudou a opinião ou aprendeu algo. O fato é: não há troca ou aprendizado no fluxo dos que falam e não têm tempo pra ouvir (aos outros e a si mesmos). E o maior problema não é nem ter a opinião formada, é ela ser definitiva. Sempre, e ainda que o discurso mude amanhã.

***

É punk gostar de comunicação e ao mesmo tempo sentir o quanto ela é torpe, frágil e motivada por forças que não estão à mostra. Se quer dizer outra coisa, por que não dizer logo? Num bate-papo vê-se muito monólogo paralelo: a pessoa fala para si e ali, naquela frase, deposita uma enxurrada de coisas que mal absorveu racionalmente.
Não que tudo tenha de ser racional, pelo contrário. Mas, como essa parece ser a única ponte restante, que permite que nos entendamos nesse mundo de instintos represados, fica difícil um saber onde o outro quer chegar. Você diz 'casa' e eu ouço 'casa', mas nossas casas mentais jamais são as mesmas (e, segundo os relativistas, nem há porque serem). Mas então, pra que dizer?
Tudo o que se lê e escuta, até mesmo numa conversa desprentensiosa, parece coisa pensada na hora, mas chovem ali conversas internas de anos, preconceitos, defesas emocionais para dessabores, alfinetadas e recadinhos, construções e armaduras mentais pra tolerar o cotidiano etc. Com algum treino você percebe com clareza o quão ridículas são tantas palavras agrupadas e subvertidas em seu sentido, apenas para comunicar uma dor ou euforia.
O que houve com o "Ahhhhh!"?

Uaderrel? De certo modo, chegamos ao ponto onde não se pode ter mais uma conversa descompromissada, onde alguém discorda de você e isso não é lá tão incômodo. Tudo é questão de vida ou morte, de "esteja conosco ou contra vosco", de radicalismos hipócritas num meio onde falta coragem e fibra pra assumir posturas concretas para além do blablablá. O espasmo morre na palavra e ali se perde.
E tem mais: ultimamente qualquer assunto acaba em reticências. Reparou? Tudo anda tão relativo que perder tempo definindo o universo em papos de boteco é só isso, perda de tempo. Há sempre mil e uma óticas e ninguém quer saber da sua. "Conversar" virou botar o galo na rinha, mas o que hoje é desafio e ofensa antes era um prazer.

Saudades das conversas ao pé da fogueira, de quando um quadrado era um quadrado. Nobres seres em cavernas sabiam que o grande prazer de um homem era a epifania de um bom churrasco - sentar-se frente ao fogo cercado de amigos, mulher, comida e muita, muita conversa. Era gostoso saber como aquele outro contaria uma história que você já conhecia, como diria aquilo que você nunca ouviu, como obrigaria a rever seus conceitos no jogo prazeiroso de crescer com as palavras.

Sei disso porque tenho a mesma humanidade desses homens. E quase me esqueço disso porque vivo numa Era de egos ávidos por troféus e medalhas. Ninguém mais parece saber o que quer, mas não importa: tem de vir no topo do pódio, na vitória do embate. Competir por tampinhas de garrafa na infância era mais construtivo porque ao menos você sabia qual era o prêmio. Hoje fulano fica feliz se te provar (ou vencer na retórica) que a vida é pura infelicidade.
E?
Mardito DuChamp. Amplitude de visão é uma coisa, mas diluição demais só esvazia, oras. Aprofundar-se no Nada leva ao Nada, não é óbvio?
Quem quiser, que queira. Mas tô a fim de algo mais.

***

Apago e deleto. Então, por que escrevo?
Porque quero dizer, porque quero participar do mundo com a minha ótima, minha experimentação, meu estágio. Porque quero outras óticas, outros brilhos, ouvir a reverberação das ideias em outras cucas, como reagem às minhas e o que devolvem. Nisso eu quero o que todos querem mas só eu sinto como sinto. É dasabafo, é troca e reavaliação, é expressão do turbilhão interno que todo mundo tem - e que não se diz em palavras, afinal.
Dizer é um ato para além de si.
Nos tempos onde todos defendem mil e uma bandeiras - definidoras de fronteira por excelência - e tudo precisa ter um porquê, estou cada vez mais inclinado a dizer apenas um sorriso.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

• Da série "Fwd: [Cuidado ao abrir !!!]" - 2

CARAMBA!!!! Olha o físico dessa mulher!!! [Conteúdo explícito]



OBS: Concordo.

domingo, 12 de julho de 2009

• Mimetismos nas relações nº2

Aposto que você já passou por aquele desagradável processo de descoberta onde um segredo seu, que levou anos para ser dividido com aquela pessoa amiga, foi parar em questão de horas na orelha do parceiro(a) dela - provavelmente durante aquelas conversinhas idiotas de alcova onde, por falta de assunto pós-foda, fala-se do alheio. Poizé, nobre leitor. Casal é isso aí (dizem): bateu em um, dói no outro. Eu, que nunca fui amigo de casal e sim de pessoas, finalmente compreendi.

