quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

• Médica de Alma

A gente reluta muito com as novidades, não é?

Claro, não com as boas. Ou pelo menos com aquelas que demos o devido tempo para que mostrassem a que vieram. Sim, porque a gente quase nunca olha bem pras possibilidades, mais pelo hábito e pela desconfiança com todos os marketings que invadem nossas vidinhas do que por bem avaliá-las.
Pra ilustrar, digo que fui pela primeira vez num psiquiatra. Ou melhor, numa. Eu não me considero a última bolacha do pacote, mas até que tenho um básico de cultura pra saber que psicólogo e psiquiatra não são coisas pejorativas. Mesmo assim, relutei. Menos pelo clichê e mais pelo receio em falar.
As máscaras são fáceis: você liga o botão e os sorrisos saem até quando a alma está numa escala de azuis. As piadas brotam como um placebo pra esquecer da joenete no pé da alma. Falar de si é difícil, principalmente pra desconhecidos e mais ainda pra desconhecidos pagos pra te ouvir.
Eu sempre achei que havia um componente patético nessa relação, mas é fato que não há outra via. Uma vez que desaprendemos a conversar conosco e os bons amigos ouvintes de nossas lamúrias cedo ou tarde darão suas opiniões pessoais, o jeito é apelar pro profissional. Há quem não concorde com isso, mas se você pensar que seu amigo pode ter uma outra visão sobre você (em geral, a que você não quer), te julgar (isso, mesmo sendo amigo - gente comete erros com a melhor da intenções) ou seja lá qual for o caso, dá pra considerar melhor a outra hipótese. Foi o que aconteceu comigo, cansado de importunar quem gosto com as minhas manias e conversas subjetivas demais na hora do 'vamovê'.
Tomei coragem, marquei a hora e pumba, apareci. E olha que oportunidade de não ir não faltou: dia marcado errado, melhora no humor, coisa e tal. Mesmo assim, teimei.
Parece grande coisa, mas não é: nesses dias todos aguardando a consulta, cara pra diabo (dos que vestem Prada), imaginei mil discursos, argumentos e diálogos que uma mente mediana é capaz de produzir pra se proteger. Até chegar ao ponto onde pensei "vou dizer o quê?" e partir pro "o que sair, saiu" foi uma caminhada e tanto.

Os motivos. A gente sempre tem motivos pra cuidar do órgão mais estressado e maltratado de todos. Você vai umas 300 vezes no clínico geral, umas 400 no ginecologista e umas 50 no ortopedista. Mas vai no neuro só se desmaia ou treme, se viu na novela sobre coágulo no cérebro e encucou ou se foi achar sinusite em ressonância. Tratar a alma, Psiché, é algo relegado ao último plano, logo atrás do cisto cebáceo.

Médica de alma. Foi com essa frase que a psiquiatra me ganhou. Não é bom ouvir de uma representante dessa classe, que em sua maioria trata a mente como um subproduto de uma bioquímica idiota, auto-entitular-se assim de forma tão franca?
Foi um prazer. Quando ela disse isso eu notei que o negócio dela era software. Nada de remedinhos pra te deixar no piloto-automático sem sentir coisa alguma. O negócio ali é o ScanDisk. É o que eu queria. E é por isso que esse assunto vai aparecer por aqui mais vezes (ou tão logo eu tenha 180 Reais pra próxima consulta).

Pronto. Agora vocês poderão dizer, com toda a propriedade, que o papo desse vosso amiguinho é bem loko.

• E por falar em prazeres...

Bom suá, amiguinhos.
Minha cinturinha de pilão (industrial) não omite evidências sobre o meu prazer pela gastronomia. Não sou daqueles com tempo, dinheiro e mesancene para quitutar o mais incrível risco de molho com três salsinhas e 10 gramas de salmão do Chef Shavaske, mas adoro uma boa comida, daquelas que você explora com a língua pelos cantos da boca e vai sentindo as nuances.
Comer é tão bom quanto sexo (o que nos faz pensar se sushi erótico não é de fato alegria embrulhada pra presente).
Vai daí que eu adoro um bom azeite. Azeite mesmo. E olha, é difícil de encontrar. Já tentaram?
Tô há meses caçando o Beira Alta, eleito o melhor da categoria em custo/benefício segundo uma pesquisa da Pro-teste (de 2002, mas abafa o caso). Em segundo ficou o Carbonell, no que não discordo apesar de preferir os portugueses e italianos. O Gallo, o caro e pretensioso Gallo, ficou em oitavo, numa escala que incluía até a embalagem e a higiene.
Ainda não estamos falando de azeite com A maiúsculo. Aquele gregão metido a besta, só de 50 mangos pra cima (com a ressalva que muitos não valem 10). Quero o Beira Alta pra tirar aquela ondinha numa salada rotineira, o bambambam eu só abro em ocasião especial. Mas não abro mão de um bom azeite.

