domingo, 21 de agosto de 2011

Thunder! Thunder! Thunder! - parte 3

Olá! Aqui de volta com Thundercats.
Não reclame, que ainda tem mais uns três!
P.S.: Nerd, a @#$%! Paixão é paixão! Passei dos trinta e tô nostálgico. :D

Falando sério apesar da diletância, a Análise de Discurso demonstra que somos influenciados pela Arte bem além do que imaginamos, e uma obra como essa, tendo claramente influenciado toda uma geração, sem dúvida merece tal status. Vejamos:




D) A História
Chegamos no Melhor. O universo criado pelo trio é glorioso, repleto de referências pop como Starwars, Rei Arthur etc. Podemos encontrar também, seja de modo intencional ou inconsciente, referências históricas, míticas, semióticas e mesmo elementos das vidas dos criadores. Respeitando-se a escala, temos aí um trabalho que remete sutilmente à meticulosidade de Tolkien. Mapeável, seu mundo continha geografias, backgrounds, histórias antes da história; situações paralelas que bem poderiam protagonizar suas próprias. Regiões polares, desertos, florestas, mares, ravinas, grutas, montanhas... tinha pra todos os gostos, com habitantes próprios.
Não se engane com essa salada: é difícil pra chuchu misturar elementos tão distintos. Mesmo hoje a magia ainda é culturalmente uma antítese da tecnologia, ao menos no senso comum. Embora estejamos falando de um produto dirigido à crianças, não só desconhecíamos esse senso de produto, em virtude da idade e da época, como já tínhamos referências suficientes para separar uma coisa da outra, sendo a geração do Atari - sabíamos muito bem que toda a magia no funcionamento dos aparelhos vinha do testículo resistente do papai em suportar o emprego e pagar a conta de luz.
Portanto, conseguir uma união convincente entre o poder de apertar um botão e o de evocar um espírito era coisa rara, somente alcançada no Mainstream por George Lucas, no cinema.

O  que há de tão sedutor, afinal?
Os Thundercats renderiam uma tese de mestrado (não pior do que as mais frequentes, diga-se de passagem), pois interessam pelo são e pelo que não são:
- São jovens imaturos, caráteres em formação e talentos isolados que jamais dariam certo sem combinação de esforços. Esse apelo é especialmente presente em idade escolar e mais evidente ainda num contexto gradativamente globalizado como o nosso. He-man, você há de lembrar-se, sofria do mesmo mal que Superman: era invencível. Como identificar-se?
- Os nossos são exilados, imigrantes, gente fora de casa tentando sobreviver. Migram com eles seus piores inimigos, também falidos (um judeu novaiorquino sem dúvida criaria alguma identificação, como também o fizeram os filhos de imigrantes do Sudeste brasileiro, etc).
- Sua terra natal é irremediavelmente destruída (não importam as tentativas frustradas da fase moribunda da série, que tentaram ressuscitar o planeta: sabemos que Thundera explodiu num colapso geológico e pronto).
- Seus pais estão mortos e sua cultura depende da capacidade de reinventarem sua natureza. Apesar desse momento onde todo ufanismo absolutamente auto-centrado seria bem vindo, caem num mundo cheio de bizarrices e aceitam naturalmente a diversidade. Homens-sapos, unicórnios, robôs-ursos e amazonas gostosas (convenhamos, presenças fáceis de aceitar :D), uma grande salada cultural onde o maior estranhamento não vem da forma, mas das escolhas. A criança sabe que é bizarro mas aceita prontamente. Há algo mais nas entrelinhas do bestiário.
- Nunca fizeram servos, apenas aliados. Amigos constroem sua toca; trocam ajuda por alimentos; envolvem-se em problemas que não são seus (uma faca de dois gumes, valorizada nesse ponto do texto). Na coroação de Lion-o, por exemplo, os únicos súditos são os próprios Thundercats - todos os demais são apenas amigos, como num ritual de formatura. Ninguém de joelhos.