Já comentei antes, mas o tema é persistente. As simbioses nos relacionamentos são como Gremlins: no começo são até fofuxinhas, mas espera só alguém mijar em cima pra tu ver no que se transformam. Da posse e corporativismo à parcialidade e total falta de privacidade, vários dos tórridos casos del amor cotidianos abarrotam nuestros saquitos com suas manifestações recalcinofolejantes de mimetismo, comensalismo e até conurbação (onde os construtos fantasiosos de um fundem-se aos do outro).

Complicado. "Mas," - você poderia dizer sabiamente - "...cada um cos seus pobrema". Concordo. Até o momento onde isso não vem pro seu lado. Sim, vem, e quando vem... ê laiá. Até explicar que focinho de porco não é tomada (ou, como diria Irmã Dulce, que "O.B. não é chup-chup de vampiro") os danos já estão feitos. Você pode até minimizá-los com aquela ginga malemolente da cor do pecado, pero... evitar? Jamé.
Isso porque a equação da meia-laranja é uma das inefáveis Leis hortifrutigranjeiras do Universo; Lei esta que postula, entre outras verdades físicas, que dois idiotas enamorados têm de ocupar o mesmo lugar no tempo-espaço, nem que seja numa situação absolutamente impertinente para todos exceto a duplinha. Não tem jeito: Lei, amiguinho, (a menos que você seja o Maluf) é coisa séria!
Ah! E ela não é machista: vale para amigos e amigas de ambos os sexos e vice-versa, sendo pré-requisito apenas possuirem conjuges que substituam-lhes integralmente a individualidade.
É compreensível. Entre as sortidas modalidades de relação, há aquelas onde fulano(a) quer misturar amigos e lóvi-lóvi num mesmo ambiente para facilitar a vida. Até aí, joínha (desde que fulano et cicranos saibam separar as coisas, o que não é o caso dos mutualistas).

***

Vejamos uma alegoria do incrível mundo da Natureza que Discovery Channel jamais mostrou:

Deixa o 'Vida' me levar, vida leva eu...Imagine você, amigo de Bernardo* (nome fictício para fins ilustrativos), seguindo seu rumo num dia outonal. Caminha bem sozinho pela estrada à fora levando doces para a vovozinha quando, de repente, encontra Ela, a famigerada "muié do amigo". Aquela mesma que Bernardo disse um dia, todo enfático, que "a relação dos amigos com ela independe do fato dos dois serem namorados". Beleza.
Eis que ela inadivertidamente te cumprimenta com aquela intimidade que ninguém sabe de onde veio, dispara a falar um monte de coisas que você não quer saber e, de quebra, come todos os doces da vovozinha.
Então você pensa: "Vou lascar um hadouken na orêia dessa mula".
Então você repensa: "Deixa quieto, vou embora pra não fazer merda em consideração ao proprietário" e segue seu caminho, deixa o assunto em silêncio, em paralelo, pronto a evitá-la futuramente a fim de evitar conflito até que possa digerir o caso (e ela, os doces).
Tarde demais. Em algum momento seu amigo Bernardo intuirá que você 'ignora' a muié (claro, através dos comentários sinuosos da patroa - que em geral é burrinha mas manja tudo de intriga). Você pretendia conversar com ela depois (ou mesmo deixar pra lá), mas Bernardo já tomou as dores. E é isso: o circo está montado, rende três porções e não mais que de repente você está no meio de um 2 contra 1.

