domingo, 26 de dezembro de 2010

Jornada ao mundo Nerd - parte 1

Em novembro de 2010 surgiu a ideia entre os colegas de trabalho. Sempre rola uma festa de fim de ano e dessa vez pensamos numa à fantasia. Passaram-me duas apreensões pela cabeça:
a primeira, que talvez fosse bem difícil ao povo aderir (festas à fantasia sempre equilibram-se entre a diversão e o ridículo);
a segunda... com que puerra de fantasia eu, um gordinho mui atlético, poderia ir?
Andava bem entediado e sentindo falta de botar a mão na massa (quiçá, arranjar sarna pra me coçar) quando li sobre uma possível sequência dos Caça-Fantasmas e... PUMBA! Lembrei que na infância sempre quis empunhar o famoso feixe de prótons. Claro que isso foi esquecido tão logo eu comecei a beijar na boca, mas não vem ao caso aqui. O ponto é que o personagem é divertido, tosco e suficientemente adaptável a um heroico barrigudinho como djô.
Estava decidido. A festa seria dali a um mês e eu teria um tempinho pra ajeitar tudo.

***

A META

Seu nível de exigência depende sempre (e para qualquer coisa) de dois ou três fatores: seus recur$os (tempo, dinheiro e habilidade) e seu objetivo(que, no meu caso, depende também da profundidade de contato com o assunto).
Defini então os primeiros gols: tinha de ser prático, relativamente barato e leve o suficiente para brincar na balada sem problemas.
Era hora de ver o que dava pra fazer.

A PESQUISA

Resolvi estudar. Até então minhas referências não eram grandes: adoro os filmes, gostava dos desenhos e havia desenhado bastante o tema quando guri. O problema foi que eu estava prestes a mudar a tal profundidade de contato que altera a meta.
O que encontrei na busca foi ao mesmo tempo encantador e broxante: existem foruns, comunidades e fans não só desse mas de outros filmes - universos inteiros - que levam a brincadeira a sério, num nível que jamais pensei possível.

Cortando as divagações... achei os mais variados projetos, plantas, fotos de referência e tudo mais o que se pode imaginar. E frustrei-me um tantinho (surpresa) ao ver que as melhores fantasias de caça-fantasmas já haviam sido feitas, anos-luz mais elaboradas que as peças cenográficas dos próprios filmes. O fato é que os mega-fãs usam alumínio, fibra de vidro, resina, alta eletrônica.
Não haveria de ser esse meu objetivo, portanto. Mas já não bastava uma caixa de papelão nas costas depois de tanto encher os olhos.

PLANEJAMENTO
E PRODUÇÃO
É preciso dizer que dei muita sorte nessa empreitada. Usei muito a boa e não tão enferrujada intuição. Entrei no cômodo de tralhas em casa e saí caçando sucata. E elas vinham à mão como milagre, assim como vieram tantas outras partes nos depósitos, bazares e lojinhas. "Isso serve aqui, isso serve acolá" e logo eu já tinha uma visão geral de como seria. Dois ou três dias depois de caças bugigangas, empilhei tudo no chão e cheguei nisso aqui.
Bom... tudo em mãos (ou quase tudo), chegou a hora de montar. O mais difícil foi equacionar na minha cuca o senso de "já tá bom" com o de "podia ser melhor". Não foi raro voltar às lojas e comprar um parafuso tal, um cotovelo X, um conduite Y. E tome cola de sapateiro, parafuso, dedo cortado, mão suja.

Finalmente cheguei ao meu primeiro proton pack (um tanto incompleto - quero arrematar umas firulas - mas pronto para a festa).
E olha aqui como fiquei tosco hehehe! E aqui, o vídeo.
Umas 110 horas de trabalho, algum dinheiro e muito jogo de cintura depois, nada ficou perfeito aos olhos de um fã, mas tudo funcionou otimamente bem aos meus (e aos da balada, que juntou 80 e poucos malucos numa madrugada de terça-feira chuvosa). A galera riu, eu me diverti, tudo piscou e acendeu sem muito peso (beira a uns 4kg) ou calor e, agora, já tem amigo querendo tirar foto com a roupa (que, sim, é ajustável e serve em gente maior que eu) e até proposta de compra recebi.

