sábado, 1 de dezembro de 2012

Admirável Mundo Novo - Parte II

ou "Nem tão novo assim"

Acabo de ler um texto - muito legal, por sinal - e além de recomendar sua leitura quis dar meu palpite sobre o assunto do momento: a Deep Web. Então lá vem mais um texto enorme, prolixo e redundante que você não vai ler nesse blog bombante.
Vários sites do mainstream virtual já disseram o bastante sobre o tema - melhor dizendo, abriram o necessário. Acredito que algo além do já apontado seria mais do mesmo, mas há sempre dúvidas que atiçam nossa curiosidade, quase sempre estimuladas pelo sensacionalismo das páginas caça-cliques. Usuário mediano de internet, nem um pouco hacker e com parcos conhecimentos, ainda assim tive minha minúscula parcela de contato com o que se pode chamar de obscuridade da rede.
Obviamente, o que digo aqui não pretende generalizar a realidade das Deep Webs (no plural). Mergulhar numa praia não é saber a fauna dos oceanos, claro, mas você pode ao menos entender que é feita de água, tem peixes, crustáceos, correntes, plantas, pedras e sal, e que isso provavelmente vale pra maior parte dos mares.

Então, só pra irmos um pouco além dessa imagem de "inferno de Dante" pintada por alguns blogueiros e páginas, que ainda assim apontam uma parte inegável da realidade - e sem também ter qualquer pretensão de acrescentar dados concretos ao debate mas, antes, elocubrar sobre sua natureza - deixo alguns comentários pra quem não conhece absolutamente nada do tema e só ouviu dizer recentemente:


O primeiro, o de que "80% do conteúdo da internet é Deep web".
Bem... Sim e não. Isso não quer dizer que 80% da web é coisa de pedófi e canibal, nazzista e matador de aluguel. Quer dizer que a maior parte do conteúdo da web não é classificado, muito menos aberto ao público geral. Assim como as pastas compartilhadas no seu HD numa rede interna não representam a maior parte dele (a menos que você... bem... deixa pra lá, mas normalmente só se deixa aberto um punhado de pastas), muito do material da web não está colocado em sites de visitação direta e não está indexado. Você não encontra todo o conteúdo do mundo simplesmente jogando no Google, certo? Digitar "salário do fulano de tal" não vai aparecer ali, ao lado dos links do Mercado Livre. Ou seja, no meu servidor pode haver uma pasta de arquivos que ninguém encontra se não for por 'acidente', porque não há nada apontando pra lá. Pode ser uma pasta com material a ser trocado entre o cliente e o webmaster, pode ser material fechado apenas para uma intranet, etc. Esses conteúdos todos permanecem obscuros para a maioria de nós.
O Google assume que, considerando o tráfego de informação na rede, não abarca muito mais que uns vinte e poucos porcento desse material circulante. Daí o tal número, que parece bem irreal à primeira vista se considerarmos o quanto de dados todos os usuários de redes sociais jogam por dia na www, por exemplo (redes P2P de torrents, compartilhamentos, gigas de fotos por hora, vídeos, stream, músicas, etc). É muita, muita coisa mesmo e parece difícil que conteúdo secreto/discreto ultrapasse isso. Mas ultrapassa, como você pode imaginar pelos exemplos acima. Só pra ilustrar novamente, aquele vídeo de 5 gigas que você baixou no Emule é mais do que postou no seu Facebook hoje, não?
Toda página que pretende ser encontrada possui um index, nomes claros, palavras-chave para busca e afins. Elas pedem "clique em mim, eu sou isso e faço aquilo". O oposto acontece na Deep Web (e se você vir o primeiro exemplo acontecendo nela... corra que é cilada, Bino). Dizendo de forma bem básica e simploriamente, as que 'pretendem ser encontradas' apenas por aqueles que possuem os links (seja na intranet de um grupo, seja na rede mundial de computadores) dispensam o index na maioria das ve
zes, usam disfarces, firewalls ou, mais comumente, criptografia. Seu browser sequer acessa parte do material, simplesmente porque não foi feito pra você.

Assim como muito telefone não tá na lista telefônica, muito conteúdo não está classificado nos buscadores.
É isso o que dizem esses tais números oficiais, na prática. Acho que você já entendeu.