***

Poderíamos dizer "ah, mas os mutualistas tomam partido com ou sem razão, você sabe. É como o filho pentelho do compadre: você tem de deixar o satanás quebrar seus bibelôs sem falar nada, por consideração".
Pois eu digo: "Antes fosse, meu nobre leitor". Quando algo está definido, é mais fácil. Todos sabem que "mulher do amigo" é algo a tolerar-se como o carro dele que encheu sua calçada de óleo, ou o cão da família que resolveu serrar o pau na sua canela num dia de visita. Os amigos do amigo enamorado, cientes disso, tratariam de preparar o espírito para a realidade que se desfralda e pronto, tudo certo.
Mas não. Toda lei pode ser distorcida e os mutualistas só assumem sua condição fundamental em momentos específicos, também chamados etimologicamente de "convenientes". Tal como uma Petrobras que oscila entre comportar-se como privada ou estatal de acordo com a pauta, os mutualistas também balançam no muro e não raro postam-se como entes distintos que sabem separar as coisas.
Ele quer que vocês sejam amiguinhos, role ou não (e aí se não rolar). Ao trazê-la para o futebol, por exemplo, tá implícito no ato do Bernardo que você não pode tratar a namorada dele apenas como "a namorada do amigo" - ela tem nome, é alguém... e se preciso ele exigirá verbalmente a inclusão. Para mostrar como ele está convicto disso, diz que reagirá "super numa boa", entre outros adjetivos equivalentes que aparecem nas frases explicativas, que ele repetirá à exaustão até que você acredite. Perigo, Will Robinson!
Cedo ou tarde você perceberá a lógica: ela (chamemo-lo-emo-la Anêmona), segundo ele, deve ter todos os benefícios de um camaradão de boteco. MAS sem jamais ter de encarar um "vá tomar no entorno do pubococcígeo, puêrra" como todo cumpádi. Resumindo, 'comer a carne sem roer o osso'.
Então você aprende: jamais cair nessa conversinha, sob pena de peidar na frente da moça e cometer um pecado mortal aos olhos do colega.
Não perca tempo: por parir tal ideia de jerico, mande o bródi tomar no pubo etc, enquanto ele ainda considera isso um cumprimento normal entre camaradas.

É isso aí, amiguinhos! A natureza tem suas leis imutáveis mas é possível sobreviver a elas!
Já sua 'amizade'...

sexta-feira, 10 de julho de 2009

• Da série "Comadres & Compadres" - nº4


A foto diz tudo. Você olha e sabe: é a Gi, a Gi Creide Caipira.
A foto diz e as pessoas dizem também. Muita coisa:

  • A Gi é sobrinha da Tia Odete.
  • A Gi é radialista - e numa rádio, vejam só!
  • A Gi é cantora de música clássica e rainha dos motoboys.
  • A Gi é tudo o que a Pitty gostaria de ser se estivesse com Alzheimer.
  • A Gi é desenhista de mão cheia, entre outras coisas, de problemas de articulação.
  • A Gi é perneta, banguela e lesada, mas à parte de si tem todos os sonhos do mundo.

Enfim...

Eu acho a Gi genial, nonsense, divertida, criativíssima, ágil e afiada.
A Gi é porreta mesmo sem eu saber o que é isso - se bem que eu também não a conheço direito, então beleza.


Você não sabe quem é a Gi?
Nem eu, mas clique aqui para saber o que andou perdendo.


quinta-feira, 9 de julho de 2009

• Blog: dados de pesquisa nº5

Leitor de blogue e um bicho ingrato: completamos 1 ano de Uaderrel no dia 15 de março e nenhum dos milhões de expectadores deu parabéns, tampouco lembrou-se*.

DESNATURADOS
DUMA FIGA!




* (inclusive eu).

domingo, 5 de julho de 2009

O drama dos seres fragmentários é a fome pelo ABSOLUTO

O mais importante em toda afirmação é servir de marco ao processo. Mesmo quando defendemos posturas com unhas e dentes, tais bandeiras não devem ser carregadas e sim colocadas em mastros fixos ao longo do Caminho, posto que marcos. Posições simplesmente marcam um movimento de uma dança que morre quando congela em um passo.
Ao carregar uma bandeira sobre os ombros, você não tem como reavaliar: está lá com você, aproveitando seu eixo. Vire para trás e ela esconde-se em suas costas. Volte para a frente e ela se desfralda novamente para trás. Não há como notar o quão poeirenta, o quão surrada tornou-se. Os reparos, quase sempre tardios, vêm quando não há mais chance para além de remendos.
Nesse diálogo interno, onde buscamos fontes e luzes como que por instinto, reavaliar é a Grande Arte. Quase sempre difícil, não por ser complexa e sim por tocar nas emoções - e na fome imediatista por um ponto final. Afinal, o caminho é longo e cansa.
Quantas vezes já não peguei-me em discursos por justiça que beiravam o fascismo? Em contradições extremas em nome de uma lógica que, de início, parecia tão coerente? Em quantas brechas e sulcos já não tropecei nesse caminho?
Muitas, mas não tantas quanto nas vezes em que esqueci-me de que era apenas isso: um caminho.

A perfeição, a realização suprema, a felicidade eterna, a teoria unificadora, a verdade absoluta, a solução final, o encontro com Deus.
Nos esquecemos que nessa busca tudo é um momento... seguido de outros.

• Da série "Fwd: [Cuidado ao abrir !!!]"

Periquita com Piercings [Conteúdo explícito]




OBS: E-mails são mesmo coisas diabólicas, amiguinhos...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Evidência de que a mídia é manipuladora - nº1

...E ainda há quem creia nessas premiações. É auárdi daqui, é féstival dali, tópi faive acolá.
Bobagem, galera: não há nada de mérito, é tudo armado pelos interesses das gravadoras.