Falando em ritos de sagração, a ênfase no mérito: para ser rei não basta ser príncipe, tem de ter culhão. Lion-o, o moleque em corpo de homem, apesar da roupinha questionável teve de ser sangue no zóio para amadurecer. Enfrentar os piores medos e os melhores amigos não costuma fazer parte do mundinho maniqueísta dos desenhos e filmes infantis (ou mesmo adultos). A garantia de soberania não depende de hereditariedade; antes, de esforço.
Essa pequena maturidade com temas tão importantes para a faixa etária era um show à parte. Crescer não é fácl e TC não doura a pílula. Enquanto outras séries pretendiam agradar aos pais, os felinos falavam ao seu público-alvo. Sem a chatisse moralista dos finais de episódio do He-man (cuja comparação é quase inevitável para nossa geração), em TC a moral estava nas entrelinhas. Lion-o sai da cápsula criogênica que falhou e, confuso com o seu corpo adulto, crescido de repente e sem aviso, decide livrar-se da infância. A babá redundante, no entanto, recupera seu urso de pelúcia espacial recém jogado e o guarda para 'depois'. Se você era um moleque chato (pleonasmo vicioso) na pré-adolescência, louco pra nunca mais ser visto como criança e insistente no ato de negar a infância, entendeu o que a mensagem proporcionalmente sutil quis dizer (a ponto de perdoar que um homem-gato extraterrestre tivesse um ursinho Pimpão).

Temos lá os inimigos: um macacão truculento com capacete alemão (lembre-se que Ted Wolf esteve na Guerra), um inventivo abutre como cientista maluco, um lagarto gordo com a cara do Arafat (ou Churchil). E, claro, um chacal tão burro quanto covarde, que transforma o impulso de sobrevivência em oportunismo - o mais subestimado e mais interessante deles, ao meu ver.
Sua situação é praticamente a mesma dos bichanos. Já seu fracasso enquanto grupo reside em sua falácia coletiva: convivem por obrigação e sem laços afetivos, mergulhados numa disputa hierárquica interna e obtusa. Não têm identidade; seus nomes são suas naturezas. Escamoso, o lagarto, recebe um apenas para fins de distinção dos demais répteis que o obedecem. Tão obcecado pelo Poder, persegue os gatos sem motivo claro, exceto o de conquistar um poder que claramente jamais o serviria: a espada Justiceira.
A espada. Ah, a espada. Elegante e altiva como jamais sua tradução faria juz (Espada dos Presságios, em tradução livre pero mais correta). Era quase viva. Reagia ao ambiente, alertava sobre perigos e, como em todo bom desenho infantil, nunca cortou ninguém. Mas atirava, ô como atirava. Raios, relâmpagos e luzes. A Danada era pequena, mas na hora H crescia (coisa mais fálica, hein amiguinhos!?). Servia de arma, escudo e periscópio do futuro. Tinha encrustrada na base de sua lâmina nada menos que a fonte do Poder dos felinos, o Olho de Thundera. A gente não sabia sua origem, se era uma pedra preciosa, um olho mesmo, se era dura ou macia, um farolete ou o diabo-a-quatro. Mas sabia instantaneamente que ali tinha café no bule. Era poder de verdade, uma relíquia misteriosa de um tempo de fé e magia. Era o crucifixo da vovó que ficou com você para protegê-lo dos pesadelos, era o chacra na base da espinha, era a Arca da Aliança. Tão exótica que possuía valores morais: recusava-se a funcionar em mãos inimigas ou mesmo servir de instrumento para o mal. Apontada contra inocentes, travava, dava pau. Perdeu pra Escalibur (Uia!) só para não cometer a blasfêmia de destruir um símbolo de justiça. Ninguém discorda que era um personagem em si, o oitavo Thundercat, a alma de Jaga.
Por falar em Jaga... a espada era dele, um nobre e velho guerreiro que sacrificou sua aposentadoria ao levar a gataiada em segurança para a Terra (o polêmico Terceiro-mundo, que usava como nome a ordem planetária do Sistema Solar, embora parecesse às vezes que falava de um cafundó-do-Judas subdesenvolvido, abaixo do equador).
Jaga era o antigo usuário da Espada, seu defensor e portador. Ela não era como uma coroa, transmitida do Rei ao Príncipe como símbolo de nobreza secular; era, antes, um instrumento da nobreza de caráter, a força do guerreiro. Isso é importante e tentarei avaliar melhor depois. 
Jaga aparece em espírito para Lion-o, raramente aos demais e quase nunca aos inimigos. Personifica o espírito ancestral, o contato com o antigo, a quem o jovem sempre espelhará até ser ele mesmo. Evidencia aquele algo que subjaz a você, a realidade que já existia antes de seu nascimento, a consciência do Tempo na criança. Seu espírito não facilita, nunca dá a resposta pronta - o que considerávamos, lá no íntimo, uma baita sacanagem. É um tutor, um crítico e um professor, uma bússola ética que raramente intervém, senão com orientações.
Essa ênfase na avaliação e na autocrítica diferenciam-se grandemente de outra figura tão poderosa quanto paranormal: Mumm-ra, a cereja da banana-split, cuja figura por muitas vezes serviu de eixo para a história. Mumm-ra não só aponta pistas sobre o passado do terceiro-mundo (é a única ponte, em todo o desenho, com o mundo como o conhecemos, com a nossa história). Mumm-ra sugere, de uma maneira tão implicitamente sutil, que aquele mundo é o nosso. Ou melhor, era. Temos uma múmia egípcia - única referência à nossa cultura (além de Scalibur, num episódio específico), um ser desfigurado pela obsessão por Eternidade, Poder e Dominação. É ele a única sugestão, testemunha e pista de que um dia houvera homens naquela Terra. As poucas figuras humanas sobreviventes são tribais, fragmentárias ou bestificadas. Era como se a realidade em si, personificada por Mumm-ra, exigisse um retorno da civilidade, da ordem e da justiça.
Mumm-ra não admite o Fim. O que em Jaga representa sabedoria, em Mumm-ra é maquiavelismo. Um sacerdote cuja companhia se reduz a espectros; alguém que dominou um jogo anterior até reinar só e sozinho, a antítese da sabedoria imersa em uma pirâmide.

