segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Download de músicas X desproporção de mercado

Pirataria. Taí um assunto legal. Pintou outro dia num forum do qual participo e achei interessante o rumo que tomou. Eis a minha opinião (que ninguém perguntou).

Dizem que a 'pirataria', termo abrangente demais para situações bem distintas, desestimula a indústria nacional.
Olha... não sei vocês, mas eu não vejo porque ter dó de empresa alguma. Primeiro, porque é impessoal. Segundo, ninguém nunca teve dó dos meus negócios (e não reclamo); nem clientes nem o Imposto de Renda, nem as Leis de Incentivo ao Microempresário que nunca chegaram. Dó não cabe onde vale a máxima de "quem não pode não se estabelece". Se é assim com as empresas que geram emprego no meu país, que dirá com aquelas que repassam os lucros para fora.
Pois... cá entre nós... quero mais é que a indústria nacional(multi?) se exploda por achar decente cobrar 1/5 de salário mínimo numa porra dum disco de plástico perecível (ao contrário do alegado). Esse grau de ganância desestimula é o meu país - a única corporação que de fato me interessa - como o fazem também outras empresas, que acham coerente indexar preços de produtos nacionais em dólar.
E mais: no meu entender, isso estimula a pirataria ao invés de coibir. Não interessa que música seja item supérfluo e não de primeira necessidade, baseado naquele papo de "quem não pode, não compre"; não se justifica e o impacto de seguir essa linha de raciocínio seria comprovadamente pior, pela redução da abrangência e exposição do artista. Por isso - tcharaaam! - as gravadoras não vão pra cima pra valer. São tudo, menos burras.

Dizem que o Brasil é um dos países onde rola mais pirataria. Sem dúvida há muito malandro que pode pagar fácil, mas pirateia até CD do Tchan. É a tal Lei de Gerson e não vou me estender sobre esse tipo de parasita, que vê grandes lucros em piratear um CD de 5 Reais com uma mídia de 2,50.
Mas, pensa comigo... quantos % do orçamento de um norte-americano e quantos de um brasileiro um DVD compromete?
Se um DVD custasse US$ 300 (1/5 do salário mínimo de US$ 1.500), será que um americano médio não piratearia? Fica a pergunta.
Numa situação ideal, equiparar preços (numas, porque aqui não raro são mais caros) só se justificaria de fato se houvesse equiparação de poder de compra (claro que em economia não é bem assim, o processo é mais complexo e amoral - uma dada fruta não é mais cara em Portugal apenas porque é cotada em Euros e sim pela facilidade de aquisição, por ex). Mas não dá pra meramente converter o câmbio e dane-se. Usa-se a desculpa de concorrência internacional - como a Petrobras, empresa estatal que explora NOSSO território e extrai NOSSO Petróleo, mas cobra-nos o combustível pela faixa internacional, quase como se estivéssemos importando. É claro que não justifica, tanto que alguns países têm o bom senso de cobrar mais barato de seus cidadãos pelos produtos internos. Além do mais... a Zona Franca exporta Ivetes Sangalos pra quantos países?
Cúti de bulchiti, maifrém.

No caso das gravadoras, estava claro que isso incentivaria o mercado negro tão logo houvesse chance (e, veja só, apesar disso ninguém fechou com o preju, apenas diminuiu a margem - absurda - de lucro). A Internet, e de modo mais amplo a informática, foi um dos meios encontrados para uma demanda latente.

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Download grátis de mídia VERSUS compra de camelôs

A reação patética das gravadoras, de oprimir um ou outro consumidor como forma de 'exemplo' (método que não funciona nem com bandidos), beirou o ridículo quando chegou ao ponto de botar "seus" artistas para falar. Ora, o artista ganha o grosso de seu dinheiro com shows; o CD funciona principalmente como divulgação. Aquele que tiver a maior participação nas vendas de disco no Brasil mal deve passar de 8%, 10% - e estou falando de um Roberto Carlos, por exemplo.

Eu quero incentivar meu artista preferido a continuar produzindo, não o intermediário. Quero pagar diretamente pra ele, quando gosto. E há como: tanto é que o RadioHead, só pra citar um exemplo, lançou num site um pacote independente de músicas onde você pagava o quanto quisesse - e encheu o rabo de grana. No Brasil, Nasi e Lobão vão muito bem, obrigado.
Portanto, sem esse papo de "se fosse aqui, não iam levar doirreá" - a gringaiada pagava em centavos e mesmo assim funcionou - porque de fato é exatamente isso o que os artistas ganham por música. A diferença é que a maior parte do dinheiro foi pra eles.
Ou seja: foi-se o tempo onde, para conhecer um artista, você teria de arriscar-se comprando um CD onde, em geral, viria a gostar de uma ou outra música. Ou pior, teria de conhecer apenas via Rádio ou Faustão (o Chacrinha do Apocalipse), num sistema de mídia onde só toca aquilo que os cartéis decidem. Traduzindo, o que as gravadoras querem é manter um sistema ridículo onde a mocinha da amostra grátis, no supermercado, cobra pelo cafezinho provado. Só não entenderam o recado: não precisamos mais delas. Nem nós, nem os artistas.