Segundo: a internet nasceu Deep Web.Eu não sei quando vocês começaram a entrar nela, mas seu começo foi bem assim. O "mundo novo" ali no título refere-se não à surpresa pelo conteúdo das matérias, mas por ser notícia tratada como recente.Pense numa poça que começa rasa e acumula água por cima. Novos rios que invadem o pedaço e encobrem tudo com seus grandes volumes. É isso. Os acréscimos vieram e obscureceram as camadas debaixo. Mas ainda estão lá - a água ainda circula pelo buraco. O novo público da taverna encobre os bebuns do balcão - ao menos até um certo horário - a ponto de parecer que o local é bem outro, mais amistoso e de conversas em voz alta - mas o balcão ainda é usado para sussurrar. Como quem vê uma grande cidade de cima e não sabe que ali na linha do trem, no centro velho, circulam com a mesma velocidade que os carros da avenida os mendigos, craqueiros e travestis.E chega de metáforas bregas; vamos à História.
A internet começou com universidades e órgãos do governo (imagino que saibam disso, mas o texto é pra leigos). Seu propósito era pra poucos, por natureza. Resumia-se a computadores ligados por modens que trocavam conteúdo específico por horas a fio (literalmente, pelo fio das conexões discadas). E-mails e páginas que só se alguém te dissesse "vá na pastal tal e procure o arquivo tal" você encontraria. Era uma rede 'íntima', por assim dizer, muito útil e ao mesmo tempo intocável na época, posto que mal havia protocolos e compatibilidades patronizadas - e parecia grego mesmo pro usuário comum (como eu e você, em nossos DOS e avançadíssimos Windows 3.11 isolados do mundo). E era isso.
Então qualquer um que já usou IRC, Astalavista (lembra?) e afins nos anos 90 já participou de algum modo da tal Web oculta (que só depois da invenção dos sites de busca - ou mesmo quando o Google era uma página tímida que perdia em uso até pro Altavista [não confunda] - passou a ser chamada Deep). Antes dos buscadores, corporações comerciais e servidores profissionais era apenas a Rede, no máximo uma 'dark web' (simplesmente porque não se sabia - ou via - onde encontrá-las). Isso lá nos tempos onde as empresas tinham um cargo para o 'enviador de e-mails' (!).
Repetindo, quem trabalhava com comunicação, fez mestrados ou doutorados provavelmente já usou bastante a tal rede paralela (que são várias - minha máquina aberta pra de um amigo já seria uma rede e os algorítmos do Google provavelmente não tomariam ciência disso).  Era esse um dos únicos meios de conseguir uma publicação científica além de pagar 1.000 Reais pra importar um livro, por exemplo.
Muita gente assustada com a tal novidade já fez parte direta ou indireta dela, inclusive quem já baixou conteúdo pirata - uma rede de torrent obviamente não é a mesma coisa que a Mariana's, mas sua natureza sim e serve para ilustrar a ideia. Era esse o propósito original da web, afinal: a troca de conteúdo digital à distância de modo discreto.
Então lembre-se: pros chineses e iranianos Wikileaks e Google são 'deep web'...


Terceiro: Sobre o anonimato.
Nós usamos canais oficiais de comunicação, páginas intuitivas, atraentes e indexadas, registradas, com domínios, url, IPs dos provedores, cookies, logs, www, http aberto, tudo bonitinho com protocolos 'universais' de acesso. É por isso que não há, por princípio, anonimato em rede social - um apertão mais sério e os sites entregam o dono de um fake com tudo o que já foi dito. Seus passos virtuais, todos, são mais ou menos rastreáveis - seja por algoritmos que selecionam por palavra-chave o melhor anúncio pra botar no seu e-mail 'gratuito', seja por profissionais e servidores do setor (hackers, polícia, empresas etc). No meu tempo isso era somente uma teoria da conspiração chamada Echelon, veja só.
Só que todo esse aparato não substituiu as outras vias dos tempos de transpiração. Por isso diz-se ser coisa de 'iniciados' - você tem de manjar como andar no beco sem deixar rastros nem chamar a atenção do trombadinha, tanto a experiência das rotinas quando a técnica. Aqueles do passado sabiam muito bem brincar com o universo das telecomunicações - tanto que fundaram empresas de software, anti-vírus e sistemas operacionais. Pisar na água sem ver o fundo é pedir pra botar o pé no ouriço.

Daí que as redes menos rastreáveis, com protocolos próprios, criptografia e afins logicamente levaram ao uso por parte de bandidos, gente louca e fulanos que têm muito a esconder (pra bem E pra mal). Não é diferente de quem vai comprar material ilegal na favela ou entra nela 'só pra sambar'. nesse sentido há uma dark web ali mesmo, ao lado do seu bairro, que por mais que vá na feira pela manhã não vai querer andar ali sozinho na noite.
Ocorre que, apesar de tudo isso que certamente existe, um canal discreto/secreto também serve pra circular informações importantes, que de outro modo seriam barradas. Wikileaks só existe por isso, afinal se um informante pode ter seu IP e e-mail rastreado ele não vai abrir a boca. Além disso a tal troca de materiais envolve direitos, pirataria e afins. Ou seja, refletindo sobre o comportamento do usuário comum de internet, nem nós estamos assim tão longe da deep web como não se trata de algo além de humanos atrás de computadores, dos piores aos melhores. Eles correm atraídos pra lá como os ratos correm pros esgotos, e podemos pensar que essa via seria melhor se fosse higienizada, urbanizada e catalogada - mas não perderia, assim, seu motivo de ser? O problema é haver sombra ou o tipo de bicho que lá se encontra? Pior, o fato da sombra ser 'virtual' aumenta o problema ou apenas se soma?
Aí entra o quarto ponto:

Lembro que nos anos 80 o FBI quebrou uma rede de snuff movies nos EUA que pegava uns 4 ou 5 estados. Tentei encontrar referências sobre o assunto numa busca não muito esforçada e não achei nada, mas o fato me marcou. Basicamente, fulanos que faziam esses filmes trocavam cópias entre si. Detalhe: sem internet, só caixas postais e fitas betamax e/ou películas de projeção. Soube-se por denúncia anônima ou pegaram um e o resto caiu, não sei ao certo. Mas era uma rede, obviamente secreta, usando os correios. Eis o sentido principal: a internet nos fez mudar parte do sentido do que é, de fato, uma rede. Então lembre-se que uma máfia é uma rede, uma gangue é uma rede, um caderno de enquete circulando pela sala de aula é uma rede e um mensaleiro que converse pela web de modo anônimo está, de certo modo, numa deep web.
É claro, repito, que um ambiente que permita maior anonimato em nível mundial atraia quem tem muito a esconder (do mesmo modo que um correio sem raio-x e pacotes invioláveis atrairia). Mas, assim como na sua agenda não tem o telefone do Cachoeira, no Google o conteúdo deles não aparece. A "novidade" das deep webs talvez seja o alcance, mas grupos de humanos ou coisas parecidas que se unem para confabular segredos são coisas bem velhas. O que choca é saber que existem esses sentimentos, impulsos e principalmente ações às escuras.
O que ainda nos choca é o grau de decadência bizarra que nossa raça pode chegar. Com ou sem internet.
Esse ainda é o grande fator e o grande perigo ali exposto, o de que existe gente - por falta de termo apropriado - capaz de fazer o impensável, para além de qualquer ética, moral ou sanidade mental.

O foco na ferramenta cria um bunda-lelê sobre o assunto a ponto de parecer que ela, por si, é responsável pela marginalidade dos frequentadores (e marginal é quem está 'na margem', como numa boca do lixo onde há traficantes e prostitutas mas também aquele cara jurado de morte por falar demais). Mas convém reforçar que nem todo mundo que se esconde é bandido - e depende sempre de Quem nos escondemos (ou você não apoia aquele blogueiro do terceiro mundo postando fatos sobr seu ditador?).
O fato é que tão logo um tabu qualquer venha a deixar de sê-lo ele sobe pra camada de cima (seja uma prostituta com carteira registrada, sejam gays que eram obrigados a se esconder em guetos e que agora podem se beijar nas ruas). De outro modo os assuntos reprimidos - com ou sem motivos justos - vão pender sempre pra osbcuridade e é apenas isso o que têm em comum.
Então devagar com o andor. Há monstros horrendos, sim, e há também quem simplesmente não pode subir à margem sem ser comido pelas gaivotas.

Quinto: O grande perigo da deep web é a falta de confiabilidade.
Claro. Não há leis, você não pode processar ninguém e quase nunca tem certeza de onde vai chegar (nenhum link é 'obrigatoriamente' o que aponta). Não é lugar para fuçadores. Muito lixo cai no seu colo, pra dizer o mínimo. Ali a programação retorna às origens: um link é algo que quando clicado leva a uma ação e nada mais;  não importa o que está escrito nele, pode te levar (ou baixar) qualquer coisa, sem garantias. Chovo no molhado ao dizer isso, pois aposto que já tiveram más experiências aqui mesmo no mainstream da internet, em blogs que ninguém visita, correntes de e-mail de péssimo gosto, vírus em sites etc.

Nada, repito, nada do que eu disse nega ou ignora que o substrato do lixo existe aos montes por lá, e que você pode esbarrar neles sem querer (como nos anos 90, onde você clicava num ok de uma página 'normal' e caía numa página fascista que enchia sua tela de pop-ups incontroláveis). Como em qualquer lugar concreto onde a polícia não entra e não há leis, é lá que você também vai encontrar a bandidagem, seus golpes, armadilhas e sistemas de segurança - vírus por todos os lados, trackers e gente que manja dessas maquininhas. Vai encontrar também todos os seus subprodutos, policiais à paisana e muita, muita sujeira a ser peneirada (SE possível). Eu disse Também - pra reforçar que há toneladas de informações importantes que seriam impossíveis por outras vias, sob holofotes. Um exército de Assanges trabalham nas profundezas apenas porque não podem ser cercados numa embaixada.
Tem coisa boa no underground - sempre teve. E devemos muito de nossa 'liberdade' atual a grupos que se esconderam de igrejas e Estados, para discutir livremente ideias ousadas como o direito à expressão. O resto (talvez a maior parte, que ofusca e choca) é não mais do que a red pill apontando o que existe aqui fora no mundo real e lá dentro das cabeças doentes.