Não é exagero entender a luta entre Lion e Mumm-ra como a batalha entre a velha e a nova ordem, a renovação que revigora, os novos princípios. Nesse sentido, TC provavelmente é implicitamente um dos desenhos mais subversívos das últimas décadas.
Trololós à parte, Mumm-ra é simplesmente muito louco. Podrão, cara de menina dO Exorcista, uma kundalini negra no peito e a moradia mais macabra de todos os tempos. Sua transformação era antológica, o clímax do desenho. Já disse que Mumm-ra está para a animação assim como Darth Vader está para o cinema, mas não custa repetir. Se há uma diferença, é que Vader se redime. Mumm-ra, só morrendo. Ironia das bravas, considerando que é justamente ele quem tem vida eterna!
O enredo tem tantas outras nuances e casos pinçados que renderiam um compêndio. Mas basta para ilustrar alguns dos pontos que fizeram esta uma das melhores animações de toda a história da indústria... e da Arte.

No próximo episódio, algo mais divertido: as brechas de ThunderCats.
Não coma manga com leite e lembre-se: justiça, verdade, honra e lealdade!

Thunder! Thunder! Thunder! - parte 2

Seguindo com o Especial Thundercats que ninguém vai ler!

Aí está o segundo trunfo na minha listinha:

B) O Desenho
Precisa dizer mais? Basta ver.
Mesmo hoje, onde num fundo de quintal dispomos de softwares de primeira linha (piratas ou não), raramente vemos algo parecido.  Os traços elegantes, os planos abertos, closes,  cortes rápidos de cena e ângulos inusitados, até então em cartoons. Os efeitos de luz e transparência vindos da publicidade davam um corpo e uma consistência ao desenho que acompanhava belamente seu roteiro. Os movimentos de fumaça e explosão, dinâmicas sempre difíceis de se reproduzir em 2D, tornaram-se referência. As cores e movimentos já citados, o design arrojadíssimo para a época (que influenciou até eletrodomésticos e que bebia da fonte inaugurada por Starwars sem resvalar para o plágio), a ousadia em forçar a mão para tornar o feio, horrível. Não é à toa que Mumm-ra está para o cartoon assim como Darth Vader está para o cinema (sua transformação fazia o Esqueleto de He-man parecer um smurf).
O traço, ocidental e inovador (apesar do staff misto), jamais foi superado. Podemos encontrar ótimos trabalhos no Japão ou no 3D, mas nessa categoria... ainda aguardamos. Se você acha que exagero, pense apenas o seguinte: os caras inventaram o primeiro "tribal": o próprio logo dos TC, até hoje difícil de desenhar sem referência (ou cópia); unanimidade nas traseiras dos Chevettes e Pajeros dos trintões.
Muitos devem-se lembrar de que, infelizmente, a qualidade não se manteve. Isso merecerá um tópico em breve.