Assim foi minha supimpa jornada pelo universo mágico da Nerdolândia artesã, que certamente terá novos posts (embora esteja certo de que ninguém jamais me verá vestido de Pikachu numa Feira de Quadrinhos).

P.S.: Se eu faria tudo novamente?
Não vejo a hora de fazer a próxima, pô!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Um prazer, uma honra nº 2


falei disso anteriormente e não canso de repetir: uma das melhores coisas na minha vida profissional é poder trabalhar na dupla dinâmica Diarinho/D+. Para quem não sabe, trata-se de um dos mais premiados suplementos infantis do jornalismo brasileiro e um marco histórico do grande ABC paulista.
Cá entre nós, não tem Folhinha, Folha Teen, Estadinho ou Revista Recreio que vá tão longe com tão pouco como nós. Os colegas de outras redações que me perdoem, mas sabem que digo a verdade. E, ainda no terreno das opiniões parciais, digo que enorme parte disso é mérito da Teresa Monteiro, a alma do caderno, e das canetadas do Fernandes (nem vou recomeçar a tietagem, que nesse blog já tem muito).

No dia a dia, atendo às mais diversas editorias do jornal. Crio infos, animações, informo e divirto. Mas nenhuma faz o mesmo por mim do mesmo modo que o Diarinho. Simplesmente porque era eu o garoto leitor lá nos idos dos anos 80, o menino curioso que se encantava com os desenhos dos mestres (alguns dos quais tenho o prazer de chamar de colegas de trabalho e amigos).
Eu nunca, nunca imaginei que fosse, de fato, trabalhar na produção de um material tão importante pra mim. Quando criança, bastava a ideia de poder mandar um desenho meu e vê-lo, com alguma sorte, publicado.
Trabalhar no lugar que ajudou a desenvolver em mim o desejo pela arte e comunicação tem algo de mágico, de destino, como gostar de crer. Tudo isso para um público que, para mim, não podia ser melhor.

Sejamos diretos como ele: criança ou ama ou odeia. Vê o que não vemos, se importa com o que importa e se você pisa na bola, tchau. Não há politicagem ou anos de preconceito decantado. É o mais severo e também o mais frágil de todos os setores, o que por outro lado permite um mix de responsabilidade e diversão inalcançável em outros públicos. Se erra no traço, 'tá feio'. Se erra na informação, 'tá errado'. E ponto. Criar jogos e trazer notícias para uma galerinha dessas é como matar um leão por semana, mas vale cada minuto. Os comos, os porquês, os jogos... tenho cada um na memória assim como quardo os que lia e fazia quando criança, todos os domindos, lá na casa da Vó Ana.

É com muita honra que comemoro o meu pedacinho nesse sucesso enorme que completa agora 2.000 edições. Desejo - e talvez consiga - estar aqui para comemorar seus 40 anos em 2012. E espero - o futuro dirá - entregar aos novos leitores o mesmo carinho e atenção que essa equipe (alguns dos quais ainda conosco) entregou-me quando menino.

Um pouco da nossa história está lá no Blog do Diarinho e quem quiser conferir fique à vontade. :))

VIDEO

sábado, 2 de outubro de 2010

De quando 'Laico' não era o marido da Laika nº2

Lá nos idos de guaraná com rolha eu havia comentado sobre as eleições de 2010. E o que mais me intriga é que, de lá pra cá, praticamente NADA mudou. Senão, vejamos:
Quesito "as pessoas ainda não sabem..."

  • que gostar de um artista ou equivalente não o torna bom político;
  • o que é atribuição do Presidente e o que é do Governador;
  • para que serve um senador;
  • a diferença entre deputado estadual e federal (ou mesmo a destes quanto aos vereadores);
  • a diferença entre protestar e ser leviano;
  • a diferença entre votar nulo ou em branco;
  • a diferença entre intenção de voto e voto real.