***

Meu comentário é apenas pra aliviar o mito de algo sobrenatural por trás da internet, como se não encontrasse vários equivalentes na vida real (e desconhecidos pela maioria de nós). Para que não pintemos dragões e sereias no mapa do Pacífico, saibamos que há alguns tesouros e muitos tubarões. E para sabermos um pouquinho melhor onde pisamos, tentei somente amenizar um pouco do sensacionalismo (de certo modo bem vindo) do texto, afinal somos basicamente como nossas mães e avôs clicando em spam de enlarge-your-penis, nesse sentido (quantos e quantos vírus não peguei no astalavista? Ê laiá...). Aventurar-se nessa seara é pra poucos, que sabem se defender tanto tecnicamente quanto emocionalmente. E não me incluo neles.
Endosso que, pra grande maioria de nós, entrar nessa selva não traz mais do que precisamos aqui nas vias tradicionais - além de incidentes e desgostos. Talvez o que exista de bom ali não compense pra nós o montante de lixo humano no seu mais baixo - e inimaginável - 'nível', além de riscos como o de tomar contato, de gaiato, com material ilegal, perigoso e insano. Até você explicar que focinho de porco não é tomada, meu amigo... aquele arquivo no seu e-mail já te mandou pra delegacia.
Dito isto, a ferramenta é sim muito útil - e acredito que será muito, muito mais no futuro - e só não caiu ainda (como caiu o Megaupload) porque é praticamente impossível para qualquer autoridade intervir sem derrubar toda a internet mundial. Enquanto houver um servidor russo que dispensa cadastro, uma máquina conectada à outra ou duas pessoas cochichando num beco... haverá de tudo por aí.
Esse, afinal, é o grande efeito colateral da liberdade irrestrita: O que fazemos dela.


*Pretendo editar futuramente esse texto enorme e repetitivo. Se você chegou antes, azar seu. A internet é cheia de riscos. :D

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Admirável Mundo Novo - parte I

Falando de tecnologia com uma amiga lembrei do meu avô.
Era um aquariano curioso que sempre vinha perguntar o que eram aquelas geringonças nas nossas mãos. Adorava filmadora, ficava encantado com computadores e celulares. Eram coisas mágicas.
Mas mesmo assim sofria bastante com a tecnologia. Ele era de 1918, nasceu num tempo onde não havia nem carro nas ruas, onde a coisa mais avançada nos arredores era um moínho e luz elétrica (nas praças e olhe lá). Ao longo da sua vida tudo isso surgiu - e sem o simultâneo de ser lançado ontem e já chegar aqui; levava-se anos pra algo aportar no Brasil e ainda mais anos pra chegar em casa de pobre. Viveu uns 40, 50 anos sem geladeira nem TV.

Atilio de Marchi by Denis
Aí de repente tinha de 'agitar' a senha no banco pra sacar a aposentadoria. Alugava as moças do atendimento toda vez, não sabia se era pra tocar na tela ou no teclado etc.
Pra ele não fazia sentido o lance dos botões, ele que veio de um mundo analógico não conseguia captar o princípio disso. Se um telégrafo já exigia abstração demais... Um controle remoto sem fios era tão absurdo quanto o sol, aquela coisa que voa sem estar pendurada, sem cabos, sem asa. Como ele poderia entender que aquilo em sua mão era uma 'lanterna' com uma luz que ele não via e que transmitia a ordem pra TV? Como cabiam mil músicas num CD menor que um LP de vinil? Havia um anão contando as notas no caixa eletrônico? E aquele dinheiro com Durex que ele depositou? Onde estava?
Claro, perdoável.

Mas... somos tão diferentes assim?

Aceitar novas tecnologias exige algum envolvimento (e esforço). Maior pra uns, menor pra outros, mas sempre ligado à flexibilidade. E quando algo revoluciona o próprio princípio (como no exemplo analógico/digital), é ainda mais difícil. Independente de sua cultura, quem engole prontamente um novo paradigma?
Eu cresci com games 2D. Havia um caminho traçado, você ia pra frente no Enduro ou ia da esquerda pra direita com o SuperMario. De repente há jogos onde você pode ir pra qualquer lado, onde o local do tesouro não tem um X em cima, onde a alavanca que abre a porta está atrás de um tijolo.
Confesso, eu passo mal, fico tonto e perdido por horas numa sala fuçando em cada gaveta... :D

Chegará o dia em que estranharemos até mesmo as pessoas e seus novos modos de pensar (o que não é necessariamente ruim, senão e talvez para nós)? Onde, assim como o brinco no neto e a tatuagem na neta, nos surpreenderemos com aquele sobrinho que mandou tirar o braço pra implantar um membro ciborgue da moda?

