sábado, 31 de julho de 2010

Introjetando as lições - parte 1

Quando me dei conta do que se tratava, pulei fora. Só isso.

A frase, inicialmente enigmática, inicia o meu perfil no orkut, o qual mantenho porque ainda é o meio principal ou exclusivo de contato com algumas pessoas.
Estive nessa rede social virtual - seja lá o que isso significa - por uns quatro ou cinco anos, se não me engano. Aprendi umas tantas coisas e desaprendi outras mas, basicamente, o que a experiência trouxe a mim foi ensinar-me o que não fazer.
Nada inovador, muito menos exclusivo a um meio virtual: a vida é cheia de meandros onde se pode confrontar-se com a própria ingenuidade, ego e afins. Mas foi por achar que as benesses teconóligcas renovariam as relações humanas que tropecei nesse caminho.
Não renovam. Não mudam.
Valem as mesmas regras de sobrevivência do monkeygame cotidiano, nas pequenas disputas de poder, nas projeções e atuações dignas de Oscar. No mundo do impalpável, apenas evidencia-se o patético de tudo isso.
A ferramenta tinha seus encantos, é inegável. E como todo encanto é irmanado com a ilusão, aí estava o pulo do gato. A ilusão de proximidade (física e emocional), a ilusão de comunidade (comum-unidade, veja só), a ilusão de identidade virtual (como se sua alma jazesse depositada num profile)... era possível 'escolher' a fantasia preferida do dia, embalado pelo clichê do "alcance de um clique". A supervecolidade, o romper de distâncias, tudo isso talvez valesse se não fossem pessoas, com sua lentidão e imobilidade emocionais, a teclar do outro lado. Mas aí, de que valeria. certo?
Bom, não valeu mesmo assim, exceto pelo fogo-de-palha viciante e cercado por grandes promessas que tomou a grande maioria.
Ao longo da saga solitária pelos 2048 caracteres sem tags htmls - em meados de 2007, talvez - muitos anunciavam a decadência, o início do fim do orkut (eu incluso). Era como se o site, repentinamente dotado de uma 'personalidade tão sólida quanto a nossa', atingisse seu cansaço. Os arautos mais atrevidos cantavam a próxima bola da vez, o novo site a servir de palco para o espetáculo das relações humanas, enquanto o desinteresse gradativo tomava o espaço daquela sensação quase obsessiva de comunicar, comunicar, comunicar. Mas, como sempre pergunto... comunica-se o quê, afinal?
Estávamos todos errados. O crescente desgosto na boca não vinha do orkut em si. Não há como culpar o aparelho de telefone pelo telemarketing mal educado nem o carteiro pela mensagem.
Não era o orkut quem chegava ao fim. Éramos nós.

Grupos também têm começo, meio e fim, sejam bons ou ruins. Mas toda relação calcada em virtualidades - material orgânico e imerso - perece mais rápido. E perece por sequer chegar a existir. Fugaz como uma ideia dominical que dá lugar a outra antes da segunda-feira. Caracteres virtuais, caráteres virtuais, emoções virtuais e jogos sociais, como qualquer vaidade, cedem espaço tão logo novos espelhos - ou novos olhares - conjurem novas promessas. E então você larga a poesia, encara as alianças, desavenças, alfinetes e devaneios e pergunta: "Por que isso é importante?"

Lendo assim parece até discurso de criança que vomitou na Disneylândia e prometeu nunca mais voltar aos EUA, mas não é isso (ou bem isso). Na verdade não só sou grato pela oportunidade de aprender nesse espaço o que talvez aprenderia de qualquer outro modo como não desprezo, de modo algum, as pouquíssimas relações concretas e maravilhosas que surgiram dali. Talvez tivessem surgido de qualquer outro modo também, mas essa discussão não importa. "E se", "e se"... "e se" minha avó tivesse pênis ela seria meu avô. Mas não tinha.