Como existe pouca coisa mais chata do que blog metido a ser didático, locupletemo-nos todos; não serei eu a explicar. Sigamos com o próximo quesito:
"As pessoas não imaginam..."
  • que não é pra votar em quem está ganhando e sim em quem você quer (seu candidato que tem 10% de intenções vai pra 2% e assim você não diz ao país quantos porcento dele pensam de X maneira);
  • que a política econômica é definida por lobby do FMI & companhia, independentemente de quem entrar;
  • que obra de infraestrutura, seja metrô ou transposição de rio, depende de uma grana que não temos, pois estamos atolados (sim, ainda) em dívidas - e crédito implica em mais delas;
  • que é totalmente possível indexar um aumento de 500 ou 1000% no salário mínimo - o único porém é que provocará demissões em massa; 
  • que a dita 'melhora' do país em termos de emprego e dinheiro não tem relação direta com FHC ou Lula (ao contrário do que ambos afirmam) e sim com a demanda econômica, interna e externa, que aqueceu o setor produtivo. A China quer pipoca, o fazendeiro que ia plantar acerola decide partir pro milho e contrata o Chico Bento que passa a pagar as pingas marcadas na vendinha. Todo o mundo está investindo no terceiro mundo (e a Índia vai melhor que nós nesse sentido, diga-se de passagem) simplesmente porque é mais barato, tem gente pra chuchu e leis bem 'flexíveis'. Ou seja, se seu patrão, nacional ou importado, perceber que ganha mais com especulação do que produzindo, certamente migrará sua bufunfa, seja quem for o partido da vez;
  • que política É uma guerra de interesses e que, portanto, o coerente é votar naquele que se compromete melhor com os interesses do seu setor. Assim sendo, não há do que reclamar se um faminto vai votar em bolsa-esmola, um empresário em redução impossível de impostos e um banqueiro naquele candidato ao qual emprestou alguns milhões de campanha para cobrar favor depois. Não existe abnegação na hora de reivindicar seu quinhão;
  • que, assim como mamãe prometeu um ferrorama e você ganhou um par de meia, assim como Deus prometeu o Édem e os judeus terminaram em Israel (ou pior, em Auschwitz) e assim como você prometeu que só botava a cabecinha, promessas são a bolacha cream-cracker da interação humana - as mais fáceis de quebrar e as mais baratas de se comprar;
Como imaginação é um dom biológico a ser desenvolvido desde a tenra infância (e os serelepes não gostam de sites além do Ben 10, orkut e putaria), abstenho-me de meandrar-me na tarefa.

Na sequência, comentários pessoais e em nada embasados sobre as opções (ou a falta de) disponíveis nessas eleições.

sábado, 31 de julho de 2010

Introjetando as lições - parte 1

Quando me dei conta do que se tratava, pulei fora. Só isso.