Não sei. É provável, mas não sei. Só sei que o mundo gira, em 4D com efeitos especiais, desde sempre. E ficar pra trás não é opcional.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Serra Fighter II



P.S.: Só não sei quem é o barbudo de vermelho com um dedo a menos.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Fox in my home

"Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras. Mas, se criarmos laços, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo"
A. Saint Exupéry




Sempre fui um bunda mole com bicho, desde criança. Daqueles que salvam mosquitinhos no box pra não se afogarem com o chuveiro ligado, sabe? Bem desses. E é assim, com corações moles, que boas histórias começam. Aquelas raras, tão boas de contar quanto de viver. 
Ainda me lembro do começo de tarde chuvosa que nos trouxe até aqui, um intervalo no aguaceiro daquele janeiro. Voltava da padaria com meu amigo Claudio (e amizade é sempre a tônica do que importa na vida) pela escura rua de sua casa quando vi aqueles passinhos tímidos, cabeça baixa e olhar perdido na minha direção.
Era uma raposinha. Uma daquelas que você bate os olhos e sem conferir os documentos já sabe que é fêmea. Trocamos olhares e ela veio, com uma certeza que só criança e bicho podem ter. Agachei-me e troquei com ela o primeiro dos muitos carinhos no fim da coluna que tanto adorava. Tá com fome? Quer um pedaço de pão? Pão é mancada, né, mas não tenho um bife aqui. Tá, ok, agora... vai.

Eu estava na idade onde começamos a endurecer. Não pela fibra adulta de quem faz o que precisa ser feito, mas pelo desejo de parecer sólido. Pensei naqueles olhinhos ali, tão imensamente meigos quanto eram grandes os motivos para não levar mais um cachorro pra casa. Pensei, pensei, pensei em tudo isso enquanto ela caminhava ao nosso lado. Entramos. Ficou para fora. Por trinta segundos. Enfiou-se pelo portão, atravessou a grade e pronto, novamente grudada em mim. Estava definido. Ponderei por longos e importantes vinte segundos que ela teria uma nova casa. Provisória, claro, afinal podia ter se perdido e alguém bem deveria estar bem triste com a ausência de um bichinho tão doce, tão lindo e tão fundamentalmente meu. Meu.
Telefone. Oi, mãe. Vou levar uma menina pra você conhecer amanhã. Você vai adorar. Desconfiança, beijo, tchau.
Tentamos dormir. Tentamos. A raposinha pulava, chorava e arranhava a porta do quintal tentando entrar. Maldita hora, coisa e tal. A gente sempre diz isso das malditas horas que deixam saudade.
Dia seguinte, vou pra casa e minha mãe me recebe com a menina no colo. Não, não quero, desse jeito vamos ter de sair pra caber mais um bicho aqui, não dá pra trazer todo cachorrinho que a gente vê na rua e ela é tão linda, será que está com fome? Olha, bebeu todo o leite, nossa que fedida, está com pulga, vou dar um banhinho nela e preparar a caminha. E foram 16 anos de banhos. 16 anos de leite.

Jamais responderam os cartazes no bairro. "Raposinha encontrada" não merecia mesmo resposta porque não era verdade. Correto seria "Raposinha reencontrada, finalmente está com a família, Fiquem tranquilos".

Batizada como Siouxie, um nome difícil dado por um teen curtidor de gothmusic para complicar a vida dos parentes. Siouxie, vulga Xuxinha, Chípis e o que mais meus avós conseguissem chamar. Ela vinha, sempre vinha. Descobrimos no veterinário que tinha aproximadamente quatro meses. Conviveu com Apolo, meu primeiro viralata, cujo nome era irônico demais para um cão mais feio que bater na mãe por causa da janta. Chegaram a cruzar numa escada nada romântica, mas foi efêmero: ele morreu pouco depois e veio Scooby (um nome originalíssimo para coroar o fracasso de minha iniciativa roqueira versus o talento do meu pai para apelidar qualquer coisa). Scooby (ex-Bowie e então "Cube") foi deixado ainda filhote por alguém (que provavelmente sabia o naipe dos corações-de-manteiga que ali moram) na garagem de casa e foi rapidamente adotado por Siouxie. E tanta era sua vocação de Oxum que com ele, tempos depois, teve cinco filhotes nascidos em casa. Tornava-se mãe enquanto minha mãe tornava-se avó (e parteira com amplo know-how). Essa mesma Siouxie, mãe de filhotes lindos que foram logo adotados, tornou-se avó de oito por uma das duas filhas que ficaram conosco. E assim formou-se a matilha que adotou meus pais. Um macho, quatro fêmeas e uma raposa, a matriarca, status que ela sabia usufruir.


