terça-feira, 28 de abril de 2009

• Uadefóqui is TUÍTI, mailóvi?


Sei lá. Tampouco sei pra que serve. Mas dei vazão ao cúmulo de credulidade do dia: o Gilmar disse que era legal e eu acreditei.
Tô lá, incrito no Tuíti, o mais novo genérico do orkut, quiçá um guaraná Dolly das redes sociais. Dizem que vai bombar, mas quem diz anda sem notícia melhor pra comentar, então não conta.
Fiz uma capa para a edição do próximo domingo (3/5) sobre o Tuíti, tão linda quanto recorrente. Resultado: A Época já havia feito uma praticamente igual e a FolhaTeen furou com uma semana de antecedência. Assim nasce o retrabalho, o ato de arcar com a teimosia alheia e perder tempo fazendo duas vezes a mesma coisa, apesar dos seus alertas.
Tudo bem. Recorrências acontecem, deu tempo de ajeitar as coisas, mas o fato é que tive de fazer uma inscrição no Tuíti e fiquei com preguiça de deletar. Aliás, preguiça, não: exerci o mais sublime e iconográfico exemplo de apego virtual e, pumba, não só o mantive como ainda meti lá um cabeçalho afrescalhado.
Pra que, não sei. Mas, como diria o finado Chupacabras, "por quê tudo tem de ter uma utilidade?"

quarta-feira, 8 de abril de 2009

• "O sabor da brisa de Champs-Élysées no outono"


Tem algo pior do que um Enochato?


Tem sim. Dois.
Essa supimpa categoria do esnobismo tem proliferado com uma força tremenda, quase tão rápido quanto o número de romelés americanos (que atualmente concorrem para saber quem tem a barraca mais transada no acampamento de hipotecados). Mas o enochato, ao contrário dos homeless, dá mais trabalho pra resolver - ainda que também seja um problema que ninguém sabe como não se pôde evitar em tempo. Não, amiguinhos, nenhum Obama miraculoso pode saldar as dívidas do enochato para com os nossos saquinhos. O enochato, como um câncer de esôfago, surge pra incomodar sem o benefício de inutilizar a língua, o que nos faz pensar que até o tumor evolui, menos ele.

Este é o mais firme expoente da velha vanguarda do pedantismo, seguido de perto pela categoria dos gastrochatos. E o pedante é algo complicado: depende de um semancol subjetivo, que não define em termos claros o que é de bom tom e o que não é. Você "sente" o pedante antes mesmo de entender. No entanto, a falta de referências não serve como desconto: o que é abstrato torna-se imediatamente concreto tão logo surje, brota e fervilha do nosso algoz - e nem precisa de contexto; aliás, quanto menos, mais fértil o terreno. Nessas horas, embora tenhamos plena noção de que há muitas coisas mais importantes, todo o nosso foco fixa-se naquele rapagote garboso, sentindo-se o Ó do forrobodó ao cambalear sua tacinha de caldo de uva entre os pares, que orbitam ao seu redor como anéis de Chaturno.
Reconheçamos: o Enochato chega a ser mais chato que este blógui.

Sejamos justos: um sommelier precisa (e sabe) avaliar vinhos - a maioria é paga pra isso. Há também bons enófilos que curtem todo o barato da coisa e não poupam esforços pra achar o melhor tom para o seu paladar. Nenhum problema em curtir um bom vinho. Pelo contrário: venho de família italiana e, não bastasse, tenho uma gastrite que seleciona vinho pelo grau de queimação. Gosto do negócio tanto quanto possível, sem frescuras. É ótimo você provar algo de qualidade, perceber como seu paladar se treina e percebe novos sabores, o calorzinho bom na bochecha, não encarar ressaca etc.

Mas...

Achar aroma de brisa de Champs-Élysées no outono numa porra duma taça de vinho é o ápice do lazarentismo recalcinofolejante!

Repare um dia, num desses programas de TV do tipo "ejacule com o falo alheio" e perceba O QUE os caras encontram no vinho. É supimpa: vão de nódoas do mosto do colostro de uma virgem dos Bálcãs ao sapore de uma caminhada pelo penedo de Vicenze ao entardecer ou a crepitância do Luar de Montenegro refletido na baía de Saint Tropez em abril.
Olha... torço para que encontrem um dia o suave sabor da gonorreia de mamãe. Porque só falta isso.