A frase, inicialmente enigmática, inicia o meu perfil no orkut, o qual mantenho porque ainda é o meio principal ou exclusivo de contato com algumas pessoas.
Estive nessa rede social virtual - seja lá o que isso significa - por uns quatro ou cinco anos, se não me engano. Aprendi umas tantas coisas e desaprendi outras mas, basicamente, o que a experiência trouxe a mim foi ensinar-me o que não fazer.
Nada inovador, muito menos exclusivo a um meio virtual: a vida é cheia de meandros onde se pode confrontar-se com a própria ingenuidade, ego e afins. Mas foi por achar que as benesses teconóligcas renovariam as relações humanas que tropecei nesse caminho.
Não renovam. Não mudam.
Valem as mesmas regras de sobrevivência do monkeygame cotidiano, nas pequenas disputas de poder, nas projeções e atuações dignas de Oscar. No mundo do impalpável, apenas evidencia-se o patético de tudo isso.
A ferramenta tinha seus encantos, é inegável. E como todo encanto é irmanado com a ilusão, aí estava o pulo do gato. A ilusão de proximidade (física e emocional), a ilusão de comunidade (comum-unidade, veja só), a ilusão de identidade virtual (como se sua alma jazesse depositada num profile)... era possível 'escolher' a fantasia preferida do dia, embalado pelo clichê do "alcance de um clique". A supervecolidade, o romper de distâncias, tudo isso talvez valesse se não fossem pessoas, com sua lentidão e imobilidade emocionais, a teclar do outro lado. Mas aí, de que valeria. certo?
Bom, não valeu mesmo assim, exceto pelo fogo-de-palha viciante e cercado por grandes promessas que tomou a grande maioria.
Ao longo da saga solitária pelos 2048 caracteres sem tags htmls - em meados de 2007, talvez - muitos anunciavam a decadência, o início do fim do orkut (eu incluso). Era como se o site, repentinamente dotado de uma 'personalidade tão sólida quanto a nossa', atingisse seu cansaço. Os arautos mais atrevidos cantavam a próxima bola da vez, o novo site a servir de palco para o espetáculo das relações humanas, enquanto o desinteresse gradativo tomava o espaço daquela sensação quase obsessiva de comunicar, comunicar, comunicar. Mas, como sempre pergunto... comunica-se o quê, afinal?
Estávamos todos errados. O crescente desgosto na boca não vinha do orkut em si. Não há como culpar o aparelho de telefone pelo telemarketing mal educado nem o carteiro pela mensagem.
Não era o orkut quem chegava ao fim. Éramos nós.

Grupos também têm começo, meio e fim, sejam bons ou ruins. Mas toda relação calcada em virtualidades - material orgânico e imerso - perece mais rápido. E perece por sequer chegar a existir. Fugaz como uma ideia dominical que dá lugar a outra antes da segunda-feira. Caracteres virtuais, caráteres virtuais, emoções virtuais e jogos sociais, como qualquer vaidade, cedem espaço tão logo novos espelhos - ou novos olhares - conjurem novas promessas. E então você larga a poesia, encara as alianças, desavenças, alfinetes e devaneios e pergunta: "Por que isso é importante?"

Lendo assim parece até discurso de criança que vomitou na Disneylândia e prometeu nunca mais voltar aos EUA, mas não é isso (ou bem isso). Na verdade não só sou grato pela oportunidade de aprender nesse espaço o que talvez aprenderia de qualquer outro modo como não desprezo, de modo algum, as pouquíssimas relações concretas e maravilhosas que surgiram dali. Talvez tivessem surgido de qualquer outro modo também, mas essa discussão não importa. "E se", "e se"... "e se" minha avó tivesse pênis ela seria meu avô. Mas não tinha.

NOT TO CLOSE
Apesar de grato por algumas surpresas pontuais, não posso sorrir e demonstrar satisfação pelo todo, porque não há nenhuma gota quando se constata que, seja da forma que for, na sala virtual ou no mundo real, humanos são humanos e seu jogos, eternos. E talvez seja melhor assim, sem sorrisos nem poesias jogadas de cima do viaduto. Talvez seja realmente o melhor modo de fixar lições. Como a de que, não importa onde esteja, você e seus velhos vícios estarão contigo. Aí incluo o mal hábito das expectativas (quando você se decepciona, VOCÊ SE decepciona).
Outra boa lição: a ONU não funciona, a OMC não funciona, as ONGs não funcionam, os partidos não funcionam; por que diabos, então, um grupelho virtual funcionaria? Não foi feito pra funcionar e dura apenas o fluxo entre uma e outra vaidade. As pessoas bem-intencionadas (que, dizem, empanturram o inferno) e mesmo as honestamente desejosas são, em sua ingênua ignorância, capazes de ferir por bem pouco. Às vezes como porcos-espinhos ensaiando um abraço, outras vezes pelo 'prazer' da guerra, pela disputa de recursos reais ou ilusórios ou apenas ciumes. Nenhum tabuleiro criado e reinventado fará diferença alguma no jogo da raça enquanto as peças forem as mesmas. E não adianta mudar de rede social, seja o Rotary ou o Facebook, porque embora perdure a impressão de que o bispo veste outra batina, ainda será um xadrez. E bispos, amiguinho, só andam na diagonal, e se apenas isso já te embrulha o estômago... bem, lá está.
Resta a penúltima, mais sublime e objetiva lição sobre redes sociais de qualquer espécie: não integrá-las.
O mais difícil, ainda assim, é aceitar a lição de não aproximar-se demais, porque tudo o que foi dito pelas páginas (e muitas vezes, fora delas) teve a consistência de um código-fonte e a verdade de um ícone de botão.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cof Cof