Para mim, o que há é uma mudança de paradigma na forma como se consome entretenimento audiovisual e, como sempre, as corporações são as últimas a se adaptar.
Nesse sentido, o que chamam pirataria eu vejo como novo fluxo.

O ridículo, creio, é comprar CD pirata que vai financiar arma pro tráfico, mas aí já é outra história.

Pode ter certeza: se você assiste um ou outro filminho no computador mas vai no cinema se gostou, ou se você escuta uma ou outra musiquinha na internet mas vai no show do seu artista, não só está incentivando que mais daquilo que você gosta continue sendo produzido, como evita que gravadoras decidam o que você deve ouvir.


P.S.: que ninguém venha dizer que esse post é uma apologia à pirataria - até porque os Selos já fazem isso muito bem sem mim.

Complexo de Hermitão

Vocês por acaso sentem-se (ou já sentiram-se) cansados de gente?

Olha, eu sei que soa antipático pra chuchu dizer isso justamente num blog onde os chegados leem, mas... por favor, não entendam mal. É que ando um tanto de facová cheio dessa coisa de 'jogo social': apresentação/forma-se um grupo/grupo cresce/membros brigam/sub-grupos separam/sobram um ou outro no final.
As intrigas, as fofocas, as redundâncias humanas, a falta de honestidade consigo próprio, que faz com que peneiras intermináveis fiquem cortando um e rompendo com outro sem saber bem o motivo. Até de polêmica ando correndo, coisa que eu achava totalmente fora da minha natureza. Baita sensação de Dejavu.
Não consigo mais ver meus velhos grupos como se a eles pertencesse, e ao ver novos com as mesmas sementes de sempre, o cheiro de desarmonia iminente me coloca pra correr. Algumas palavras perdem cada vez mais peso na boca dos outros, e crescem em valor lá dentro da alma, como o daquelas pessoas de olhar franco pra dentro do seu; como "Amizade", essa palavrinha prostituida por demais. "Amor", então... ô palavra mais Bruna Surfistinha, meu Deus.
Troca de quantidade por qualidade? Sei não.
Dá vontade de ficar quietinho, no canto, uma cerveja na mão e não mais que um sorriso. De lábios selados.

Vocês já tiveram isso e passou ou esse troço é permanente? [:o]

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Uma (nova) rasteira da informática

Quase um mês sem postar, perdido em desafios tecnológicos.
Essas semanas de trabalho intenso levaram-me ao velho pensamento (hoje, clichê - como tudo nessa Era, que envelhece em poucos meses): a informática veio para facilitar a vida. Só não escolheu ainda a de quem.
Não me entenda mal. Adoro um gadget novo, não sinto saudade do arado e acho ótimo poder falar com gente a 12 mil quilômetros de mim como se estivesse ao meu lado. Vivo de informática, essa ferramenta que muitas vezes foi uma mão na roda (ou cursor?) pra minha criatividade.
Mas... não te parece estranho que, cada dia mais, somos nós que temos de nos adaptar às ferramentas, e não o contrário?

Na faculdade, me lembro bem, havia uma tal de ergonomia, o estudo da perfeição com que um dado objeto se ajusta ao usuário. Taí, seja lá o que aconteceu a ela, sinto por ter sido esquecida nessa equação invertida do novo milênio.
Me pergunto se falta muito pro dia em que as pessoas terão de fazer pós-graduação pra mexer numa calculadora. Deve ser divertido pros desenvolvedores (aqueles nerds vingativos) mudar de lugar os comandos e inventar novas modas, cheias de salamaleques, para fazer algo que você, em sua modéstia pragmática, gostaria que fosse feito ao simples toque de um botão.
Não era esse o sonho, afinal? Esses moleques com sobrepeso do passado, ávidos espectadores de Jornada nas Estrelas, não desejavam também aquelas quinquilharias exóticas, cheias de blips, blaps e nenhuma complicação?

Na informática de hoje, basicamente queremos uma pizza, mas teremos de nos adaptar ao fato de ser feita com areia porque o desenvolvedor achou que não-perecível é mais viável.
E a alternativa é comer o pastel de cimento do concorrente.

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Não sei vocês, mas não quero ter de pensar (ou pior, fazer malabarismos) pra convencer a chave-de-fenda a fechar o parafuso. Quero apertá-lo e pronto. Não sou micreiro, sou um usuário comum.
Será pedir muito aos especialistas, tão encantados com suas complexas caixinha mágicas de L.E.R. e desgosto?

Na boa: se eu perder mais um centavo (ou minuto) com computadores, volto à caneta.
(E à fila do seguro-desemprego, claro!)