"Ma che puêrra de assunto é esse no seu blog, ó Denuxo?"

Bom, fazia tempo que não falava de amenidades suaves, né. Explico. Ontem fui pela primeira vez na psiquiatra (ó que legal, assinei o passe de pirado oficial) e papeamos sobre prazeres, as pequenas frescuras e rituais que cada um de nós mantém como símbolo de conforto. Sou rígido demais com certas coisas e, pensava eu, conforto pra mim era botar uma meia seca após uma trilha no meio do mato. Na verdade não é bem assim: eu os tenho, e muito. O azeite é um deles.
Já reparou como você conhece mais sobre as pessoas quando nota essas pequenas manias?
O jeito como sua namorada ajeita o chinelinho simetricamente antes de dormir, o modo como seu namorado afofa o travesseiro do mesmo jeito, como seu amigo corta a ponta do charuto... Sofisticação, estilo, tudo a gente concentra ali. E é uma pompa perdoável, divertida e, descobri, bem saudável.
É o momento onde você dá atenção a si mesmo, onde investe seu tempo e seus atos em nome de uma elegância íntima, feita pra agradar a si próprio. Não é falsa, não confundir com a frescuragem vip pós-moderna psicofuckinsocialite; nada daquela afetação burguesa a exemplo dos enochatos, que levam o ato ao extremo, jamais para si e sempre para o cara ao lado. Você não precisar encontrar no bouquet uma nódoa do aroma dos ventos uivantes de Lyon ao por do sol do meio-dia pra se divertir; basta apenas que desça encorpado e bata com gosto do estômago e no coração.
Você pode ter isso com feijoada, com um cigarrinho de palha, com lençol fresquinho, com aquela cachaça especial, com dois banhos por dia, com o cheirinho do carro novo... mas você pode ter e, mais que isso, deve.
Porque você merece.

Qual é a sua frescura?

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

• Questão Ética do dia

Você é um operador da linha férrea. Na linha principal há seis crianças brincando. No desvio desativado, há duas. No outro desvio desativado, há uma barreira de concreto. Um trem lotado vem pela linha principal e não há tempo para avisar as crianças.

O que você faz?


a) Desvia o trem para o desvio de concreto, colocando em risco centenas de vidas dentro do trem;

b) Desvia o trem para o desvio comum, onde estão as duas crianças;

c) Mantém o trem na linha principal, onde estão as seis crianças.

***

Quando aplicada, praticamente ninguém (a sério) responde com a alternativa a. A maioria das pessoas responde a pergunta com a opção b. Pensa-se no mínimo impacto: 2 crianças perdidas ao invés de 6.
P.S.: obviamente, a resposta muda quando uma das crianças ou um dos passageiros no trem é seu amigo e/ou parente.

Mas... reparou? Poucas se perguntam se não estão punindo justamente as duas únicas crianças que tiveram o bom senso de não brincar na linha principal, ao contrário das outras seis. Ou seja, punindo quem agiu certo. A Lógica questiona porque o mérito e a competência aparecem em segundo plano.

Na natureza, o idiota que se coloca em situação de risco tem o fim que lhe cabe. Não é culpa dele, nós sabemos, mas a natureza não pergunta: ou seus pais deveriam ter ensinado, ou ele próprio ter um talento maior que garantisse sua sobrevivência.

Mas falamos do mundo humano, cheio de escolhas, cheio de vítimas. Seleção natural não é um conceito justo, muito menos faz parte do senso comum. Seleção Natural é a desculpa habitual dos defensores de jogos excludentes. É com ela que justificam seus sistemas predatórios.
No entanto... justamente a coletividade, a menor das perdas e o maior número de sobreviventes são os conceitos que vêm à mente (e ao coração) da maioria das pessoas em emergências. O bem estar do maior número de envolvidos.

O que isso nos diz?
O que diz pra você?

• Notícias do Front nº 3

Alô você. Há dois posts gigantescos e naturalmente chatos aí embaixo, pra ninguém dizer que não escrevo mais nessa belezura. Quem mandou reclamar? Portanto não desanime, eu te apoio na decisão de parar por aqui mesmo e ir naquele site pornozinho garboso!
Eu iria (mas, como você, também não falaria, porque minha muié também lê esse blógue)!

Astaluêgo!