Isso aqui tá empoeirado (ou você entendeu que eu chamava o ex-secretário geral da ONU?).
Perdi a mão com esse blog. Perdi a mão com muita coisa e me baguncei. Não por desleixo nem por desatenção ou desinteresse. É que, às vezes.... a gente perde a mão mesmo.
Talvez fosse (seja?) só uma fase, ou talvez eu ainda me engane ao colocar-me na fase onde ainda se acha que existem 'fases'. Só não posso dizer que essas férias de mim em nome de Mim tenham sido ruins. Pelo contrário. Nesses tempos pude ouvir os ecos do mundo externo bem aqui dentro, sem a cacofonia de meus pensamentos e sempre-ter-de-dizer, e de prestar atenção até mesmo aos silêncios que não deveriam existir, mas que existem e dizem muito. Porque isso necessariamente leva à mudanças, preferencialmente àquelas das quais ninguém gosta.
Mas algumas são boas: descobri, por exemplo, que meu vício pelo cigarro é majoritariamente psicológico. Descobri também que, ao contrário do que imaginava, vícios psicológicos podem ser mais nefastos que vícios químicos. Geradores de ansiedade e minadores da força de vontade podem deixar um rastro de caos maior do que uma enfisema.
Descobri que torcer pelo futebol é como torcer pela vida: é ótimo acreditar mas eu prefiro ter certeza. E, na falta, vale entrar na brincadeira pelo mero exercício. Foi bom comentar, xingar e acompanhar tão somente porque era importante xingar e comentar, por escolha e compartilhamento. Um novo sentido pra uma faceta tão pouco explorada da minha vida, a de torcedor esportivo rodeado pela família.
E por falar em família, descobri que o que a torna tão maravilhosa é que temos de nossos parentes uma distância e um abismo tão grande quanto em relação a qualquer outra pessoa, mas nela somos compelidos a criar pontes com mais verdade uma vez que nos damos conta do que Família pode significar. Mesmo que seja apenas um horizonte.
Estar só e acompanhado simultanemanente é surpresa constante mesmo em quem já viveu demais (o que não é o meu caso). Você se pega cercado de pessoas que estão e não estão - logo, na mesma condição sua. Mas estarem ali, ainda que pela metade, ainda que só no possível, faz toda a diferença. Para além das comodidades, para além da complicidade de interesses pragmáticos e demais motivos nunca-suficientes para justificar que, sim, meramente nos cercamos uns dos outros, como porcos-espinhos buscando um abraço... bem cuidadoso.
Meu estômago, operado após cerca de 10 anos de tratamentos não-invasivos, foi invadido élo bisturi e mostrou-se mais guerreiro do que pensei. Mas tudo bem, nada demais, pensamos sempre em tosca medida quando tentamos avaliar quão frágeis e fortes realmente somos. E se eu erro na avaliação de uma bolsa de alimentos e ácidos, que dirá dessa máquina de sonhos - e avaliações falhas - que teima em escrever num blog de mão perdida...

domingo, 9 de maio de 2010

Ironias da ciência - parte XL

(ou "Porque eu adoro morder a língua")


Você que se importa somente com o que faz diferença na sua vida pode não ter notado, mas uma recente notícia fez alguma na minha. Segundo os dados preliminares de uma recente pesquisa, os europeus e asiáticos têm partes de DNA Neanderthal (entre 3 e 4%). Tal informação vem do mapeamento genético (se não me engano, de 2/3 até o momento) dos Neanderthais (basicamente, os Bussundas das cavernas), primos primatas extremamente próximos a nós (e, como você vai ver - se interessar - mais próximos do que se pensava).
Tá. O que isso importa?

