segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Caí duas vezes

Peguei um gripão lascado e caí de cama. Quase entrei na paranoia da gripe suína e caí na onda de achar que estava com isso. E ninguém aguenta mais esse assunto. Fui parar no hospital com febrão, tossão, dor nas juntas e mais alguma merda que eu não estava em condições de avaliar. Fiquei no Pronto-Atendimento das 4h da tarde até a meia-noite, o que dá um novo paladar a esse nome.
O que nos mostra que:

a) os fatos tornaram-se assuntos e, independentemente do curso de sua existência, tornam-se "cansáveis" como uma história repetida à exaustão, com prazo de validade baseado em seu Ibope e não em sua relevância. Acabe ou não, num dado ponto ninguém mais quer saber dele. A gripe A, como a AIDS, deixará milagrosamente de existir à medida em que sumir dos jornais.

b) Pude notar que a comunidade médica regozija-se em finalmente ter outra possibilidade de diagnóstico que não seja "virose". Agora seu bico-de-papagaio pode ser culpa do H1N1.

c) Os hospitais estão cheios, entre outros, de gente em busca de atestado médico. Nunca um atchim fez tanto pelo corpo-mole de alguns.

d) a única coisa relevante na Gripe A foi mostrar que, se um dia rolar algo realmente sério, como uma pandemia do capeta, o bicho vai pegar. Não há estrutura alguma - nem pra barrar doenças desse porte, nem para tratá-las em escala.

e) Ah você tem convênio caro? Má notícia: não adianta ter American Xpress no Xingu. Os hospitais particulares também estão cheios e estouraram suas cotas com uma doencinha com 0,5% de mortalidade. O lado bom é que você vai agonizar por horas numa sala de espera com piso de mármore.

f) Donald Rumsfeld, dono do Tamiflu (a 'vacina'), agradece pelos meses de paranoia. Se você não lembra quem ele é, tem mais é que ter medo de espirro mesmo.

g) Mais uma vez demonstro minha falta de empreendedorismo em não ter aberto uma vendinha de máscaras e álcool em gel. Droga.

domingo, 23 de agosto de 2009

KAGHANDA RESPONDE - Nº1

Anseios da Mulher Moderna - parte 1


Caro Kaghanda,

relacionamento vai, relacionamento vem, o mundo gira e eu nunca consigo pegar um Brad Pitt. O que faço?"
Balzaquian@ carente



Cara hermanita Balzaquiana,
Transfuêrme-ze en ESTA mujer" = >


Esta e outras palavras de Iluminação súperes supímpares você só encontra com o Divino e Amado Mestre Sri Swami
Kaghanda Yan Dandha


Dúvidas existenciais? Questões universais? Resultado do Enem?
Cobreiro, maloiado, tirícia e bucho virado?
Envie sua cartinha para o Kaghand@ Online!

Escreva djá!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Esta nação venera sociopatas - pte 1

Dê a mão e vão querer o braço;

Dê seu coração e vão querer casar;

Dê sua opinião e vão querer convencê-lo;


Dê uma olhada e vão querer seu dinheiro;

Dê um golpe em todos e vão querer um autógrafo.





Em terra de Sarneys, quem tem um olho, fecha-o.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

• :: EM PASSOS DE JÂNIO ::

Precisando de aventuras que a vida não comporta?
Vive a sofrer por um ligeiro e teimoso inconformismo adolescente, bem tardio?
Parabéns! Bem vindo ao clube dos idiotas.

Os hindus chamavam de Nirvana.
Os moderninhos chamam de "despertar da Matrix".

Eu chamo de cansaço.


E não importa.

sábado, 15 de agosto de 2009

Fumation or not fumation, détis de question

...O fato é que tá todo mundo de olho no cigarro.
Não sei porque tanto bafafá sobre a Lei anti-fumo em lugares públicos da trupe do humanista e filantropo José Serra.
Primeiro que esse tipo de lei no Brasil não significa muito nem sobrevive por longo tempo. Lembra da Lei seca? Poizintão! Poderíamos desfilar uma série de tópicos proibidos que ocorrem livremente (até porquê, ia faltar fiscal pra tudo isso).
Segundo que, reparando bem, a proposta não é tão ruim assim.

Acho que a lei é justa.

Talvez fosse ainda mais se liberassem aqueles donos de bares que quisessem ter só fumantes nos seus estabelecimentos, mas não teve jeito - local fechado onde serve comida não entra cigarro.
No começo fiquei bolado com essa lei, mas agora sosseguei.