Com as filhas
Matilha reunida
Siouxie era libriana, assim coquete, meiga, manhosa. Um tanto elitista, fresquinha até, desfilava pela casa com o rabão desfraldado. Completa e irremediavelmente grudada em minha (nossa?) mãe, de quando chegava até a hora de sair. Acompanhava no quarto, na cozinha, no banheiro. Aos poucos passou a dormir dentro de casa, depois no quarto em sua almofadinha VIP. Adepta da etiqueta, aprendeu sozinha a urinar no jornal. Visitava brevemente os parentes no quintal e retornava pra dentro, pra Sua casa, onde vivem as pessoas (como ela), numa rotina apenas quebrada pelos 'ões'. Rojões e trovões, como aqueles que tornavam todo Ano Novo um pesadelo, como aqueles que provavelmente fizeram com que fugisse de sua casa original num janeiro chuvoso, como aqueles que fizeram com que fugisse da nossa casa também, num descuido.

Foram semanas procurando nas ruas, pelas guias. Não esperava encontrá-la viva, afinal. Uma bobinha que parava atrás do carro quando estávamos de saída certamente não sobreviveria à avenida agitada onde morávamos. Procurávamos pelo corpo, em rondas noturnas de um lado ao outro dos bairros de cá da Avenida dos Estados (para os lados do centro sequer pensamos em ir; sobreviver a seis pistas de trânsito não parecia realista) até rarearmos as buscas. Papéis pelo bairro, alarmes falsos e esperanças minguantes.
Um dia Claudio, aquele Claudio, ligou-me no trabalho. Estava no tróleibus e viu um cachorro parecido com ela, lá na Pereira Barreto. Do outro lado da cidade. Quase em São Bernardo. Tá. Tá bom.
Pulga atrás da orelha. E se? Vamos lá. Cheguei naquela mesma rua onde a encontrei um dia. Deixa o carro aí, Denis. Onde eu vi é logo ali. Fomos até o local e já na esquina vejo uma raposa com um lenço no pescoço. Pulguenta e suja mas ainda cheia de pose ela correu pra mim, rabinho ligado no 220V.


Living la VidaLoka
Três meses depois de sumir ela estava de volta. Sã e salva. Três meses de vidaloka nas ruas. Chegara duas semanas antes no posto de gasolina onde a encontramos depois e prontamente adotada pelos frentistas. Ali confraternizara com os demais condomínios de pulgas e compartilhara com eles os restos de marmita dos seus novos anjos-da-guarda.
Foi uma negociação difícil. Os frentistas aceitaram, disfarçaram o choro e despediram-se. Entendo bem o que sentiram. Dei-lhes um engradado de Itaipava e uma foto dela dias depois. Antes disso, porém, eu tinha um outro coração pra aplacar.
Oi mãe, vou passar aí no seu trabalho... preciso te mostrar uma coisa.
Minha avó havia morrido pouquíssimos meses antes e, para minha mãe, a sensação negativa pairava sob qualquer notícia, por antecipação. A sensação durou até chegar ao portão. Cheia de lágrimas veio correndo até o carro e mal esperou que eu abrisse a porta. Pela janela enchia de beijos sua raposinha re-reencontrada. Ironia das grandes achá-la a poucos metros de onde nos vimos pela primeira vez. Poucas vezes fiquei tão orgulhoso de nós todos e ou tão grato ao Claudio.
Amizade é mesmo a tônica do que importa na vida.

Tempos depois a raposa fugiu novamente, pelo mesmo trovão que a fez arriscar-se anteriormente o pulo de um muro alto. Reencontrei-a novamente, dessa vez no próprio bairro. Vivinha. Não sabia mais se era um cão, uma raposa ou o Highlander.
Em maio, pós-cirurgia aos 16 anos
Felizmente foi a última vez. Era isso, chega de vida boêmia. Siouxie aposentara-se com uma vida pacata ao lado dos netos e das filhas, as quais lambia as orelhas até semanas atrás, como se ainda fossem filhotes.