Gente... sou só eu ou alguém mais acha que o máximo que um picareta desses poderia encontrar ali seria o sabor de algo comestível? Algum aroma da madeira do tonel, algum tempero, um fungo, um tipo de uva, algo assim... mas... porra, aroma de entardecer? Tanino trufado com sovaco de Chinchila e fibra de amianto, nada, né? U-lá-lá.
Não é licença poética, porque esta é reservada aos poetas e não se concede a qualquer pelego, mesmo que tenha entre seus dedinhos sacolejantes uma taça cujo preço seja algo em torno de 200 euros (a primeira e mais importante coisa num vinho, claro). E, se fosse concedida, aí o agravante recairia sobre o péssimo mau gosto que o suposto degustador de vinhos tem em degustar palavras.

Ó-quei, continua subjetivo. Alguém pode dizer que isso varia muito, que falar de vinhos que custam milhares de dólares só ofende a quem se importa que outros passem fome, no que concordo. Fica realmente difícil pro enochato - que já era um chato antes mesmo de provar o primeiro goró - encontrar parâmetros.
Tentemos então definir os sete cabalísticos caminhos de ouro, em busca do perfil do Enochato quase-perfeito (considerando-se que perfeito mesmo só seria se morresse em silêncio):

A primeira característica do enochato é que ele bebe para os outros.
É isso aí: só bebe com plateia, senão bebia Sang de Boá mesmo. O ritual, o enfadonho e redundante ritual consiste em rebolar la tacita com dois dedos, reparar na viscosidade aderida ao copo, no odor dos bosques, na transparência, no copo do amigo, naquele cara da Fiesp com quem ele conversa... tudo, TUDO menos calar a boca, parar com a pose e curtir o tal prazer que o gosto e a chapância inerente ao mé propiciam.

A segunda: não importa o lugar, toda hora é hora.
Nada de reunir-se em vinícolas próprias para isso, ou numa roda de amigos em frente à lareira - que tem em casa e quase nunca usa - ou numa festa que jamais deu porque mancharia a chaise longue. Vinho não é bebida e confraterninação, é cartão de visitas! O Enochato convicto aproveita o batizado do seu filho pra perguntar pro padre se o vinho da missa é trufado com nódoas de carvalho. Aniversário de 1 ano do sobrinho? Belezura! Ele vai girar, cheirar e olhar contra a luz até a mamadeira do guri.

A terceira: neguinho nunca sente o aroma da madrugada em Atibaia.
É sempre um entardecer em algum point parisiense, suíço, primeiro-mundista, chique-benhê. Não importa que Londres fede a mijo de ale e fuligem - é melhor do que Paraty porque afinal é na Zorópa.

A quarta: enochato que se preza emenda outros ícones do bem-viver na sequência - nunca se sabe quando o vinho sairá de moda! São 4 mil anos em voga, mas de repente...
Pode ver: o bon vivant terá em sua geladeira um super-queijo maltado da glânde do Zebu das Estepes, um top chocolate escalafobético com guano de morcego, ovas de esturjão albino e lichia desidratada, bem como em seu bolso um estratégico cachimbo de raiz de roseira ou charuto enrolado nas coxas do João do Pulo, não importando se a mula proprietária não saiba não tragar, muito menos se fede pra chuchu. Ele não é um fumante: é um apreciador das boas coisas da vida que pretende narrar cada baforada, enquanto quem gosta de fumar ocupa a boca apenas fumando. E o bom enochato consome tudo de uma vez, sem confundir seu nobre paladar.

Quinta: um enochato sempre tem uma adega climatizada que jamais abre, senão para visitação pública. Aí reside a incoerência: um hedonista que se preza manda às favas todo tipo de precaução (ou avareza) e cai de boca nos prazeres. Sabe como é... carpe diem et correlatos - menos pro enochato. Se todo lugar é lugar, nem todo momento é pretexto. A gente bem sabe o que o faz devolver uma garrafa de vinho no restaurante, supostamente porque não está do seu agrado - resumindo, dá umas goladas, dá xilique, devolve e discorre sobre. Não, meus colegas: o enochato jamais "gasta" uma garrafa sua. Bebe dos outros - e bota defeito. Ignora completamente que levar o convidado para ver um rótulo empoeirado equivale a mostrar a calcinha que a filha vai usar na lua-de-mel: o visitante NÃO vai sentir o gosto, é só pra imaginar que alguém um dia botará a boca ali.

Sexta: um enochato convicto sabe (o) que você não sabe. Ele precisa disso para completar a encenação esnobe com máxima eficiência. Se você conhece a Europa, ele vai sentir a pujança da brisa de Vanuatu. Se você conhece Vanuatu, ele vai sentir as neblinas lúgrubes de Jupiter. O que importa é você dizer Oh ao final. A dica é dizer antes, pelo interfone, logo que ele chegar.