Vejamos algumas vantagens para os fumantes:
quando você está num espaço onde fumar é restrito (casa de alérgico, consultório médico etc), tende a demorar mais pra fumar outro. E goró chama cigarro - todo fumante sabe que exagera quando tá num bar ou num lugar onde pode fumar à vontade (um maço que você consumiria o dia inteiro vai fácil-fácil numa noite). Assim, se tiver que levantar e sair, vai espaçar mais o tempo entre um e outro, vai avaliar se compensa fumar outro e não apenas acender por impulso. Como minha preguiça é quase tão grande quanto meu vício, já estou fumando menos (isso, claro, só é vantagem para quem tem essa intenção ou a de parar).

No bar, outro efeito interessante: os miguxos estão saindo conosco pra conversar lá fora enquanto fumamos, deixando na mesa apenas os malas mais preguiçosos que a gente. Isso nos leva à próxima vantagem.

Mais importante:
A questão do fumante atrapalhar a vida do não-fumante chega ao fim.

A lei faz mais do que apenas oficializar o que todo fumante educado (educado - 'consciente' não existe) e com algum semancol já tentava fazer; ela cria um efeito colateral interessante.
Com o appartheid, teoricamente, um não pode mais incomodar o outro, certo? É fumante de um lado e não-fumante do outro.
Pois agora os não-fumantes xiitas perderam seu argumento fundamental pra justificar a perseguição contra nós. Os malas terão de arranjar outro meio de nos atrapalhar (talvez entrando numa tabacaria pra reclamar - algo como um crente que vai catequizar no baile-funk).
Ou seja: daí pra frente, estaremos dentro da Lei e se continuarem a vir encher o saco, podemos mandá-los tomar no glorioso olho do cu com toda a propriedade!

***

Uma historinha*
Tive o prazer de passar por isso semanas atrás. Estava na calçada, ao lado de um cesto de lixo, quase na guia e sem atrapalhar a circulação. Um certo velho conhecido na região, caminhando até seu carrão a gasolina de alto consumo, resolveu passar grudado em mim (apesar da calçada, de uns 2,5 metros de largura, estar livre) e reclamar do meu cigarro na hora do rush.

"Um dia vão proibir de fumar na rua e aí eu quero ver!"

Baforei e fiquei quieto - ele provavelmente vai morrer bem antes desse dia chegar.
Fiquei curioso e pensativo quanto ao que leva as pessoas a definir prioridades sobre o que é nocivo num mundo de nocividades, quais escalas utilizam e que tipo de sortilégio faz com que aquele fulano que nunca ligou para cigarro de repente se invoque com o assunto. Já viu isso? Claro que já, tá lá no álbum de foto da família, 1975, a mulher com cara de massa de pão no quarto do hospital, o filho recém-nascido no colo, cercada daqueles parentes que vieram visitá-la, entre os quais aquela tia com o cigarrão aceso, fumando mais que puta presa. Isso: dentro do quarto da maternidade. Essa tia, se pudesse, cederia à sanha mortal de apagar o passado, tal e qual uma Xuxa a recolher VHS de Amor, Estranho Amor.
Pensei muito. Nisso e no quão é assustador notar que o puto do Brecht não morreu - o povo não deixa. Levaram professores, comunistas, operários. Hoje levaram os fumantes, mas quem não fuma não liga. E amanhã... não importa.

Uatéver. Pensa-se muita besteira quando fumamos.

Pois não foi sem algum prazer que sorri ao vê-lo, então, dar uns três passos e disparar a tossir com a fumaça que um veículo parado no trânsito vomitou na sua cara.
O mais interessante é que a uma lata velha sem manutenção é da empresa DESSE CARA, que é anti-tabagista convicto 'porque faz mal à saúde'.
Essa categoria vale um compêndio por si. Vocês sabem, é típico: aquele cara que te recrimina enquanto olha ávido pra sua tragada - daí ele respira fundo e na sequência discursa. Sua verve vem de ser ex-fumante, ou seja, de precisar caçar-nos pra se convencer a não ter recaída.
Caçar e sentar no rabo. Como quem faz cooper na hora do rush depois de 60 anos comendo torresmo. Ou como aquele pinguço mui ético, de discurso e fígado inflamado, que arrisca a vida dos outros no trânsito mas sempre fala do seu tabaquinho; nem aquele que 5 anos atrás não reclamava porque ainda não estava na moda caçar fumante, e por aí vai.
Pois graças a Deus e ao Serra, seu primeiro-ministro, tudo mudou. Só falta uma lei para que os proprietários de veículo poluente só possam ligá-los em garagem fechada. Mas, um passo por vez. O que importa é que como eles há muitos e, finalmente, caladinhos: cigarro agora é problema só nosso.

Quem diria, liberdade na limitação! Fumemos um Marlborão pra comemorar!