C) A Trilha Sonora
O que havia de revolucionário na equipe de Rankin-Bass era o foco numa qualidade que foi importada de outras mídias. Recursos da publicidade (a vocação original da produtora) e dos longas-metragens migraram para o cartoon em definitivo com Thundercats. Um desses fatores foi a edição de som. Os caras tiveram a moral de chamar produtores de jingles e compositores de verdade, feras como Bernard Hoffer (ganhador de um Emmy e vários Clios). Imagine: uma banda foi montada para encorpar o desenho. Músicas incidentais com instrumentos reais, vocais femininos... o tipo de preocupação que só existia no espaço publicitário e raras vezes no mundo da animação. Tão raras, aliás, que podemos enumerá-las: Walt Disney trazendo composições clássicas eruditas e sincronizadas nos anos 50 (seguido pela L. Toones, da Warner) e o cult Heavy Metal, dos anos 70. Em desenho para a TV, com produção em série, Thundercats se destaca com músicas próprias que bem podem ser ouvidas no mp3 enquanto dirigimos. Panthro, por exemplo, tinha uma trilha que acompanhava seu visual Bronx perfeitamente. A da vinheta de entrada está entre as preferidas nos celulares da galera, com seu rockinho bem casado, e mesmo em samples eletrônicos, para além das festinhas retrô.
Não é preciso ser músico para entender: a qualidade de áudio - que se estendia também aos efeitos sonoros - só é subestimada enquanto você não abaixa o volume para sentir a diferença. No Youtube é possível encontrar músicos e fãs que literalmente reconstruíram as músicas, diante da impossibilidade de recuperar o material perdido com o tempo.
Ou seja: se você ouve hoje a sua cantora pop preferida cantando no seu desenho 3D da temporada, a raíz está aqui.
Bom... música é um assunto que rende. Mas, mais que palavras... que tal ouvi-las?

D) A Dublagem
Nós no Brasil temos uma vantagem gigantesca em relação aos demais fãs. É chover no molhado dizer que temos alguns dos melhores dubladores do mundo, mesmo nos estúdios de segunda linha. Não raro superamos os originais na opinião dos próprios, inclusive. Essa arte tão subestimada felizmente encontra reconhecimento em nichos específicos, como o público de animês e mangás, que convida esses atores da voz apenas para ouvi-los. Não é necessariamente verdade que sejam os únicos admiradores, apesar de claramente serem os mais explícitos. É um passatempo adorável ver quem faz a voz do seu ator gringo preferido e do seu desenho de infância, a ponto de já ser um clichê das emissoras aparecer com isso em programas de curiosidades.
Falamos aqui do mérito de caras como Newton da Matta, dublador do Lion e responsável pela realeza em sua voz; ou o grande Silvio Navas, cuja capacidade artística em criar uma voz que ia do decrépito ao gutural para Mumm-ra jamais foi alcançada nem mesmo pelo original (que era muito bom). A voz do Snarf brasileiro de Elcio Romar, por exemplo, serviu de referência para os estúdios da América Latina, que esforçaram-se para copiar o tom.
Resumindo: temos no Brasil um timão de feras, que já não recebiam o devido respeito, e que agora ainda têm de dividir espaço com atores de Malhação e correlatos nas dublagens de primeira linha. Feras como Orlando Drummond (o Seu Piru, Scooby e Popeye), Isaac Bardavid (Esqueleto, Wolverine), Garcia Júnior (He-man) e Valdir Santana (Homer Simpson).
Em Thundercats, sua grandeza é ainda mais evidente.

Lion-O: Newton da Matta (de Bruce Willis)
Mumm-ra: Silvio Navas
Snarf: Elcio Romar (de Woody Allen)
Jaga: Garcia Neto
Tygra: Francisco Barbosa, posteriormente substituído por Ricardo Juarez
Cheetara: Carmen Sheila 
Willykat: Niso Neto (o Seu Ptolomeu da Escolinha do Prof. Raimundo, de Ferris Bueller em "Curtindo a Vida Adoidado")
Willykit: Marisa Leal (uma das vozes mais sensuais do mercado, a 'mãe' do bordão "Não é a Mamãe" da Família Dinossauro)
Escamoso: Luiz Chapeu
Simiano: Paulo Flores
Chacal: Olney Cazarré (o Corinthiano da Escolinha e... o Pica-pau!)
Abutre: Luis Feier Mota




Na próxima postagem, meu preferido: A História.
Não percam-cam-cam!