Sábado, digo, sétima: não importa quão bom seja o vinho que você oferece: ele conhece um melhor. Quer fodê-lo? Ofereça direto na taça, sem mostrar o rótulo. Quando ele perguntar, mande-o adivinhar. Aí nasce a saia-justa do enochato: ou ele assume que não manja porra nenhuma, ou chuta um palpite que pode depreciar o vinho e ofender o anfitrião... ou então terá de achar a brisa de Hapa-nui Setentrional ali mesmo no seu Almadén. Em todos os casos, os planos de pagar-de-gatão vão por água abaixo.


Com estas mal traçadas linhas, espero ter ajudado meus milhões de leitores a evitar esse mal do milênio. E assim despeço-me, pois vou sentir a adorável maciez do úbere da vaca Mimosa que deu o leite do meu Toddy numa manhã de orvalho.

• Mais evidências da estupidez do blogueiro nº5

Eu pensava que os blogues ficavam vazios quando as coisas melhoravam na vida do blogueiro. Era batata: blog parado? Podia crer que o cara estava namorando, a moça tinha arrumado um emprego, a senhora tinha recebido uma nova receita de fluoxetina e o senhor arrumado outra amante.
Pois vejam só como é a falseabilidade da metodologia científica, amiguinhos. Este incomensurável bem da sabedoria da humanidade que, como toda sabedoria, não lhe pertence, nos traz exceções à regra. Claro, falseabilidade não é bem isso, mas soou bonito e parece até que eu sei do que estou falando.
Após minha longa ausência, sentida por milhares de fãs perdidos no Triângulo das Bermudas de popeline do além, passei por alguns blogs e notei a velha matemática: o namorante, trepante e enricante dovarante não postam mais. Voltam brevemente, ao menor sinal de desequilíbrio na balança de usufrutos da vida humana, mas o que importa é que no momento se ausentam.
E eu, por que tão ausente?
Não sei. Por desgraça não é, graças. Os problemas sempre existem e dou atenção a eles na mesma medida em que não dou. Perdi meu avô, coisa e tal, mas isso na pior das hipóteses renderia um bom post. Essa desculpa não cola.
Eu podia dizer que perdi o tesão de postar, o que seria mentira porque é mais fácil eu perder a fome do que a vontade de falar mais que o hómi da cobra. Também podia dizer que o mundo virtual me cansa por que os temas do mundo são sempre os mesmos, dos quais fala-se e fala-se e nada muda. Não seria mentira, mas faltaria aquele agente egoista que define o peso maior de toda equação humana.

O fato é que eu não levo adiante nenhum projeto que começo e que demande muito tempo (não à toa minha rotina de trabalho é imediata e não se arrasta para além de um mês). Não consigo: mil e uma ideias sobrevêm à cuca e logo logo estou em débito com aquela história inacabada, aquele quadro jamais começado, aquela crônica sem final, aquele I.R. pra fazer... (e, pela sequência de escolha dos exemplos, dá pra ver como defino bem prioridades).

Coisa de brasileiro? Sei não. Mas acontece. E a gente nessa época maravilhosa tem à disposição todo um armário vip cheio de prateleiras, um verdadeiro shopping center de desculpas. Falta de tempo, por exemplo, ocupa um andar inteiro.
Mas não é bem assim: há tempo. Mal aproveitado, mas há.
Por que não damos conta do nosso tempo? Por que o perdemos com orkuts, com conversa fiada, com aquele programa de bicho do Discovery que já decoramos a narração?
Talvez porque estejamos cheios de tanto "preciso" e tão pouco "quero". Talvez porque o que queremos realmente não seja nada ligado ao dever, ao horário marcado, ao "tenho de". Talvez porque nosso tesão não esteja lá. E o mapa do tesão... ah, o mapa do tesão... esse, nenhum shopping center tem bem exposto no hall de entrada!

Uatéver, blogues tomam tempo. Mas não é, afinal, nenhum tempo além do que disponho para perder com outras tolices. E quem irá dizer que não há utilidade no inútil?

• Kaghanda Yan Dandha vos diz


"Vivemos tempos tão modernos que médium já baixa psicografia em PDF"
Kaghanda 10 Xenical 13
Sri Swami Kaghanda Yan Dandha ॐ
em "Throcadilhanda Yan Dandha -
a Iluminação através da Infâmia" - 69ª edição


Editora "Para Gostar de L.E.R."

ISBN 0394583904-308

Kaghanda vos diz nº4