Bom, primeiro e mais importante: devo 50% de cerveja pro Marião, meu amigo romântico que ainda crê na humanidade. Devo porque sempre discutimos muito sobre esse tema nos nossos "exercícios de papo furado" (como talvez dissesse Samuel Klein).
Mario queria acreditar que havíamos cruzado com os primos, que algo deles viveria em nós (ele sempre simpatizou com as primas, afinal). Já eu sempre achei que não passávamos de descendentes de assassinos puramente sapiens, e que entre nossas vítimas estariam esses mesmos primos Neanderthais. Por que? Ora, um mix de pragmatismo de empirismo: se somos xenófobos com a nossa própria espécie, imagine com outra! Não vou me estender sobre o tema, é ponto-pacífico que conflitos étnicos foram o mote dos últimos séculos.
Essas eram nossas desculpas, nossa manta lógica sobre nossas paixões e nossas releituras para os fatos. Mas o interessante da ciência  recai bem isso: independente do que você gostaria, do que você queria acreditar ou provar pelo viés, os fatos são os fatos. Podemos distorcê-lo conforme nossa mentalidade na época, é claro, e nisso se baseiam as discussões infindáveis dos sociólogos sobre "o que é fato de fato". Ainda assim, em ciência, se 2 + 2 = 4, fóquior célfi se você queria que fosse cinco. O que é ótimo.
Tão ótimo, aliás, que o sueco chefe das pesquisas, Svante Pääbo, defendia exatamente o ponto de vista do não-cruzamento até o ano passado, ainda mais depois das pesquisas de 2007, mas não cometeu o erro clássico de prender-se à crença diante dos fatos que apurou. Esse tipo de atitude que Svante sabiamente evitou, e que infelizmente é muito mais frequente que o máximo tolerável (zero), atrapalha e muito a expansão do Entendimento, seja em qual área for.
Ponto pro Marião. Mordi a língua e pagarei os 50% de cerveja com muito prazer.

* Mas só 50%, afinal nenhum de nós estava totalmente certo: traçarmos uma parte deles não significa que não matamos a outra, ou seja, o cruzamento pode significar que além de assassinos fomos estupradores! As pesquisas são preliminares e "afirmação categórica e definitiva" não é algo que exista no dicionário da ciência duradoura, mas vamos às cervejas mesmo assim.

***

Segundo, as implicações.
Entende-se, por exemplo, que europeus e asiáticos SÃO genéticamente diferentes de africanos puros. Então...
Quer apostar que num piscar de olhos grupos racistas vão aproveitar o ensejo?
Preparem-se para pérolas como essa: "se temos 96% do nosso DNA idêntico ao dos chimpanzés, mas temos entre 3 e 4% dos genes de Neanderthal (que os africanos não herdaram), então temos 4% de diferença genética dos africanos, assim como dos chimpanzés". Não seria uma novidade histórica, já que justificam seu ódio com pseudociência desde os tempos de Darwin (ou do Nietzsche e até da picareta da Madame Blavatsky).
Mas nem tudo está perdido porque, ao mesmo tempo... não é irônico que Hitler tenha defendido a pureza de uma raça formada justamente por miscigenação? É isso mesmo! Somos nós, e não os africanos, os mestiços (e com uma raça que sequer chamaríamos de humana, a julgar pelos hábitos que temos entre nós mesmos). Chupa, Führer!
Claro, ninguém vai levantar a lebre de que, se puséssemos um terno-e-gravata num Neanderthal e soltássemos no Tucuruvi, por exemplo, ele seria assaltado como um ser humano qualquer.