Senão, vejamos: Os ETs nunca tocaram nos nossos rádios e já ganharam disco de ouro!


Quantas cópias venderam os Incas Venusianos? Hein? HEIN?

sábado, 27 de junho de 2009

• Cachorros são seres intrigantes

Como pode um bicho,
cujo olfato é trocentas vezes
mais sensível que o nosso,
dormir cheirando o próprio
fiofó?

terça-feira, 16 de junho de 2009

• Viver não dá lucro

E é assim, de leve, com aquele jeitão de "vamos cooperar" e um amplo sorriso, que tudo vira merda. Tudo morre. Jesus morreu (se ressuscitou, já são outros quinhentos); o Gafanhoto shaolin morreu (é, mataram o Bill); os passageiros da AirFrance, o Elvis, o motor do meu Palio... até o Bella Lugosi, que já era morto. Vivo, mas morto. Dinossauro, a Dercy, as estrelas distantes... ninguém escapa.
Pois morreu também o tal conceito de sustentabilidade apregoado na virada do século por bancos, empresas e inocentes de toda espécie. Aquele conceito bonito de equilíbro sócio-ecológico nascido de imbigo roxo, como diria minha vó, posto que fruto de mãe desnaturada. Também pudera: ô ventre seco! Pois dava pra temperar a farofa ali dentro, viu. Responsabilidade social? Para bancos? Sim, claro; no dia que Nosferatu se contentar em chupar O.B.
Trouxa de quem acreditou que pelo menos 200 anos de mentalidade capitalista, somados a 600 anos de mentalidade exploratória expansionista, baseados em 100 mil anos de atividade predatória viral e devidamente temperados com um sistema límbico ávido e digno de um jacaré... fosse dar noutra coisa.Crescimento sutentável? Hum... Qual deve ser a taxa de crescimento de um órgão em relação ao corpo? Pela lógica do tumor neoliberal, até tomar tudo. E o câncer, amiguinhos, é aquela explosão de vida e fartura, vocês sabem. Um verdadeiro espetáculo do crescimento.
Epa. Mas meu exemplo é falho como toda metáfora de boteco: a expansão que dá corpo a essa insustentável sustentabilidade do ser está mais para gordura, daquelas típicas dos milhões de gringos obesos e, vejam só, desnutridos.

Poizintão. Dividida entre ficar viva ou aumentar a margem de lucro, a massa de gente perdida em abstrações intituladas corporações finalmente resolveu assumir o óbvio: não vai mexer uma puta duma palha para resolver a questão. Détis íti. Fueza-se. E bastou a atual crise econômica para cair a máscara (imaginem o que virá na próxima crise de crédito, quando a China parar com o bunda-lelê da importação de commodities, por exemplo).
Senão, vejamos. Eis a última pérola da tchurma que pensa que meio-ambiente é aquela salinha de apê de pobre:
Segundo a cocota Linda Cook, uma diretora da Shell, a empresa não vai mais investir em tecnologias de geração de energias renováveis como a eólica, solar e hídrica por não serem lucrativas [investimento esse que girava em torno de 1% de seu orçamento]:
"Essas alternativas tecnológicas não oferecem oportunidades de investimento atrativas. Se não houverem oportunidades de investimento, nós não vamos por o dinheiro. No momento, pensamos no biodiesel".

É isso aí, Linda, lindona, lindíssima Linda! Cook, mas cook mesmo e em fogo alto, senão o bolo não estufa.

Conclusão: não dá lucro manter o mundo em condições habitáveis, logo não é uma boa ideia. E não se pode deixar Oroboro$ morrer. Só o mundo, na cabeça desses fulanos, não morre. Esse aguenta tudo. Para sempre. Como o meu saco.

Ê saudade de quando eu achava que havia uma conspiração organizada por impiedosos seres superinteligentes para dominar o mundo...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

• Notícia exclusiva - Cinema

Shirley Temple interpretará Susan Boyle na infância


Em nota, o astrônomo Rogégio Mourão disse tratar-se apenas de um balão meteorológico, mas informantes que não querem ser identificados confirmam que o papel de mãe da Susan será interpretado por Luiza Erundina.
Procurada pela redação, a CIA não quis se pronunciar.

Fonte: Times New Roman

sexta-feira, 29 de maio de 2009

• Ah, como preciso!

Como preciso vencer esse réptil que há em mim! Trazê-lo à tona, junto de mim, pacificado! Sem deixar de sê-lo, mas a mim, comigo. Preciso vencê-lo para provar a mim mesmo que podemos vencê-los.