NOT TO CLOSE
Apesar de grato por algumas surpresas pontuais, não posso sorrir e demonstrar satisfação pelo todo, porque não há nenhuma gota quando se constata que, seja da forma que for, na sala virtual ou no mundo real, humanos são humanos e seu jogos, eternos. E talvez seja melhor assim, sem sorrisos nem poesias jogadas de cima do viaduto. Talvez seja realmente o melhor modo de fixar lições. Como a de que, não importa onde esteja, você e seus velhos vícios estarão contigo. Aí incluo o mal hábito das expectativas (quando você se decepciona, VOCÊ SE decepciona).
Outra boa lição: a ONU não funciona, a OMC não funciona, as ONGs não funcionam, os partidos não funcionam; por que diabos, então, um grupelho virtual funcionaria? Não foi feito pra funcionar e dura apenas o fluxo entre uma e outra vaidade. As pessoas bem-intencionadas (que, dizem, empanturram o inferno) e mesmo as honestamente desejosas são, em sua ingênua ignorância, capazes de ferir por bem pouco. Às vezes como porcos-espinhos ensaiando um abraço, outras vezes pelo 'prazer' da guerra, pela disputa de recursos reais ou ilusórios ou apenas ciumes. Nenhum tabuleiro criado e reinventado fará diferença alguma no jogo da raça enquanto as peças forem as mesmas. E não adianta mudar de rede social, seja o Rotary ou o Facebook, porque embora perdure a impressão de que o bispo veste outra batina, ainda será um xadrez. E bispos, amiguinho, só andam na diagonal, e se apenas isso já te embrulha o estômago... bem, lá está.
Resta a penúltima, mais sublime e objetiva lição sobre redes sociais de qualquer espécie: não integrá-las.
O mais difícil, ainda assim, é aceitar a lição de não aproximar-se demais, porque tudo o que foi dito pelas páginas (e muitas vezes, fora delas) teve a consistência de um código-fonte e a verdade de um ícone de botão.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cof Cof

Isso aqui tá empoeirado (ou você entendeu que eu chamava o ex-secretário geral da ONU?).
Perdi a mão com esse blog. Perdi a mão com muita coisa e me baguncei. Não por desleixo nem por desatenção ou desinteresse. É que, às vezes.... a gente perde a mão mesmo.
Talvez fosse (seja?) só uma fase, ou talvez eu ainda me engane ao colocar-me na fase onde ainda se acha que existem 'fases'. Só não posso dizer que essas férias de mim em nome de Mim tenham sido ruins. Pelo contrário. Nesses tempos pude ouvir os ecos do mundo externo bem aqui dentro, sem a cacofonia de meus pensamentos e sempre-ter-de-dizer, e de prestar atenção até mesmo aos silêncios que não deveriam existir, mas que existem e dizem muito. Porque isso necessariamente leva à mudanças, preferencialmente àquelas das quais ninguém gosta.
Mas algumas são boas: descobri, por exemplo, que meu vício pelo cigarro é majoritariamente psicológico. Descobri também que, ao contrário do que imaginava, vícios psicológicos podem ser mais nefastos que vícios químicos. Geradores de ansiedade e minadores da força de vontade podem deixar um rastro de caos maior do que uma enfisema.
Descobri que torcer pelo futebol é como torcer pela vida: é ótimo acreditar mas eu prefiro ter certeza. E, na falta, vale entrar na brincadeira pelo mero exercício. Foi bom comentar, xingar e acompanhar tão somente porque era importante xingar e comentar, por escolha e compartilhamento. Um novo sentido pra uma faceta tão pouco explorada da minha vida, a de torcedor esportivo rodeado pela família.
E por falar em família, descobri que o que a torna tão maravilhosa é que temos de nossos parentes uma distância e um abismo tão grande quanto em relação a qualquer outra pessoa, mas nela somos compelidos a criar pontes com mais verdade uma vez que nos damos conta do que Família pode significar. Mesmo que seja apenas um horizonte.
Estar só e acompanhado simultanemanente é surpresa constante mesmo em quem já viveu demais (o que não é o meu caso). Você se pega cercado de pessoas que estão e não estão - logo, na mesma condição sua. Mas estarem ali, ainda que pela metade, ainda que só no possível, faz toda a diferença. Para além das comodidades, para além da complicidade de interesses pragmáticos e demais motivos nunca-suficientes para justificar que, sim, meramente nos cercamos uns dos outros, como porcos-espinhos buscando um abraço... bem cuidadoso.
Meu estômago, operado após cerca de 10 anos de tratamentos não-invasivos, foi invadido élo bisturi e mostrou-se mais guerreiro do que pensei. Mas tudo bem, nada demais, pensamos sempre em tosca medida quando tentamos avaliar quão frágeis e fortes realmente somos. E se eu erro na avaliação de uma bolsa de alimentos e ácidos, que dirá dessa máquina de sonhos - e avaliações falhas - que teima em escrever num blog de mão perdida...