Fontes:
Youtube.com
Wikipedia.com

Thunder! Thunder! Thunder! - parte 1


Thundernerds, Ho!
Poizintão! Se você foi moleque nos anos 80 como eu, talvez tenha sido um viciado também.
Não dá nem pra dizer que é coisa de C.D.F. (Nerd, uma ova, somos latinos), o negócio pegou todo mundo e até hoje arrebanha fãs. Pra começar, porque o desenho era mesmo muito louco, insuperável. Tinha em si todos os elementos que um pivete bem nutrido do ocidente adorava: ficção, magia, tecnologia, valores heroicos e muito efeito especial (sem falar numa loira gostosa).

Você lembra da vinheta de entrada?
http://www.youtube.com/watch?v=72GFgmXhjKY


Lembro da primeira vez em que vi. Foi imediato: se mexessem no botãozão da TV, eu morderia.  A gente nunca percebe que está vivendo um momento mágico até ele passar. Aquela música, aquelas imagens pulando na cara, num almoço de domingão na casa da avó. Mas, ali, eu sabia.
Na segunda-feira não se falava outra coisa, dominou todos os pátios na hora do lanche. Aquele desenho tinha movimentos e luzes nunca vistos por mim e que nunca mais encontrei em nenhum outro. Ao menos, não nos que trouxessem consigo um enredo tão envolvente como força principal. Marcou tanto que passamos essas décadas tremendo ante a possibilidade de remakes (que agora existem) e de que Hollywood avançasse sobre ele com sua moda de adaptar quadrinhos e desenhos, etc. Bom, aconteceu, não foi tão ruim assim (exceto aos puristas) e o que importa é que o clássico continua clássico. Num primeiro momento, o original é o que interessa aqui.

TC fez escola, influenciou para além do óbvio e fisgou gerações. Na época, ou você era da patota politicamente correta do He-man e seus conselhos a la urso Smokey, ou já dava seus sinais de hardcore com a gataiada. Perdão antecipado pela generalização, mas, basicamente, quem vinha do Mickey ia pro Lorão e quem vinha do Shadow Boy e do Fantomas foi atraído pelos felinos. Por tudo isso e muito mais acredito que Thundercats merece um textão para os fãs, o qual arrisco.

 Como na maioria das coisas daquele tempo, não há muita memória para além do que trouxemos na cuca e de boatos mais ou menos fundamentados. Sem nem sonhar com o Google, o que sabíamos vinha daquele suspeito amiguinho que foi aos EUA (dando início ao hediondo efeito "Caverna do Dragão"), do que estava escrito no álbum, na revista ou em algum raríssimo especial de TV. Enfim, boataria. Hoje, é possível garimpar na web vários detalhes que passavam batidos naqueles dias, mas exige paciência. Porém, temos a sorte dos velhos coleguinhas do betamax e do VHS terem gravado muita coisa que, do contrário, estaria irremediavelmente perdida. Bendito Youtube, salve São Google e voltemos ao que interessa.

Cada um tem seus motivos para adorar a série e relembrar seu clímax.
Aqui enumero os quais considero seus principais trunfos:

A) Os criadores 

1) Ted "Tobin" Wolf.
Esse era um Cara entre os Caras. Underground demais para entrar no circuitão de desenhos caça-níqueis sem pé nem cabeça dos anos 70, e, que se saiba, de menos para fazer uma graphic novell, O velho Ted precisava de um ganha-pão que pagasse o miojo do pós-guerra sem macular sua veia criativa. Ele não era exatamente do ramo, embora tivesse tudo para ser. American dream: rriscou-se e deu no que deu. Lembre-se, estávamos em plena época Starwars (1977), com todo aquele misto de tecnologia e mística, da Guerra Fria, da Tatcher, do Reagan e do Sarney. Foi desse cara e nesse contexto que saíram os Thundercats. Veremos esses fatores influenciarem os rumos do desenho num outro momento.
Ted morreu há alguns anos, em 1999, segundo a lenda numa m* de dar gosto - em parte porque artista raramente se lembra de perguntar sobre royalties quando assina um contrato. Divertido, mas isso na verdade não procede totalmente. Ted morreu no Havaí e, pra um tiozinho de 1922 que perdeu uma perna na Guerra, tornou-se engenheiro, era inventor e criou uma pá de patentes que sustentam seus herdeiros até hoje, não foi nada mal. Sem dúvida não abocanhou a batelada de dinheiro que o Copyright lhe garantiria hoje, mas os tempos eram outros. Curtia brinquedos, sendo o inventor do primeiro gravadorzinho (K-7) para crianças. Bolar histórias para entreter os filhos fazia parte do divertimento.
Então temos um cara muito criativo que passou por maus bocados até voltar pra casa.