***

Minha escolha sempre foi a mesma, desde gurizinho. Faltavam-me meios, palavras e tons para descrevê-la, apontá-la e compreendê-la em todas as suas nuances, as quais ainda não alcancei (e provavelmente jamais o farei), mas que hoje, por alguma mágica desse universo, vem a mim para além do sentir, do intuir e do desejar.
Eu quero, concretamente, que minha raça sobreviva. Que a vida floresça e se espalhe pelo universo, que se some à outras, que construa e progrida. Quero reverter meu passo e abrandar a crítica ao positivismo, porque nele ainda há algo a ser dito e sentido. Algo que desvanece tão logo se adiante o passo na direção de um pessimismo cego, cínico e furtivo.
Abrandar, mas jamais perdê-la. O humor e a análise, velhas paixões, estarão comigo porque são mais eu do que 'mim'. A arte e o sonho, o magnetismo que une meus eus, finalmente formam grupo com as outras paixões e acenam para o trabalho conjunto.

Uma grande depressão, tão duradoura quanto aparentemente eterna, na verdade foi mal julgada pelo imediatismo que também há em mim. Tolice: a crise, a eterna crise, é o nome do jogo. E suas circunvoluções mágicas, suas espirais... são todo o sentido de que preciso em minha curta, frágil e tão íntima obra.

Quero o Cosmos. Quero espalhar-me, movido pela nova religião do Universo.
Nunca falei num eu tão coletivo quanto este. Quero para Mim todas as coisas que eu, com letras minúculas, jamais alcancarei. Que esse Eu Nós floresça.

***

Havia esquecido que dar voltas significa mais do que passar pelo mesmo lugar (a menos, claro, que você seja o mesmíssimo de antes - o que não é lá bom sinal). O mesmo lugar diz novas coisas, porque ele mesmo é um novo despertar dessa explosão gigantesca que somos Nós. Isso é o que diz essa estranha esperança revigorada que se abateu sobre minha cuquinha frouxa por demais atribulada. Hermetismos verbais do que é pura sensação e enlevo, para além das palavras. Pazes feitas com Deus, um reapaixonar-se pelas 'minhas coisas'.
Até a próxima tristeza, vagão de alegrias futuras.

***

Momento feliz. Revisitei um velho professor, do qual aprendi parte do que me forma e com quem infelizmente tive pouco tempo para ir além. Descobri, embasbacado, que sem saber cheguei em muitas de suas visões. Sou imensamente grato a esses professores e amigos que, com suas conversas, lembram-me aquilo que sou e qual meu pequeno propósito. Ser um elo na corrente pode ser magnífico, dependendo do que ela sustenta.

Carl, meu velho. Obrigado. Também penso assim.

• Elos (Galeria)

Mohenjo-daro, Babilônia, Athenas, Alexandria, Florença, Paris, São Paulo.

Sagan, Campbell, Jung, Zimmer, Nietzsche, Brecht, Ben Joseph.

Shakespeare, Pessoa, Márquez, Marcos, Wolf, Moore, Gaiman.

Da Vinci, Buonarroti, Gogh, Claudel, Brecheret, Kahlo, Gigger.

Harrison, Bowie, Gerrard, Buarque, Cartola, Grieg, Puccini.

Kubrick, Cohen, Felini, Hitchcock, Van Sant, Carvalho, Spielberg.

Hamilton, Ana, Atilio, Tuco, Mario, Mony, Renan.



E eu, o que sou pra vocês?


Grato.

terça-feira, 26 de maio de 2009

• Os muitos ciclos e espirais

...e é assim: de repente você sente que está perdendo as pessoas. Aí se lembra de que não se perde o que não se possui. E questiona todas as suas relações; as sagradas, as perenes, as fugazes, as condicionais, as passadas. Até coloca no mesmo tacho, encontra padrões e dilui lembranças. Vê-se, enfim, em seu estado original. Nota o vazio e pergunta a si mesmo se ele não é, afinal, você mesmo. O vazio de girar sem parar, em círculos levemente distintos, a expandir tangentes, ainda assim no mesmo eixo. E o eixo é silêncio. É imerso nele que você vive e se encontra, e percebe o quanto faz falta aquela luz curiosa que move a existência nesta sala de espelhos. E fica nessa, até que um lampejo, um soslaio, um movimento no canto do olho ou um reflexo de avião no céu te faça esquecer. E você volta a achar que faz parte de algo, que pertence, que será lembrado por mais de um mês e por mais de dez pessoas caso morra.
É vã a maior das vontades, a maior das vaidades.
Caçar vagalumes toma muito tempo da vida.

Apenas uma dúvida: Se a solidão é inerente à existência, por que não nascemos com a plena habilidade de sua aceitação?

quarta-feira, 20 de maio de 2009

• Lançamento! Tarot do Kaghanda!

Vocês pediram e ele chegou!

O incomensuravelmente recalcinofolejante
TAROT DO KAGHANDA!
Já disponível online!