Recompôs-se bem, a ponto de saltitar pelo corredor naquelas semanas pós-cirurgia de extração do câncer, onde foi castrada e mastectomisada, numa incrível recuperação para quem tinha 16 anos, catarata, boca semi-banguela e um bom saldo de histórias pra contar.
Última foto - 15h00 de hoje.
Vinte dias atrás adoeceu. As patas traseiras e o rabão vermelho de ponta branca já não se moviam. Quinze dias de medicação sem melhora e hoje, no veterinário, pensávamos em qual das tristes decisões teríamos de tomar quando, às 15h30, Siouxie deu seu último suspiro nos braços de minha mãe.
Junto de nossa mãe.
Por si. Por nós.

Só perde quem teve. Só deixa saudade o que vale a pena.
Obrigado pela enorme perda, minha raposa.
Obrigado pelos Amores, pelos filhos, pelas histórias.

Você é a única responsável por tudo o que cativou.
Uma honra ter você na memória. E no coração.

Adeus, irmã querida.



Set/1996 - 13/Set/2012 (15h30)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Facebook





"Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas.
Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia…”


Friedrich Nietzsche


Nos mal entendidos, o Mau entendido.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Bom dia, Fevereiro

Que bom que você chegou. Tenho umas boas pra contar sobre seu irmão mais velho.
Ele me derrubou, sabia?
É, derrubou. Assim, na covardia.

Entrei como que convidado; havia pompa nos olhos do malandro. Apontou para o cabide, pediu meu paletó, meu chapéu e minha bolsa. Suspirei sorridente com as boas vindas e... pumba. Acordei no chão. É tudo o que lembro. Nem vi de onde veio a rasteira, tomei o primeiro piau na orelha e tudo apagou. Só vi relance, pancada, barulho de soco de filme B.

Você há de entender, aí em pé sem estender-me a mão, essa minha cara desconfiada. Ressabiado - apenas um tantinho - com a sua família. Não quero julgar o caráter da Casa por apenas um filho, mas olha... tem algo no seu olhar que me lembra vagamente aquele cara. Seus rostos têm algo de familiar - se me perdoa o trocadilho. Não são vocês Aquele Ano?

Ah, seu irmão. Tenho de me queixar com alguém!
Vocês dois não dormem no mesmo beliche, dormem?
Que seja. Você não tem nada com isso. Só não me ofereça chá com bolachas, que o último rega-bofe foi vinagre para a minha gastrite.

Ei, eu não sou ingrato! Sei que ao menos deixaram-me entrar. Deixa que eu explique minha visita enquanto me levanto por mim. Não precisa estender a mão, deixe-as aí nos bolsos mesmo.
O que? Não! Não me peça você, todo festeiro, pra te acompanhar na folia: o Pierrot esgarçou e as sapatilhas furaram no mês passado. Estou sem roupa e sem fantasia.
Se não for pedir muito, não me anuncie - sem alarde! Mantenham a rotina como se eu não estivesse aqui (a casa é sua!). Só espero que você não me deixe aqui na soleira, contando com seus dias a menos (você tinha de ser bissexto, rapaz?). Deixa-me sentado até que chegue aquele domingo onde o menino encena sair da cova, como que por milagre. Um bom anfitrião permitiria-me cochilar na poltrona e sonhar, sem dizer-me que aquele domingo virá sete dias depois do primeiro, nem ressaltar que sete é conta de mentiroso, sabe? Deixa-me sentado. É cedo mas estou cansado.
Quero poder dedicar-me ao ócio do seu sofá sem pensar no cansaço de todo esse trabalho. Quero saber se chego até maio, no dia que é 1 (um, unzinho só, como eu aqui no seu sofá). Estarei em férias - não de vocês, claro. Ao menos poderei concentrar-me nesses dias um todos. Nesse trabalho. Esse mesmo, de resistir até junho. Que João não acenda nenhuma fogueira e apenas me cubra se eu resonar. Janeiro levou meu isqueiro no paletó.

Preocupa-me Julho e seus dias frios. Venta forte. A casa é toda cheia de frestas e você não há de incomodar-se caso, lá na frente, eu embrenhe por entre essas brechas. Estou acostumado com toda essa fartura de sobras entre os sofás, os carpetes e as trincas no chão. Não precisa fazer sala. Diga ao seu irmão do meio que estarei bem - ou sobrevivendo -, com as sobras dos aniversários. Não se preocupe! Não bato palmas, fico em silêncio! Passa longe com os brigadeiros, não posso com olho-de-sogra. Deixe-me sem o chapeuzinho, o que eu gostava seu irmão levou também e só uso os pontudos na escola.

Eu sei que Agosto não me deixará em paz. Ele nunca deixou, não há de ser agora. Virá mordendo, com a boca espumando, derrubando aviões e lembranças. Mas ele é honesto, você sabe - não promete nada além do que é. Conforta-me sua verdade, sua vaidade e seus dentes brilhantes. A boca escancarada parece até que sorri pra mim!