Portanto regozijem-se, fumantes: esse tipo de hipócrita que vocês bem conhecem também foi limitado pela situação. Imaginem sua tristeza sem um fumante por perto, sem o prazer de anti-tabagizar na nossa orelha; terão de abandonar o discurso furado 'daquele que só pensa no bem-estar do coletivo' e assumir que cagam e andam pros outros quando se trata do que OS PRÓPRIOS fazem de errado.

Será um prazer não dividir a mesma mesa com eles!

* (Ligeiramente modificada para preservar o blogueiro)


Nota pessoal: Boa notícia! O médico me mandou diminuir o cigarro (o que é ótimo porque, se eu não fumar, o cigarro vai continuar do mesmo tamanho!).

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

• Sociedade Viva Curintcha

Breinstórmi
Não sou dado a expor pessoalidades na web, mas creio que já sugeri isso nesse espaço amplamente visualizado por milhões de leitores
aróndi de uórdi. Então, é hora de assumir posturas.

***

Meu avô paterno fugiu com a minha avó para se casar (ele era filho do dono da fazenda onde ela era colona e por isso foi deserdado pelo 'culto' porém ignorante pai dele, meu bisavô). Meu véio era um tourão; só força física, mas tosco. Ficou cuidando da fazenda até os 18, antes de fugir com a minha avó, e mal estudou.
Teve 12 filhos, chegou a morar em igreja abandonada e cortiço. Calçava-se na noção de que, aos filhos, teto e comida garantida eram o que bastava da função de pai (diz a lenda que meu abastado bisavô era extremamente sovina e agressivo, mas não vem ao caso - ou vem?). Ou seja, cria que dava o que seu pai não deu.
Severíssimo, descia o braço nos filhos, chegando a cometer os mesmos erros paternos contra os quais blasfemou. Um dia achou que meu pai havia roubado uma gaiola de passarinho (havia ganhado do vizinho); o menino apanhou tanto, mas tanto, até mal conseguir levantar (mas teve de conseguir mesmo assim, pois era engraxate na época).

***

Há uma foto do meu pai, a única de sua infância, com uns 12 anos, descalço, shortinho surrado e camisetinha rasgada, jogando bola num terreno baldio da Petroquímica, no ABC Paulista. "Balé", assim apelidado pelos camaradas do futebol, era chamado para fazer gols e esquecido na hora do lanche. Pela janela, olhinhos vidrados na TV do bar (onde não podia entrar 'porque não consumia'), sonhava com a carreira de jogador e com o guaraná das mãos dos clientes. É, eu sou filho do Chaves brasileiro.
Esse homem abriu mão de muita, muita coisa. Estudou, ralou pra chuchu, dedicou 35 anos da sua vida ao trabalho, fazendo hora extra aos sábados (desde quando eu não entendia porque ele ficava com aqueles papéis ao invés de brincar comigo). Esse cara pagou o melhor colégio da região para que eu pudesse estudar em pé de igualdade. Chegou a dar 1/3 do seu salário investindo nos meus estudos. Queria que eu fosse arquiteto (ele trabalhava com engenharia civil), mas nunca negou dinheiro para materiais ou livros quando parti pra Comunicação e Artes (você tinha razão, velho!).
Ele só me dizia uma coisa: "você vai lá pra estudar, pra ter sua chance. Não se iluda com os colegas de escola, eles têm uma vida que jamais poderei te dar; vão falar de viajar pra Disney como quem fala em ir à padaria e terão coisas que não podemos comprar. Não se iluda, revolte ou inveje: aproveite a chance".

***

Esse cara, sem apoio, sem protecionismo de Estado, sem estrutura familiar, sem porra nenhuma, foi lá e fez. Era o 11º filho de uma mãe com 40 anos, mais uma boca para dar de comer, mais um pra trabalhar (e, se fosse pelo meu avô, eternamente na roça).
Mas ele teve interesse. Ralou pra burro enquanto os camaradas do bairro faziam filho atrás de filho (quando qualquer imbecil sabe que trepar faz nenê).
Arranjou finalmente um bom emprego (nem de perto o ideal, muito menos o mais digno para sua capacidade, mas agarrou-se à oportunidade). Casou-se e criou seus filhos com um carinho e dedicação ímpares. Pagou seus preços na vida (caros, muito caros). Aquele menino de origem humilde fez de tudo para nós e ainda se cobra de que foi pouco, chegando a chorar porque gostaria de dar uma casa para cada filho pra começarmos nossas vidas, pagar mais cursos etc.
Porra... Me deu tudo o que eu precisava e muito mais - o Balezinho engraxate, jornaleiro, ajudante de mecânico entregou-me tudo aquilo que não teve.