Consulte Djá!

• A liberdade é a possibilidade do isolamento

És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre.
E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.

Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo, que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela. A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua vida se fadou. Por isso a morte enobrece, veste de galas desconhecidas o pobre corpo absurdo. É que ali está um liberto, embora o não quisesse ser. É que ali não está um escravo, embora ele chorando perdesse a servidão. Como um rei cuja maior pompa é o seu nome de rei, e que pode ser risível como homem, mas como rei é superior, assim o morto pode ser disforme, mas é superior, porque a morte o libertou.
Fecho, cansado, as portas das minhas janelas, excluo o mundo e um momento tenho a liberdade. Amanhã voltarei a ser escravo; porém agora, só, sem necessidade de ninguém, receoso apenas que alguma voz ou presença venha interromper-me, tenho a minha pequena liberdade, os meus momentos de excelsis.


Na cadeira, aonde me recosto, esqueço a vida que me oprime.
Não me dói senão ter-me doído."


B.S. (Livro do Desassossego)

terça-feira, 12 de maio de 2009

• Após exaustivas pesquisas, concluiu-se:




O MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE:
Viver pode causar câncer.


Duvida?
Os números não mentem:
100%
das pessoas que tiveram câncer estavam vivas.

domingo, 10 de maio de 2009

• Democracia - parte 1

"O pior da democracia
é depender de gente
que não está a fim
de participar"

sábado, 2 de maio de 2009

• Rita odeia gente burra

Talvez Rita odeie também gente pobre, mas isso eu não sei. Só o que ouvi de Rita é que odeia gente burra.
Rita odeia presidente Lula porque Lula é gente burra. Odeia também sex symbol Carla Perez, porque Carla Perez é gente burra. Rita odeia a recém-promovida Joana, porque Joana é gente burra.
Rita não se comove; sabe seu lugar. E ele há de chegar.
Eu não sei se Rita sabe, mas acho que Rita ama odiar gente burra. O Amor é uma necessidade, e Rita precisa odiar gente burra.
Sei que Rita não é gente burra: Rita sabe o que está fazendo. Rita é só um pouco injusta: não contabilizou quantas horas de conversa rendeu-lhe o assunto(e como fala, a Rita!); não se importa que odiar o doente seja diferente de odiar a doença, nem que odiar por odiar não mude os fatos. Não, minto. Isso Rita sabe. Rita não quer mudar os fatos, porque Rita ama gente burra.
Talvez, Rita seja também ingrata: Rita esquece do quão fundamental é gente burra no seu exercício diário de levantar-se da cama e olhar-se no espelho. Mal assume que aquele seu suspiro triunfal, entrecortado pelo escovar de dentes, vem do hálito da gente burra. Seus olhos ofuscados perdem foco da gente burra que, por apontar onde estão, mostram onde ela crê não estar e, assim, seu lugar no mundo. Rita sabe, é certo, que o mundo é injusto porque é feito de gente burra.

Eu não sei qual burrice Rita inveja mais, nem quais não quer ter, mas Rita é uma sortuda: tem todas e pode escolher.
Porque Rita é burra, mas não é gente.


* (nome trocado para preservar o Denuxo de processos).

• Caroço no Angu

Não sou chegado a dicas culturais e demais jabás em blogs generalistas como o meu, mas essa é imperdível. Meu compadre Gilmar Borbinha Barbosa, um dos mais versáteis e antenados cartunistas nacionais, tá lançando seu 4º livro, Caroço no Angu.
Virada Cultural taí, então aproveite e passe na livraria HQ Mix da Praça Roosevelt, 142 (colada na Consolação), que ele estará lá hoje (21:30) no lançamento do livro pra bater papo com a galera ("autógrafo é coisa de noveleira" - diria ele).



As tiras são ótimas, eu recomendo. Vi esse livro em produção (cansei de atrapalhar o Gilmar e até inspirá-lo aos gritos de Borbiiiinha*) e olha... ainda sobrou muita coisa boa pro próximo livro. Enquanto ele não chega, aproveite e cace a tapa por um exemplar de Caroço no Angu, que vale cada centavo.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

• "Bom... eu fiz a minha parte"

Quem diz isso quer um alívio pra consciência e não uma solução.

terça-feira, 28 de abril de 2009

• Uadefóqui is TUÍTI, mailóvi?