Se o próximo quiser que eu relaxe, deverá congelar-se no dia 7 e por ali permanecer. Assim, numa Parada. Não é à toa o nome: só me importa o seu 7 e, sendo o nono, ainda assim o chamo pelo apelido de infância.

Esqueça a conversa enfadonha. Antes que você me expulse, saiba que quero apenas esperar pelos três caçulas.
Décimo, como uma criança de 12 anos, sorri para mim com malícia e timidez. Já não é mais um bebê, acha-se adulto e ostenta seu buço. É irritante, adolescente, mas promete uma vida adulta depois desse desastre nos ossos. Dor de crescimento. Que não traga bolo, não quero, tomei demais.
Que me entregue adiante e me leve ao velório de Novembro, onde poderei finalmente deitar esse luto. Ficarei quietinho na cadeira dos fundos. Mais um não há de atrapalhar um onze, e se quiser conto piadas na madrugada (fiquei craque em adormecer senhoras e crianças). Passarei a noite e sairei pela manhã, sem cerimônia.
Assim, às 12 horas e com as costas livres, poderei entrar mais limpo no quarto onde dorme o bebê, aquele que anuncia que o fim vem chegando regado à comida, rojões e saudade.
Porque passo esse ano a espera dele. Porque vim só para vê-lo.
Porque vim só.

Mudei de ideia: já que estou aqui, convide-me para um café.
Afinal, a boca está seca e, na Avenida Amara nº 2012, eu entrei por Engano.

Reborn

O tempo passando e eu me pergunto se não é hora de trazer sustança a esse canapé de bobagens.
Esse blog moribundo merece renascer?
Não sei. Mas vai.
Em breve, novas bobagens.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Incrível

Rainha - Pq vc disse que eu sou incrível?

plebeu - Porque você é. Sempre foi. Simples assim. Grandiosa. Sei que não se vê assim, mas É.
Eu ainda tenho um longo caminho, maior do que eu esperava. vejo você, o modo como está crescendo, se recuperando... e, puxa! É admirável... Posso sentir como está energizada, mais confiante.
 

Rainha - Olha, a única coisa que precisa pra chegar nisso é disposição. Só consegui me reerguer quando resolvi que queria... Quando vi que precisava e que ninguém mais podia fazer isso por mim, por mais que tentasse ou me amasse. Essa manga eu tinha que chupar... É só isso que vc precisa. 

plebeu - Ah se fosse "só" isso...

Rainha - Qualquer pessoa pode conseguir, ainda mais uma pessoa especial como vc. Vc é muito consciente, do mundo e de si. Usa essa consciência, não se deixe enganar pela tua inteligência...

plebeu - Consciência? Me falta muito pra te alcançar. Fazer jus.

Rainha - Olhe bem pro que precisa de cuidado, com honestidade, encara tudo. Pode doer, mas é o melhor jeito. Seja honesto com vc, aceite que as tuas falhas são tuas, mas não te fazem menor. Todo mundo tem. E todo mundo pode acertá-las. Vc tbm. Olha pra tudo, não esconda nada de vc. Por pior que seja um sentimento seu, uma situação vivida, conta tudo.

plebeu - ...

Rainha - Eu descobri que coisas que eu achava horríveis em mim, ou que eu fiz, ou me aconteceram, são coisas comuns, Normais, aceitáveis... Quem via o feio era eu... Então seja honesto, não esconda a cabeça na areia sobre coisas que vc já sabe. E abra bem os olhos pra descobrir outras. Se tiver de se reformular inteiro, rever seus conceitos, jogar todos fora, faça. Não é vergonha nehuma! se mudar de crenças, mude. E se assuma com as novas... O importante é vc sair inteiro de tudo isso. Se sentir bem, se libertar. Comigo tá funcionando... Eu estou sim, muito bem. Ainda tenho um pouco de medo do futuro, mas sei que é normal. Não sinto mais desespero... E isso me deixa muito feliz, estou mais tranquila.

plebeu - Viu como você é incrível?

Rainha - Bom... Dói menos que ficar catatônica... Vc também dará conta super fácil. vai ver!
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Porque existem pessoas que te colocam pra cima apenas porque sempre estiveram lá.
É por isso que o tombo é tão grande quando você sai de perto delas.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sejamos francos

Pra quê complicar?
Quem não quer e pode escolher, não faz.
Não faz porque não quer.
Pode ser confusão, fragilidade, momento. Que seja.
Não muda os fatos.
Muda?
Não há porque dourar a pílula. O que não queremos não é quisto.
Vai soar como piada uma frase dessas vir justamente dos meus dedos, mas...
Às vezes a delicadeza confunde. O melhor é ser direto e reto.

O embromation é pai de coisas do tipo "O problema não é você, sou eu".

Mesmo? Então concordo. Depois dessa... sou obrigado.