Se houvesse Enem no tempo dele, onde não estaria este grande cara?

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Acredito em mérito - aquilo que você faz com o que tem. Comove-me quem não tem oportunidade. Revolta-me quem não tem chance de mostrar a que veio.
Mas, para vagabundo que tem e esnoba, eu não estou nem aí.
Seja de qual classe for.

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S.V.C. (Sociedade Viva Curintcha)
As hienas são animais que comem carniça, trepam uma vez por ano e às vezes enganam-se pensando sobre si mesmos como reis da selva. Andam curvadas demais para mostrar os dentes aos leões, senão aos moribundos entregues como esmolas pelo Acaso.
Reproduzem-se como ratos e estão por todos os lados, do shopping à favela. E mesmo assim vivem rindo.
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EMPREENDEDORISMO
Todos sabem reclamar daquele mega-empresário que tem a cara de pau de dizer na entrevista que o segredo do seu sucesso foi 'ralar muito' (o couro alheio). Mas... reclamam por senso de justiça ou inveja? Você acha errado ou queria fazer o mesmo?
De um lado há os que falam em empreendedorismo como se fosse simples e dependesse tão somente de vontade (e não de dinheiro para investir, conhecimento a ser adquirido nem sempre disponível, justiça social, sorte etc).
Por outro, o assistencialismo mão-beijada dos politicamente corretos chega a provocar vômitos enquanto ignora que não se ajuda quem não quer ser ajudado.
Recursos. De onde vêm e para onde vão?

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NA SAVANA
Toda noite na savana, um leão sai para caçar. Ele tem de correr ou vai morrer.
Toda noite na savana, um búfalo é caçado. Ele tem de correr ou vai morrer.
Gnus pastam por todos os lados sem propósito além de alimentar jacaré, leão, leopardo. Um oceano de chifres e cascos. Milhares de gnus incapazes de dar um coice ou pisotear dois guepardos a comer-lhes a cria.
Gnus compensam fazendo filhos, muitos filhos, os quais Deus há de cuidar. Na savana, onde comem seis, comem sete e tudo bem: filho vai, filho vem. Sua vantagem numérica serve ao princípio de repor o estoque.
Na Natureza, o único critério para sobrevivência é sorte e força para viver. Quem corre mais, escapa ou janta. Isso porque 'ela' precisa de algum critério seletivo, algum meio de fazer seus recursos limitados não serem desperdiçados com má semente. Seria lindo se ela, segundo nossos mais humanitários princípios, promovesse meios de todas as sementes vingarem. Só tem um porém: mais sábia e mais velha que nós, 'sabe' que também somos limitados e este é só mais um sonho infantil, motivado por quem acha injusto haver justas medidas.
Como aos búfalos e aos gnus.

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O Governo não quer tirar ninguém da merda?
Fato. Mas tem uma malacada aí que não tá a fim de fazer força pra sair.
Sem essa de relativizar. Chega um ponto onde sublima-se tanto que um quadrado vira círculo em meia dúzia de volteios dialéticos. "Ah, fulano é lerdinho" ou "não teve boa criação" ou "tem miolo fraco". Tadinhos. Uma nação de tadinhos.
E? Que fazemos num sistema fechado de recursos limitados como a vida, onde nem todos podem passar ao próximo estágio? Não basta apontar para os dominantes que impedem o crescimento de quem merece.
Nos bons tempos cabia à natureza definir, mas não estamos mais guiados apenas por ela, para bem e para mal. Que fazemos nós, num mundo escasso?
Tenho um palpite. Investir em quem tem mais fome de vida. Até que se descubra um meio de fazer toda e qualquer semente vingar (coisa que nem a velha e sábia, a mais interessada nisso, conseguiu), o jeito é não desperdiçar recursos com quem não quer.

***

Quer dizer que malandrage não tem grana pra comprar um livro, mas gasta 200 mangos por mês pra ver jogo em estádio de futebol? Pois que morra antes que assalte alguém, não tô nem aí. Se não liga que seu 'estilo de vida' não dê futuro, que não reclame do futuro de sua vida.
Rapêize posando com pistola e falando prástico, todo meninão... Vai ver estão felizes com tão pouco (e nisso até os invejo). Que seja, façam suas escolhas e arquem com elas.
Só não me peçam importância. O meu, não roubei de ninguém.

Às favas com o discursinho generalizado de 'vítimas e coitadinhos'.
Coitado é quem acorda às 5 da manhã pra trabalhar e estudar à noite. Vítima é quem nem isso pode fazer porque está entregue à fome.

E viva o Curintcha.