Sei lá. Tampouco sei pra que serve. Mas dei vazão ao cúmulo de credulidade do dia: o Gilmar disse que era legal e eu acreditei.
Tô lá, incrito no Tuíti, o mais novo genérico do orkut, quiçá um guaraná Dolly das redes sociais. Dizem que vai bombar, mas quem diz anda sem notícia melhor pra comentar, então não conta.
Fiz uma capa para a edição do próximo domingo (3/5) sobre o Tuíti, tão linda quanto recorrente. Resultado: A Época já havia feito uma praticamente igual e a FolhaTeen furou com uma semana de antecedência. Assim nasce o retrabalho, o ato de arcar com a teimosia alheia e perder tempo fazendo duas vezes a mesma coisa, apesar dos seus alertas.
Tudo bem. Recorrências acontecem, deu tempo de ajeitar as coisas, mas o fato é que tive de fazer uma inscrição no Tuíti e fiquei com preguiça de deletar. Aliás, preguiça, não: exerci o mais sublime e iconográfico exemplo de apego virtual e, pumba, não só o mantive como ainda meti lá um cabeçalho afrescalhado.
Pra que, não sei. Mas, como diria o finado Chupacabras, "por quê tudo tem de ter uma utilidade?"

quarta-feira, 8 de abril de 2009

• "O sabor da brisa de Champs-Élysées no outono"


Tem algo pior do que um Enochato?


Tem sim. Dois.
Essa supimpa categoria do esnobismo tem proliferado com uma força tremenda, quase tão rápido quanto o número de romelés americanos (que atualmente concorrem para saber quem tem a barraca mais transada no acampamento de hipotecados). Mas o enochato, ao contrário dos homeless, dá mais trabalho pra resolver - ainda que também seja um problema que ninguém sabe como não se pôde evitar em tempo. Não, amiguinhos, nenhum Obama miraculoso pode saldar as dívidas do enochato para com os nossos saquinhos. O enochato, como um câncer de esôfago, surge pra incomodar sem o benefício de inutilizar a língua, o que nos faz pensar que até o tumor evolui, menos ele.

Este é o mais firme expoente da velha vanguarda do pedantismo, seguido de perto pela categoria dos gastrochatos. E o pedante é algo complicado: depende de um semancol subjetivo, que não define em termos claros o que é de bom tom e o que não é. Você "sente" o pedante antes mesmo de entender. No entanto, a falta de referências não serve como desconto: o que é abstrato torna-se imediatamente concreto tão logo surje, brota e fervilha do nosso algoz - e nem precisa de contexto; aliás, quanto menos, mais fértil o terreno. Nessas horas, embora tenhamos plena noção de que há muitas coisas mais importantes, todo o nosso foco fixa-se naquele rapagote garboso, sentindo-se o Ó do forrobodó ao cambalear sua tacinha de caldo de uva entre os pares, que orbitam ao seu redor como anéis de Chaturno.
Reconheçamos: o Enochato chega a ser mais chato que este blógui.

Sejamos justos: um sommelier precisa (e sabe) avaliar vinhos - a maioria é paga pra isso. Há também bons enófilos que curtem todo o barato da coisa e não poupam esforços pra achar o melhor tom para o seu paladar. Nenhum problema em curtir um bom vinho. Pelo contrário: venho de família italiana e, não bastasse, tenho uma gastrite que seleciona vinho pelo grau de queimação. Gosto do negócio tanto quanto possível, sem frescuras. É ótimo você provar algo de qualidade, perceber como seu paladar se treina e percebe novos sabores, o calorzinho bom na bochecha, não encarar ressaca etc.

Mas...

Achar aroma de brisa de Champs-Élysées no outono numa porra duma taça de vinho é o ápice do lazarentismo recalcinofolejante!

Repare um dia, num desses programas de TV do tipo "ejacule com o falo alheio" e perceba O QUE os caras encontram no vinho. É supimpa: vão de nódoas do mosto do colostro de uma virgem dos Bálcãs ao sapore de uma caminhada pelo penedo de Vicenze ao entardecer ou a crepitância do Luar de Montenegro refletido na baía de Saint Tropez em abril.
Olha... torço para que encontrem um dia o suave sabor da gonorreia de mamãe. Porque só falta isso.

Gente... sou só eu ou alguém mais acha que o máximo que um picareta desses poderia encontrar ali seria o sabor de algo comestível? Algum aroma da madeira do tonel, algum tempero, um fungo, um tipo de uva, algo assim... mas... porra, aroma de entardecer? Tanino trufado com sovaco de Chinchila e fibra de amianto, nada, né? U-lá-lá.
Não é licença poética, porque esta é reservada aos poetas e não se concede a qualquer pelego, mesmo que tenha entre seus dedinhos sacolejantes uma taça cujo preço seja algo em torno de 200 euros (a primeira e mais importante coisa num vinho, claro). E, se fosse concedida, aí o agravante recairia sobre o péssimo mau gosto que o suposto degustador de vinhos tem em degustar palavras.