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O importante da história é que, independente do que as pessoas farão com os dados, cabe à ciência apresentá-los. Verdade consome-se como verdade; quem regurgita polêmica é a nossa boca. A moralidade e, mais ainda, a Ética são nossas obrigações e nenhuma mentira ou verdade oculta se justificaria apenas porque os ouvidos de alguns permanecem crus.

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Outras tantas implicações surgirão além das muitas que poderemos imaginar. Mas nenhuma tem sido, até o momento, mais divertida do que pensar no dia em que tomarei umas cervejas 50% pagas com o Marião, enquanto observaremos ruivinhas neanderthais gostosinhas pelo bar (sob o mero prisma antropológico, óffi córse).


P.S. para a patroa: Se eu chegar bêbado e disser "Hoje eu tô com a macaca!", releve.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Oh sim, im live!

Não é que este blog esteja morto, longe disso (tá, não tão longe). Mas desde o começo do ano estive imerso no incrível mundo das coisas que não avisam quando vão acontecer e que acontecem em sequência. Computador que vai pro vinagre, dinheiro que também vai pra lá pra comprar outro, cirurgia de emergência (se fosse grave eu não estaria aqui, portanto), viagens de última hora, casamento...
ops, casamento? É, pode-se dizer que sim... estou a morar com a patroa desde janeiro (comecei 2010 já adestrado!) e acertar todos os ponteiros leva tempo (se é que um dia acertam-se todos). Mudança de casa, hábitos, tralhas... ufa, cansei só de lembrar.
Esse é meu meio chantagista de convencê-los de que não vos abandonei: apenas estou de licença por tempo indeterminado e, convenhamos, absolutamente compreensível. E, enquanto eu não volto, que tal rever os melhores momentos desse blog? É, eu sei, você tem razão... então reveja os momentos menos ruins desse blog, estã cheio de postagens ali do lado direito, tudo tão simples e acessível que até vocês conseguirão!

Um abraço e não sofram, pois eu volto.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Pra encher os olhos (e a cuca)

Não sou muito de tietagem, mas o que é ótimo merece ser dito. Já comentei aqui do Gilmar e do Seri, dois tremendos profissas na arte de dar vida ao grafite e à celulose. Se você gosta de charge, caricatura e ilustração, precisar dar uma zapeada nesse blog: é o Lápis, Papel e Fernandes, página que reune alguns dos excelentes trabalhos desse profissional, que é sem dúvida um dos maiores do Brasil e do mundo.

Tá, eu sei que sou exagerado, mas você está a um clique de descobrir o quanto fui comedido no comentário acima. Luiz Carlos Fernandes, o gigante de Itabaianinha, é premiado dentro e fora do Brasil (e em premiações relevantes - não aquelas 'homenagens' de Itapipoca do Oeste, que politiqueiro adora gabar-se de ganhar).
Não fustigarei vosso saquinho desfiando o currículo gigantesco desse cara; quem se importar com isso pode conferir no próprio blog. Ao invés disso, deixarei aqui uma pequena historinha.
Sabe aquela pessoa que um dia você viu, ouviu ou conheceu o trabalho, cujo impacto foi tão grande que mudou toda a sua vida? Então, Voilà.
Desde bem pivete eu era apaixonado por desenho, ilustração, imagem, o lúdico. E aqui onde eu morava havia um suplemento infantil do jornal local que eu adorava, cheio daqueles pinta-pontos, liga-pontos e muito, mas muito desenho. Um dia o caderninho sofreu uma revolução visual e os novos desenhos pareciam saltar da página de tão vivos. Pronto. Foi a primeira vez que admirei o trabalho de alguém a tal ponto que quis saber, por mim mesmo, quem o fazia. Pra alguns foi o Maurício de Souza, pra outros o Disney; pra mim foi esse cara que, pelas mágicas da vida, décadas depois, é hoje meu vizinho de baia aqui na Redação, onde fazemos esses mesmos suplementos.
O mundo dá voltas interessantes, não é?
Eu não podia querer melhor. Onde mais eu poderia ter tantas aulas de profissionalismo, postura e humildade?

