quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Admirável Mundo Novo - parte I

Falando de tecnologia com uma amiga lembrei do meu avô.
Era um aquariano curioso que sempre vinha perguntar o que eram aquelas geringonças nas nossas mãos. Adorava filmadora, ficava encantado com computadores e celulares. Eram coisas mágicas.
Mas mesmo assim sofria bastante com a tecnologia. Ele era de 1918, nasceu num tempo onde não havia nem carro nas ruas, onde a coisa mais avançada nos arredores era um moínho e luz elétrica (nas praças e olhe lá). Ao longo da sua vida tudo isso surgiu - e sem o simultâneo de ser lançado ontem e já chegar aqui; levava-se anos pra algo aportar no Brasil e ainda mais anos pra chegar em casa de pobre. Viveu uns 40, 50 anos sem geladeira nem TV.

Atilio de Marchi by Denis
Aí de repente tinha de 'agitar' a senha no banco pra sacar a aposentadoria. Alugava as moças do atendimento toda vez, não sabia se era pra tocar na tela ou no teclado etc.
Pra ele não fazia sentido o lance dos botões, ele que veio de um mundo analógico não conseguia captar o princípio disso. Se um telégrafo já exigia abstração demais... Um controle remoto sem fios era tão absurdo quanto o sol, aquela coisa que voa sem estar pendurada, sem cabos, sem asa. Como ele poderia entender que aquilo em sua mão era uma 'lanterna' com uma luz que ele não via e que transmitia a ordem pra TV? Como cabiam mil músicas num CD menor que um LP de vinil? Havia um anão contando as notas no caixa eletrônico? E aquele dinheiro com Durex que ele depositou? Onde estava?
Claro, perdoável.

Mas... somos tão diferentes assim?

Aceitar novas tecnologias exige algum envolvimento (e esforço). Maior pra uns, menor pra outros, mas sempre ligado à flexibilidade. E quando algo revoluciona o próprio princípio (como no exemplo analógico/digital), é ainda mais difícil. Independente de sua cultura, quem engole prontamente um novo paradigma?
Eu cresci com games 2D. Havia um caminho traçado, você ia pra frente no Enduro ou ia da esquerda pra direita com o SuperMario. De repente há jogos onde você pode ir pra qualquer lado, onde o local do tesouro não tem um X em cima, onde a alavanca que abre a porta está atrás de um tijolo.
Confesso, eu passo mal, fico tonto e perdido por horas numa sala fuçando em cada gaveta... :D

Chegará o dia em que estranharemos até mesmo as pessoas e seus novos modos de pensar (o que não é necessariamente ruim, senão e talvez para nós)? Onde, assim como o brinco no neto e a tatuagem na neta, nos surpreenderemos com aquele sobrinho que mandou tirar o braço pra implantar um membro ciborgue da moda?

Não sei. É provável, mas não sei. Só sei que o mundo gira, em 4D com efeitos especiais, desde sempre. E ficar pra trás não é opcional.