Ó-quei, continua subjetivo. Alguém pode dizer que isso varia muito, que falar de vinhos que custam milhares de dólares só ofende a quem se importa que outros passem fome, no que concordo. Fica realmente difícil pro enochato - que já era um chato antes mesmo de provar o primeiro goró - encontrar parâmetros.
Tentemos então definir os sete cabalísticos caminhos de ouro, em busca do perfil do Enochato quase-perfeito (considerando-se que perfeito mesmo só seria se morresse em silêncio):

A primeira característica do enochato é que ele bebe para os outros.
É isso aí: só bebe com plateia, senão bebia Sang de Boá mesmo. O ritual, o enfadonho e redundante ritual consiste em rebolar la tacita com dois dedos, reparar na viscosidade aderida ao copo, no odor dos bosques, na transparência, no copo do amigo, naquele cara da Fiesp com quem ele conversa... tudo, TUDO menos calar a boca, parar com a pose e curtir o tal prazer que o gosto e a chapância inerente ao mé propiciam.

A segunda: não importa o lugar, toda hora é hora.
Nada de reunir-se em vinícolas próprias para isso, ou numa roda de amigos em frente à lareira - que tem em casa e quase nunca usa - ou numa festa que jamais deu porque mancharia a chaise longue. Vinho não é bebida e confraterninação, é cartão de visitas! O Enochato convicto aproveita o batizado do seu filho pra perguntar pro padre se o vinho da missa é trufado com nódoas de carvalho. Aniversário de 1 ano do sobrinho? Belezura! Ele vai girar, cheirar e olhar contra a luz até a mamadeira do guri.

A terceira: neguinho nunca sente o aroma da madrugada em Atibaia.
É sempre um entardecer em algum point parisiense, suíço, primeiro-mundista, chique-benhê. Não importa que Londres fede a mijo de ale e fuligem - é melhor do que Paraty porque afinal é na Zorópa.

A quarta: enochato que se preza emenda outros ícones do bem-viver na sequência - nunca se sabe quando o vinho sairá de moda! São 4 mil anos em voga, mas de repente...
Pode ver: o bon vivant terá em sua geladeira um super-queijo maltado da glânde do Zebu das Estepes, um top chocolate escalafobético com guano de morcego, ovas de esturjão albino e lichia desidratada, bem como em seu bolso um estratégico cachimbo de raiz de roseira ou charuto enrolado nas coxas do João do Pulo, não importando se a mula proprietária não saiba não tragar, muito menos se fede pra chuchu. Ele não é um fumante: é um apreciador das boas coisas da vida que pretende narrar cada baforada, enquanto quem gosta de fumar ocupa a boca apenas fumando. E o bom enochato consome tudo de uma vez, sem confundir seu nobre paladar.

Quinta: um enochato sempre tem uma adega climatizada que jamais abre, senão para visitação pública. Aí reside a incoerência: um hedonista que se preza manda às favas todo tipo de precaução (ou avareza) e cai de boca nos prazeres. Sabe como é... carpe diem et correlatos - menos pro enochato. Se todo lugar é lugar, nem todo momento é pretexto. A gente bem sabe o que o faz devolver uma garrafa de vinho no restaurante, supostamente porque não está do seu agrado - resumindo, dá umas goladas, dá xilique, devolve e discorre sobre. Não, meus colegas: o enochato jamais "gasta" uma garrafa sua. Bebe dos outros - e bota defeito. Ignora completamente que levar o convidado para ver um rótulo empoeirado equivale a mostrar a calcinha que a filha vai usar na lua-de-mel: o visitante NÃO vai sentir o gosto, é só pra imaginar que alguém um dia botará a boca ali.

Sexta: um enochato convicto sabe (o) que você não sabe. Ele precisa disso para completar a encenação esnobe com máxima eficiência. Se você conhece a Europa, ele vai sentir a pujança da brisa de Vanuatu. Se você conhece Vanuatu, ele vai sentir as neblinas lúgrubes de Jupiter. O que importa é você dizer Oh ao final. A dica é dizer antes, pelo interfone, logo que ele chegar.

Sábado, digo, sétima: não importa quão bom seja o vinho que você oferece: ele conhece um melhor. Quer fodê-lo? Ofereça direto na taça, sem mostrar o rótulo. Quando ele perguntar, mande-o adivinhar. Aí nasce a saia-justa do enochato: ou ele assume que não manja porra nenhuma, ou chuta um palpite que pode depreciar o vinho e ofender o anfitrião... ou então terá de achar a brisa de Hapa-nui Setentrional ali mesmo no seu Almadén. Em todos os casos, os planos de pagar-de-gatão vão por água abaixo.


Com estas mal traçadas linhas, espero ter ajudado meus milhões de leitores a evitar esse mal do milênio. E assim despeço-me, pois vou sentir a adorável maciez do úbere da vaca Mimosa que deu o leite do meu Toddy numa manhã de orvalho.