Lápis, Papel e Fernandes - clique aqui

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Se você chegou aqui via Google procurando trabalhos de cartunistas, aqui vai uma dica que dificilmente vai ler em outro lugar: o melhor de aprender com as feras não está em passar o dia falando de técnicas, concursos, materiais ou dinheiro. Isso é bobagem. Ninguém fica falando como você deve desenhar, quanto ganhou num livro tal ou "abrir las portitas de lo mercado". Não acontece.
É aprender que dinheiro, como tudo mais, é consequência do exercício de um olhar vivo e de mãos treinadas à exaustão, de confiança no seu estilo, de amor ao que se faz apesar das pressões externas. É jamais esquecer que um ilustrador é feito de suor, tinta e dignidade. E, principalmente, que ser professor de verdade é ensinar sem pretensão, é jamais se postar como um dos muitos marketeiros e mercenários com seus séquitos e esquecer que artistas não têm discípulos e sim amigos.

"Porque o desenhista desenha?
Porque desenha.
Se não desenhar, perece"

domingo, 24 de janeiro de 2010

Liberdade de expressão - parte 2

http://www.istoe.com.br/reportagens/35527_A+LIBERDADE+DE+EXPRESSAO+NA+ERA+DOS+BLOGS

A quem interessar, eis uma boa discussão calçada em bases erradas.
NUNCA HOUVE LIBERDADE. NUNCA HAVERÁ.

Um médico pode cauterizar o seu ânus, uma cadeia de fastfood pode vender-lhe baratas no pão, mas você não pode falar sobre isso porque é crime.
Acostumem-se. Vai piorar.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Pronto para 2010?

Eu não... hehehehe
Aquele ritmo preguiçoso (de sempre) anda mais forte esses dias, principalmente em relação ao dizer. A filosofia de um blog, no entanto, não admite a ideia do silêncio (traduzido de forma eficiente como "se não tem o que dizer, fique quieto" pela minha finada Vó Ana).
Não que não haja assunto pra um palpiteiro de carreira como eu. Há, e muito, em todos os ramos relevantes do dia-a-dia (e o dobro nos irrelevantes - que dão mais IBOPE).
Maaas... considerando que o ano no Brasil só começa depois do carnaval... talvez seja melhor eu respeitar a tradição! Só adianto que, entre resoluções de fim de ano que não cumprirei, entre ações que tomarei por pura pressão e por umas poucas tomadas de consciência realmente integrais, logo logo apareço com mudanças importantes (certamente para mim, talvez para alguns de vocês). O que posso adiantar é que, seis quilos mais magro e cuidando um pouco melhor da saúde do que em 2009, já sinto estímulo para cuidar de outras áreas que andavam abandonadas, como se fossem menos importantes para a minha sanidade do que dinheiro e trabalho. Arte, relacionamentos, novos sentidos para a vida... ainda que 2010 seja, por desejo e por necessidade, o meu Ano da Saúde, esses outros setores necessariamente não ficarão de fora do processo que já começou (e me admira não ter deixado pra começar numa segunda-feira, como toda boa dieta que não chega ao sábado).
Enfim, quem gostar deseje-me sorte, afinal um troll bem-cuidado é mais divertido de acompanhar que um leprechal enfermo.

***

Descobertas do mês:

a) Quer destruir um homem? Chegue, toda faceira e garbosa, e chame-o de tio.

b) É verdade que uma droga leva à outra. A geração Tamagoshi tem um novo vício: Farmville (do latim fazenda de Satã), a coqueluche do Feicibúqui.

b) Não sabe o que é Feicibúqui? Imagine um orkut from hell, onde gasta-se dinheiro real por coisas irreais, cultiva-se a visão empreendora criminal e acorda-se no meio da noite para alimentar kilobits de vacas.