2) Rankin-Bass.
Você lembra da Rena do Nariz Vermelho, certo? E  dO Natal Sem Papai-Noel? E do Frosty, o boneco de neve? É, desse nem eu lembro. Tudo obra dos caras e sua pequena produtora. Foram eles que tornaram a magia possível. Anos 60, influenciados por Jim Henson (dos Muppets e Vila Sésamo, que por si merece outra postagem), trouxeram para o acetato sua tarimba com stop-motion e iluminação (daí aqueles relâmpagos e movimentos incríveis) - tudo isso sem computador, na unha, a 24 frames por segundo. A tão aclamada vinheta de abertura seria, hoje, facilmente elevada ao status de Videoclip, sendo um clássico pop-cult por excelência.
Como diretores de arte minuciosos que eram, os cabeças Arthur Hankin  e Jules Bass não mediam esforços pro negócio sair legal - às vezes, mais legal do que o orçamento permitia. Uma companhia que trabalha para outras companhias tem desses dissabores; mas os caras, apesar disso, colecionam uma enxurrada de desenhos, filmes e prêmios no currículo. Chegaram a ser grandes, com equipes no Japão e em NY, nos tempos em que desenhista trabalhava por salsicha (ou seja, nada mudou!).
Diga-se de passagem, investiram tanto que não puderam evitar o desespero de relaxar na qualidade (assunto para depois) e de cair na armadilha de tentar reinventar a roda com autoplágios como SilverHawks.
Aliás, temos aí justamente a produtora, aquela que normalmente encabeça a burocracia e lida com os marketeiros... levando um baita tombão. Essa sim se lascou pra valer. Os direitos são da Warner, que ganha muito até hoje e não repassa nada à dupla - direitos esses que pertenciam anteriormente à Telepictures Corporation (essa você lembra, né?).
A briga judicial já dura mais que o Mumm-ra.


Essas duas fontes são fundamentais para se falar de Thundercats com as devidas honras. Mais do que prestar reverência aos criadores, será possível notar o quanto dessa realidade está lá, estampada no próprio desenho.

Logo vem outro post com a continuação.
Não percam o próximo episódio, amiguinhos! 


Fontes:
http://www.youtube.com
http://www.warner.com
http://www.rankinbass.com/
http://web.archive.org/web/20061201024325/http://the.honoluluadvertiser.com/2000/Jul/04/islandlife14.html

Quem é vivo sempre perece

ou "A volta dos que não foram"

E aí?
Lôngui táime no sí!
Estive muito tempo longe do blog (como você pode notar, pela data), num ligeiro bloqueio criativo, motivado pelo ingresso ao Facebook e seu sedutor apelo de falar muito sem dizer coisa alguma. O lado bom é que ao menos mantive as reclamações e críticas costumeiras fora do blog!
Cá estou, numa dúvida dos diabos sobre como continuar esse blog. Talvez ele valha a pena em ser mantido, para além do meu apego. Reli algumas coisas que não lembrava ter escrito e ri pacas.
Você gostava? Bom... se está lendo, presumo que sim.

Li a última postagem sobre a jornada ao mundo nerd e, pensando bem... nunca saí dele (devo ser daquela subcategoria de C.D.F. que não admite ser um, ou que só não assume a alcunha porque ia mal pra burro na escola mesmo, apesar dos gostos peculiares).
Então vamos nessa. Vou lascar aqui uma enxurrada de nerdices no capricho.
Na próxima postagem, escreverei sobre desenhos animados.
Vamos destrinchar um gatinho (sem necessariamente amarrá-lo no poste)?